Dra. Carolina Aquino

Maio de 2021

Bate-papo com a Dra. Carolina Aquino sobre seus estudos em geologia sedimentar e os belos lugares que visitou nas suas saídas de campo!

Dra. Carol Aquino, ex-aluna da UNISINOS, revelou que a geologia entrou em sua vida totalmente por acaso. Relata que até marcar a opção (x) Geologia na inscrição do vestibular praticamente não sabia o que era Geologia.  

“Desde sempre, eu quis fazer Biologia, e eu amava a ideia de campo e de trabalhar com algo relacionado à natureza. Mas também queria entrar na faculdade o mais rápido possível (risos). Como o vestibular na minha época era bastante concorrido para o curso de Biologia… eu pensei: Vou procurar um curso relacionado à área da natureza, mas que fosse menos concorrido para entrar na Universidade, e estando lá dentro, eu poderia pedir a transferência para o curso de Biologia…. Ingenuidade minha… Depois que a geologia entra na sua vida, ela não te deixa mais… Foi amor à primeira vista… assisti a primeira aula e lá se vão quase 16 anos de muita geologia!”

Hoje, seu foco principal de pesquisa são as rochas relacionadas ao grande evento de glaciação do Paleozoico Tardio, ou seja, de mais de 300 milhões de anos atrás.  

“Você sabia que o RS, SC, PR e SP já foram cobertos por imensas massas de gelo? Difícil de imaginar, né? Na minha pesquisa eu tento entender como era esse ambiente e quais os fatores climáticos que estavam atuando naquela época. E mais recentemente, eu também comecei a trabalhar com Carbonatos da região da Patagônia Chilena e Puna na Argentina… mas esse é um tema bastante novo e desafiador para mim.” 

Que caminhos te levaram aos estudos de Sedimentologia, Estratigrafia e Evoluções de Bacias Sedimentares? 

Carol: Acho que quando a geologia me encontrou, eu encontrei a Geologia Sedimentar. Minha primeira Iniciação científica foi na área de Geologia Costeira do Quaternário e passei toda a minha graduação nessa área. Já no doutorado fui um pouco mais profundo na estratigrafia e voltei alguns milhões de anos na história da Terra.  Me encanta olhar os depósitos e imaginar como era a paisagem nesse período geológico e todas as suas mudanças ao longo do tempo. Acho que isso que me mais motivou a estudar essa área da geologia.

Qual é a emoção de olhar um afloramento e nele estar representado uma história de milhares de anos? 

Carol: Como eu falei anteriormente, eu acho incrível ser esse detetive do planeta. Poder ler algumas mensagens que a rocha está nos passando e tentar imaginar o que estava acontecendo no passado… A geologia me levou para lugares que eu nunca teria imaginado que fosse visitar, e é impossível não se emocionar com tanta beleza e história “escondida” em cada camada de rocha. Confesso que meus olhos já encheram de lágrimas em vários afloramentos…

A geologia me levou para lugares que eu nunca teria imaginado que fosse visitar, e é impossível não se emocionar com tanta beleza e história “escondida” em cada camada de rocha.


Campanha de campo no Parque Nacional de Torre del Paine (Chile), 2016. De acordo com Carol: “um dos lugares mais lindos que já tive a oportunidade de trabalhar e visitar”. 

Na gravimetria, sísmica e furos de sondagens você já “leu” algo que pensou “nossa, nunca imaginei isso”? 

Carol: Nossa, isso acontece frequentemente (risos). Acredito que ao passar dos anos com o avanço das tecnologias a gente vê cada coisa que é difícil de imaginar…. Esses dias eu assisti uma palestra sobre análise sísmica e inteligência artificial que eu achei sensacional. Resumidamente, o pesquisador pegou uma seção sísmica e transformou todos os atributos para um arquivo MIDI (interface de música digital) porque o processamento nesse formato é muito mais leve… Mas já pensou escutar uma Playlist da Bacia de Santos no seu celular? (risos)


Campo em 2019 na França (Região de Annot), onde basicamente foi utilizado somente Drone para a coleta de dados. “Com esse equipamento conseguimos chegar em locais onde tradicionalmente seria impossível de alcançar”. 

