Fazer sentido e pertencer
O caminho para o engajamento dos alunos nos diferentes ambientes de ensino e aprendizagem.
Nos diferentes espaços de ensino e aprendizagem, virtual ou presencial, o elemento central é a construção de engajamento entre professores e alunos. Esse processo ocorre a partir de diferentes ações, com objetivos bastante próximos, mas formatos distintos quando falamos do ambiente online e presencial.
O processo de engajamento está relacionado aos sentimentos de pertencimento e de segurança emocional. Se construímos um espaço onde nossos alunos se sentem à vontade e seguros para interagir e se expressar, o engajamento será provavelmente uma consequência. Para a construção destes espaços, precisamos ensinar com empatia, buscando compreender quem são nossos alunos, quais suas histórias e como se sentem neste momento. Ações pontuais como chamar os alunos pelo nome e ouvi-los, mesmo em questões não relacionadas com o tema da aula, são centrais para gerar confiança e engajamento tanto no ambiente presencial quanto online.
Além da construção deste ambiente seguro e democrático, é importante resgatar a ideia presente no processo de design e também na perspectiva teórica de autores como John Dewey e Paulo Freire: o processo de aprendizagem está relacionado à experiência, à ideia de construção de sentido para o aluno. A experiência e a prática são potencializadores deste processo e como professores devemos sempre conectar o que estamos discutindo, a partir de uma perspectiva teórica, com questões do dia a dia dos nossos alunos. Nesse momento de pandemia esse processo pode ser ainda mais rico, se conectarmos o que discutimos em aula com questões relacionadas a vida em casa, com toda a família, 24 horas por dia.
Estes elementos são fundamentais para a construção de engajamento em uma aula online, mas não garantem necessariamente o engajamento contínuo dos alunos em um processo que se desdobra ao longo das semanas. Para isso, é preciso que os alunos compreendam, em cada aula, a conexão processual daquele momento com o que passou, e com o que está por vir.
A metáfora mais próxima desta ideia é o que temos nos episódios de seriados que temos assistido em
ainda maior intensidade durante a quarentena. Em cada episódio, o início traz um breve relato do que já aconteceu e é relevante para a audiência se conectar ao que irá acontecer na próxima hora. Ao final, a construção do fechamento e a abertura para o próximo episódio nos instigam a saber o que está por vir e nos mantém conectado aquela série.
Em nossas aulas, este processo é relevante, mas não suficiente. Além disso, precisamos ainda, durante nossa aula, projetar os diferentes momentos para que os alunos estejam conectados e engajados. Devemos planejar a aula considerando os momentos de check-in (atividade de conexão para trazer a turma para o mesmo lugar), desenvolvimento da proposta para aquele período
(com objetivo claro e atividades relacionadas) e check-out (síntese do que deve ficar e de para onde vamos). Com essa compreensão, os alunos percebem a relação processual entre o momento de interação online, as tarefas assíncronas, e o passado e o futuro.
Cabe ainda destacar que a busca por reflexão e conexão a partir da ação ativa do aluno acontece de maneiras distintas no ambiente virtual ou na sala de aula tradicional. No espaço presencial, colocar os alunos em um processo de aprendizado ativo, interagindo com o texto e com os colegas, por exemplo, pode ser uma excelente forma de ampliar o processo de aprendizagem e avançar para um debate coletivo. Em ambiente virtual, a dinâmica temporal é diferente, e precisamos manter o aluno conectado na atividade específica que desenvolvemos. Nesse sentido, um bom balanço entre atividades síncronas (que devem ser mais leves e devem preparar para as atividades complementares) e assíncronas (dando protagonismo ainda maior para o aluno), é fundamental.
O processo de aprendizagem sempre é dependente de um elemento central: o interesse do aluno pelo assunto em estudo. E esse interesse é dependente da forma como agimos como professores.
Se gerarmos inspiração, demonstrarmos interesse e construirmos um espaço de confiança e inclusivo, o engajamento se revela e nossa ação como professor é facilitada, ampliando nosso papel de facilitador do processo de aprendizagem do aluno.
Autor: Prof. Dr. Gustavo Borba