Somos professores e estamos aprendendo
Tenho visto uma série de publicações relacionadas a como será o pós-pandemia.
A grande maioria delas com muito valor e apresentando cenários possíveis e tendências, especialmente na área de educação.
Embora este olhar seja bastante importante, acredito que neste momento precisamos olhar para o presente, e aprender.
Precisamos viver cada momento e entender como as restrições ou mudanças impostas pelo cenário de pandemia tem modificado nossa forma de ensinar, aprender e de interagir. Como educadores, me parece que esse é o nosso grande papel. A cada semana eu interajo com pelo menos 3 turmas de graduação e pós-graduação, além de acompanhar de perto a experiência de minha filha, aluna do ensino médio. A cada aula, a cada momento, os alunos nos dão muita informação sobre como estão se sentindo, o que faz sentido para eles, e como os mesmos aprendem nesse ambiente.
Fica claro que uma hora de aula expositiva apenas com minha voz e imagem não funciona. Mas será que funcionava no ambiente presencial? Fica evidente a importância da conexão entre a teoria e exemplos práticos, relacionados ao dia a dia dos alunos. Momentos de maior descontração, ou mesmo de emoção do professor ou de algum aluno reforçam a conexão entre todos e mostram que o que importa é nossa humanidade. Estou percebendo, a cada dia que passa, que a distância está nos aproximando das questões mais fundamentais: perguntar como o outro está, como se sente, demonstrar preocupação e tentar sempre engajar. Será que antes dessa pandemia agíamos assim? Eu, particularmente, estou aprendendo muito, e acredito que o desenvolvimento de uma relação de confiança entre todos na sala de aula é o ponto central para a aprendizagem.
Para não deixar de citar os trabalhos que comentei no inicio deste artigo, destaco aqui um artigo publicado pelo Professor Andy Hargreaves, que me orientou no período que estive como visiting scholar em Boston e em Ottawa. O Professor Andy descreve 5 questões que devemos tratar no período pós coronavírus. Eu destaco aqui duas destas questões, as quais dialogam com os pontos que descrevi: a necessidade de um suporte extra para estudantes, e a questão do bem-estar.
Com relação ao suporte aos alunos, muitas coisas podem surgir, como a perda dos hábitos que a escola traz para os alunos, a estruturação de uma rotina e as diferenças em nível de aprendizado dado os diferentes contextos nos quais os alunos estão inseridos, e o acesso (ou não) a tecnologia. A questão do bem estar é central, e o papel dos professores neste processo vai ser provavelmente ainda mais relevante.
A partir destes pontos e da experiência que estamos vivendo me parece que o papel do professor se reforça ainda mais e para além das competências clássicas. E o que nos diferencia é nossa humanidade, ampliando competências relacionadas ao cuidado com o outro, empatia e saber ouvir.
Autor: Prof. Dr. Gustavo Borba