Setembro de 2020
Bate-papo com Viviane Morbach sobre suas experiências como geóloga na consultoria de Meio Ambiente para mineração e outras atuações!
Geóloga Viviane Morbach, ex-aluna da UNISINOS, tem como característica à curiosidade, no qual, foi um ponto chave em sua formação. Sempre foi estimulada pelos seus familiares, contudo, o interesse em estudar Geologia veio na transição entre a infância e adolescência… quando tinha mais ou menos uns 14 anos de idade foi acampar sozinha pela primeira vez com amigos da mesma idade nas praias de Torres-RS. Foi ali, naquelas lindas formações rochosas onde nasceu seu real interesse pela área.
Hoje é geóloga da empresa HAR Engenharia e Consultoria de Meio Ambiente Ltda., onde atua com sondagens de prospecção, investigação, geotecnia, hidrogeologia e meio ambiente para mineração. Além dessa frente de trabalho profissional também é a atual Vice-Presidente da Associação dos Profissionais Sul-brasileira de Geólogos – APSG e Diretora de Eventos da Associação Brasileira de Mulheres na Geociências – ABMGeo.
Desde o início da sua graduação em Geologia você já se imaginava realizando trabalhos técnicos de campo e consultoria?
Viviane: De certa forma sim, após bolsa de iniciação científica na Unisinos, surgiu a oportunidade de estagiar na HAR e a partir dali entendi que minha prática estava intimamente ligada com essa frente de trabalho junto ao mercado. A pesquisa é muito importante, mas hoje prefiro investir minha energia aplicando e experimentando métodos além das salas de aula…. quem sabe daqui a pouco retorno para a academia em forma de mestrado…
“A pesquisa é muito importante, mas hoje prefiro investir minha energia aplicando e experimentando métodos além das salas de aula”
Como é estar à frente de consultorias ambientais no ramo da mineração no Brasil?
Viviane: A mineração é parte do desenvolvimento de civilizações e a gestão disso dentro de princípios de coexistência ao meio ambiente são os pilares para o bom desempenho socioeconômico. Apesar da atividade viver à sombra de políticas partidárias, tanto do lado pró-mineração, quanto do lado pró-meio ambiente, sinto que promover a atividade de mineração, atendendo aos requisitos ambientais, deve ser uma equação que coloque em primeiro lugar a população e seu bem estar. A matriz de impactos irá responder, caso a caso, as prioridades que deverão ser atendidas primeiro em cada situação.
O que você acha mais importante na execução de seus trabalhos de campo?
Principalmente o fato de ser trabalho executado em campo, mapeamento e prospecção… O envolvimento direto com pessoas descomplicadas e simples, ou até mesmo o silêncio da solidão, ao qual aprecio muito. Os visuais que poucos sortudos podem ter o privilégio de enxergar/avistar em lugares ou coisas bonitas da natureza. Algumas roubadas que te fazem simplificar ainda mais o cotidiano e valorizar as pessoas que são relevantes na tua vida… Parece muito romântico, mas a vida no trecho ensina a selecionar melhor tuas companhias e teu tempo investido pra isso.
Você se depara com muitas situações desafiadoras neste ramo?
Viviane: Sempre existem atividades que não tenho total domínio ou força física. Novas tecnologias, aprimoração de dados, são os itens que mais “travo” geralmente, mas é questão de se dedicar a tarefa e contar com uma equipe bem treinada e eficiente que sabe orientar à atividade. Sou da frente de trabalho que: “se não sabe, aprende!”. O medo de errar é uma ferramenta de trabalho que te faz prestar muito mais atenção nas tarefas do que quando se está seguro demais. Por isso a geologia é sem dúvida grande culpada pelo cultivo de boas amizades e boas relações, com muitas trocas de experiencias. Atividades complicadas pra uma pessoa, pode ser trivial para outra. Ainda hoje mantenho o contato direto com queridos amigos e professores do tempo de estudante e que se prolongam além da Unisinos.
“O medo de errar é uma ferramenta de trabalho que te faz prestar muito mais atenção nas tarefas do que quando se está seguro demais.”
Como você se sente sendo a atual Vice-Presidente da APSG, uma entidade que luta pela defesa dos profissionais da Geologia?
