O trabalho multidisciplinar colaborativo é apontado por muitos como a principal tendência do ensino para o futuro. Esse é um movimento que é adotado pela Universidade já há algum tempo e, nessa semana, teve mais um reconhecimento de sucesso. Um artigo acadêmico confeccionado por pesquisadores do itt Chip - Instituto Tecnológico de Semicondutores da Unisinos em conjunto com professoras e alunas de diversos níveis acadêmicos foi publicado em um dos periódicos de maior reconhecimento da área no mundo: a Scientific Reports, da revista Nature.
O artigo reúne o resultado de pesquisas que atuaram em conjunto para descrever o ciclo de fabricação, formulação, desenvolvimento, produção e aplicação de uma tinta condutiva com nanopartículas de prata. De acordo com o artigo, o produto facilita, diminui o custo e torna mais sustentável a produção de eletrônicos flexíveis, que são a próxima tendência de desenvolvimento tecnológico. “É uma tinta fluida a base de nanopartículas de prata que tem elevada condutividade elétrica e que pode ser utilizada em impressoras a jato de tinta, para imprimir qualquer tipo de funcionalidade”, explica uma das autoras do artigo, professora da Escola Politécnica e pesquisadora do itt Chip Iara Fernandes.
De acordo com o coordenador do itt Chip, Celso Peter, essa tecnologia poderá ser aplicada em dispositivos para diversas áreas, como produção de sensores impressos para a saúde, eletrodos para eletrocardiogramas, sensores microfluídicos, espectroscopia de impedância, sensores de temperatura e até mesmo para a produção de eletrônicos vestíveis.
Ambiente ideal para pesquisa e desenvolvimento
Iara explica que o artigo é resultado de pesquisas que se iniciaram a partir de um projeto desenvolvido no itt Chip, que possibilitou o investimento em uma infraestrutura laboratorial específica para o estudo de nanopartículas e tintas condutoras. “A partir desse projeto inicial, criamos e patenteamos duas formulações de tintas condutivas diferentes, uma para impressão a jato de tinta e outra para impressão por serigrafia”, conta.
A pesquisadora ressalta que não só a infraestrutura física, mas o conceito de pesquisa aplicada e interdisciplinar do instituto tecnológico foi fundamental para o trabalho. “Acho importante ressaltar que o ambiente do itt Chip agrega desde alunos da graduação, passando pelo mestrado, até pesquisadores de programas de pós-graduação, que usam o conhecimento acadêmico para atender demandas reais de empresas, transferindo, assim, o conhecimento da academia diretamente para o mercado.”
Segundo a coordenadora do curso de Engenharia de Materiais e coautora do artigo, Tatiana Rocha, o principal fator que contribuiu para o sucesso do paper foi o trabalho multidisciplinar envolvido. “Foram vários níveis de ensino superior e pesquisadores do itt Chip aliados no desenvolvimento dos resultados que proporcionaram a confecção de um artigo tão completo como esse”, comenta Tatiana. A professora diz que esse foi mais um passo em direção ao objetivo maior, que é a produção de sensores de acordo com demandas das empresas.
Participaram da autoria do artigo acadêmico: Iara Fernandes, Celso Peter e Willyan Hasenkamp, na época pesquisadores do itt Chip, Angélica Aroche, então aluna da graduação em Engenharia de Materiais, Ariadna Schuck, então aluna do PPG em Engenharia Elétrica, Paola Lamberty, então aluna da graduação em Engenharia Química e Tatiana Rocha, coordenadora da graduação em Engenharia de Materiais. Confira aqui a publicação.
Inspiração e inovação para a saúde
Como muitas vezes, acontece em ambientes de pesquisa de ponta, como o itt Chip, o processo de criação de novas tecnologias acaba gerando mais aplicabilidades do que o trabalho tinha como objetivo principal atender. Nesse caso, o instituto tornou-se especialista em trabalhar com nanopartículas e encontrou na prata um material com potencial uso na área da saúde. Iara diz que, atualmente, há estudos sobre a aplição dessas tintas condutivas para a blindagem eletromagnética e que a intenção é, em uma próxima etapa, iniciar estudos sobre a aplicação das nanopartículas de prata para a desinfecção em geral, utilizando o material como bactericida.
Outro caso inspirado pelo ambiente do instituto foi de Angélica Aroche, que desenvolveu a pesquisa para seu trabalho de conclusão depois ser bolsista em Iniciação Científica, realizando estágio e sendo contratada como funcionária do Instituto. Em sua pesquisa, ela trabalhou com um compósito polimérico utilizando nanofios de prata para a detecção do câncer de mama. Hoje egressa, Angélica diz que ser aluna de graduação e participar de um projeto de pesquisa é algo que demanda esforço, tempo, persistência e vontade de aprender, mas que os frutos dessa combinação geralmente são colhidos durante esse processo.
“Além da pesquisa e do instituto me proporcionarem crescimento profissional, eu pude colocar na prática muita teoria que eu tive em sala de aula. Em muitas situações, eu me via tendo que ter autonomia nos experimentos e em tomada de decisão, que acredito ser algo essencial na área de pesquisa e desenvolvimento. Essa autonomia me ajudou a adquirir novas habilidades, mas também a compartilhá-las com novos bolsistas que estavam ingressando no instituto, com isto eu aprendi a ensinar pessoas e a ser paciente no processo de aprendizagem delas. Além disto, eu pude ter experiência com pesquisadores e visitantes de outros países que vieram conhecer o instituto e, em muitas dessas visitas, eu tive a oportunidade de apresentar os laboratórios e alguns projetos em inglês, o que me auxiliou a desenvolver o idioma e a fazer networking”, comenta Angélica, que hoje reside nos Estados Unidos.
A infraestrutura dos institutos tecnológicos possibilita essas e muitas outras pesquisas da pós-graduação da Universidade. Confira mais informações sobre os cursos de Pós Unisinos.