Qual foi o lugar mais “indecifrável” que já esteve realizando seus estudos? Por quê? 

Carol: Acho que o lugar mais indecifrável que eu já estudei foi a minha área de estudo do meu Doutorado. O Vale do Talacasto – San Juan/Argentina. É só dar uma olhada na foto que eu mandei para ver o porquê… é muita rocha junta, (risos)! Estamos acostumados com afloramentos super intemperizados, ou cobertos por uma floresta… e quando chega num lugar assim, não sabe nem por onde começar. Eu me lembro que demorei um pouco para pegar no tranco. Literalmente eu ficava andando por todos os cantos sem saber o que eu estava procurando… Mas depois de muitas campanhas de campo (foram uma média de 2 campanhas por ano durante 4 anos… ooo saudades!) acho que consegui pelo menos ter alguma ideia do que estava acontecendo por ali… mas decifrá-lo por completo é impossível, porque quanto mais a gente estuda, mais questões se formulam na nossa cabeça!


Vale do Talacasto (San Juan Argentina) que era “uma verdadeira charada a se resolver”.

Já ocorreu alguma situação engraçada ou que te proporcionou uma “aventura daquelas” em campo? 

Carol: O que mais tem é situação engraçada em campo, que fica difícil elencar qual foi a melhor (risos). Quem nunca fugiu de vaca nos pampas gaúchos? Ou furou o pneu da camionete nos lugares mais estranhos? Ou foi pular aquela drenagem e ficou com o pé molhado todo o resto do campo? Tem uma situação que agora contando é super engraçada, mas na hora posso dizer que o coração bateu mais rápido e a adrenalina correu solta no corpo. Na minha última campanha de campo no Parque Nacional de Torre del Paine (Patagônia Chilena) tivemos um encontro muito rápido com um habitante local! Por se tratar de um lugar selvagem e protegido, a gente sempre imaginava que em alguma esquina da trilha ou que em alguma caverna entre as rochas a gente iria dar de cara com um Puma… Mas nunca passou pela cabeça que numa área aberta teríamos esse encontro. Foi lindo e assustador! No final de um dia de campo, estávamos voltando para o acampamento, e na metade do caminho, passamos por um lugar super descampado com uma única pedra no caminho (um bloco de quase dois metros de tamanho), e não é que quando passamos por essa pedra, brota um Puma de trás??? O bicho saltou, parou, olhou, e deu mais três pulos e desapareceu… A primeira pessoa da fila não viu o Puma… só a gente que estava atrás. Acho que ficamos parados por alguns minutos de boca aberta sem acreditar no que tinha se passado… Resumindo, depois desse encontro nunca mais andamos separados… no dia, parecíamos um bando de Guanacos agrupados voltando pra casa (risos).

O que você mais se orgulhou de realizar até agora em sua carreira? 

Carol: Me tornar professora! Adoro poder compartilhar e aprender com meus alunos e orientados. Isso me motiva a sempre buscar coisas novas!

Na sua opinião, qual é a importância do profissional em geologia para o mundo? 

Carol: Acho que todo mundo deveria ter alguma noção básica de geologia… conhecer um pouquinho o chão que estamos pisando é essencial além de ser super interessante. A geologia é a base para muitas áreas. Ela que dá suporte para a construção civil, tanto na oferta de material quanto para o planejamento das obras. Além, claro, a geologia também é a base de grande parte da matriz energética do mundo. Meio ambiente, estudos forenses, agricultura, também são outros exemplos de áreas fortemente ligadas à geologia.

Gostou do nosso bate-papo? Nos siga nas redes sociais! 

@mhgeounisinos no Facebook

@mhgeounisinos no Instagram