Timbre (interfaces entre design estratégico e educação)
Quando projetamos, fazemos propostas. E estas propostas estão relacionadas a forma como vemos e interagimos com o mundo, a nossa compreensão das necessidades e de como podemos entregar valor dentro de nossa ação.
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Dentro desta pequena descrição do ato de projetar, varias são as questões que podem promover um impacto positivo ou negativo em nosso planeta, nas pessoas que irão interagir com o projeto, ou mesmo em nossa sociedade como um todo. O que é valor? Como as propostas são definidas? Que necessidades existem?
Estas questões representam alguns dos pontos que fiquei pensando após a primeira edição do evento Timbre, que contou com a participação da Gabriela Lery e do Pe. Sérgio Mariucci. O evento foi desenvolvido por mestrandos do PPG em Design que fazem parte do Grupo de Pesquisa IODA, sob a liderança do Gabriel Tassinari, e que tem como interesse debater as interfaces entre cultura, design, educação e arte.
A ideia do evento é construir o diálogo entre o debate teórico e de pesquisa sobre o tema, e uma manifestação artística. Ontem, tivemos um momento singular com a Gabriela, apresentando suas canções autorais e contando sua trajetória como educadora, e com o Pe. Sérgio que compartilhou com o grupo sua perspectiva sobre o ato de projetar, trazendo elementos fundamentais como a ética e a política envolvidas neste processo.
O debate foi inspirador e permitiu que coletivamente pudéssemos avançar na compreensão de temas como o impacto da desigualdade no Brasil na educação, o afastamento e apagamento de culturas que os processos projetuais podem desenvolver, e questões mais positivas como o espaço único que a arte ocupa na construção de utopias possíveis.
Discutimos como podemos, como designers, contribuir para transformações sociais que apoiem manifestações culturais de grupos minorizados em nossa sociedade e que representam a diversidade que temos em nosso país, diversidade que nos faz um país único.
Em termos de educação, lembrei do que propõe Ailton Krenak. Quando questionado sobre qual a educação a comunidade Krenak desenvolve, ele disse: uma pedagogia da afirmação do comum e um enfrentamento da individualidade dominante.
Uma educação que respeita a diferença, que promove o acesso a tecnologias, aos espaços seguros de aprendizagem, uma educação que reconhece a profissão do professor e valoriza o impacto deste processo na construção de um país. é dentro deste contexto que precisamos pensar e desenvolver projetos, orientados pela perspectiva do Design Estratégico.
Faz algum tempo que digo que falar em inovação social é um equivoco conceitual. Toda inovação é social, pois impacta em algum nível, positiva ou negativamente em nossa sociedade. O que devemos talvez pensar é que inovações que não tragam impacto positivo, não são de fato inovações, são aplicações utilitárias de conceitos e práticas que levam ao ganho individual. Aplicações que não promovem ganho coletivo e que provavelmente não respeitam o planeta.
Talvez o design estratégico possa ser um caminho para reprojetar esse conceito de inovação, promovendo um processo de projeto que constrói mudanças positivas, colaborativas e para todos.
Parabéns ao grupo, aos palestrantes e que tenhamos muitas edições do Timbre, um evento que promove nosso debate, na mesma frequência, com diferentes perspectivas, com diferentes vozes.
Autor: Prof. Dr. Gustavo Borba