Viviane: Essa é uma frente que assumi, vindo de outra frente de trabalho junto da SBG na gestão anterior (2018-2019), onde aprendi muito sobre não depender única e exclusivamente de um patrocinador. Abrir diálogos com novos e atuais sócios-corporativos para a SBG era meu desafio para a gestão e pude trazer para a APSG questões relativas ao trato com os associados diretamente, oferta de produtos e maior engajamento quanto a interação estudantes (futuro da APS) e profissionais, que já passaram pela perrengue de ser estudante e agora lutam por mercado de trabalho com profissionais de outras áreas que insistem em atacar os atributos específicos onde apenas geólogos tem habilitação.
Ser Vice-Presidente da APSG é uma baita felicidade, principalmente por fazer parte de uma diretoria que é diferenciada tecnicamente e que luta por manter a nossa profissão viva, protegida e que dissemina geociências. Este legado forte é parte de gestões anteriores, hoje nossos mentores e apoio de experiência. Tenho expectativas positivas para a APSG nas próximas investidas de trabalho da associação e já posso adiantar que cada vez mais o profissional poderá contar com essa base de apoio.
A APSG nesta gestão promoveu, por intermédio de uma colega e amiga pessoal, o grupo de discussões técnicas “APSG Discussões”. Trata-se de um verdadeiro manancial de técnicas e conhecimentos trocados diretamente com técnicos de todo o RS. Para participar é só entrar em contato com a apsg.geologia@gmail.com ou com a diretoria. O site www.apsgeo.com.br tem as informações referente a diretoria e as últimas atividades realizadas em comemoração do aniversário de 50 anos da associação.
Tu és também a atual Diretora de Eventos da AMBGeo-Brasil… Se percebe que és uma mulher engajada, você se sente realizada em sua profissão?
Viviane: Então, tive a oportunidade de participar, mesmo enquanto diretora da SBG, da votação do estatuto e criação da ABMGeo. A partir do momento que encerrei a gestão na SBG, fui chamada para assumir o cargo na ABMGeo. O estatuto é um marco na nossa luta!
Atualmente a ABMGeo conta com 10 núcleos disseminados pelo Brasil, onde são promovidos o crescimento profissional e acadêmico, bem como, o estímulo à participação de mulheres nas geociências, a troca de informações educacionais, profissionais e técnicas entre mulheres.
São focos ainda as ações relativas à promoção de oportunidades para mulheres exercerem habilidades de liderança através das comissões regionais, ou em nível de associação como membras da diretoria da ABMGeo, assim como em comitês de trabalho, conferências e muito importante o estímulo a associação de estudantes e jovens profissionais nas geociências.
Como percebi que meu crescimento dependia unicamente de mim e das condutas adotadas enquanto profissional, percebi com o passar do tempo e a pouca experiência adquiridas, que sou respeitada pela minha equipe e pelos meus colegas de trabalho. Isso só me mostra que estou no caminho certo. Se conseguir transformar a vida de alguém com meu trabalho ou melhorar algo que não ia bem para algum lugar, já me dou por satisfeita, o caminho ainda é longo. Mas a verdadeira satisfação profissional foi ter escutado minha afilhada de 8 anos, Lívia, dizer aos pais, depois de uma imersão no universo da dinda (amostras e historinhas), que ela quer ser Geóloga… sem mais. Ela vai ser o que ela quiser e quando quiser!
Na sua opinião, qual o impacto social e econômico do trabalho geológico em mineração para a sociedade?
Viviane: O geólogo tem a capacidade de levar transformações para sociedade de forma benéfica e mensurável. É responsável por prospectar e encontrar áreas, cujos recursos são de interesse econômico, tornando o local rentável em termos de arrecadação municipal e estadual que pode refletir diretamente no PIB do país. Tal impacto pode ser sentido com a melhoria e implantação de acessos e estradas, unidades de saúde, escolas… Obviamente não depende apenas do trabalho do geólogo, mas sim, do reflexo desse serviço, principalmente quanto associado a empresas sérias e que se preocupam em dar retorno às comunidades. Isso torna o impacto social positivo.
Pessoalmente, esse impacto é um dos mais importantes, pois se os alvos de interesse econômico de alguma empresa séria levar emprego, melhorias na qualidade de vida de comunidades contempladas, já é um grande ganho pessoal saber que uma criança teve acesso a alimentação, saúde e educação de forma digna.
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