Um resgate da história e da cultura através da arte

Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas

Crédito: Rodrigo W. Blum

O Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas – Neabi é um espaço acadêmico e de interface com a comunidade. A iniciativa busca articular ações e pesquisas de caráter interdisciplinar, trabalhando questões relativas à educação das relações étnico raciais e ao ensino de história da África e da cultura afro-brasileira e indígena. O projeto nasceu em 2000, dentro de um outro projeto chamado Diálogo Interreligioso, já extinto. As atividades realizadas pelo grupo ganharam notabilidade a partir do trabalho da equipe e da relevância da temática racial para o Brasil e para o mundo.

Em meio à Década Internacional de Afrodescendentes, instituída pela ONU, em 2015, com o lema reconhecimento, justiça e desenvolvimento, o Neabi ganha espaço com discussões sobre racismo e cultura afro. O núcleo abriga outros três subprojetos dentro de seu escopo de atividades: Inclusão Digital Afrodescendente, Cidadania e Cultura Religiosa Afrodescendente e, desde 2016, Diálogo Interreligioso, projeto do qual o grupo teve origem. Conheça histórias de quem vive o Neabi.

A cultura religiosa e os orixás

“Todos nós trazemos alguma coisa que representa a cultura afro”, diz Ricardo Laub Cardoso. O artesão conta que conheceu o Neabi por meio de um convite feito por uma outra artesã, amiga sua, Pedra Evanete da Silveira. Pedra convidou Ricardo para fazer parte da Exposição de Afroartesanato do Neabi e Ricardo aceitou. “Depois desse primeiro contato passei a participar do projeto de cidadania, através das conferências, encontros, tudo o que é enriquecedor. O Neabi é um dos nossos caminhos de inclusão na universidade, e um lugar de empoderamento da nossa história e identidade na região. Hoje, a Unisinos nos acolhe e nos proporciona um lugar de emancipação e cidadania”, revela.

Ricardo conta que trabalhava como massoterapeuta e, devido a um problema de saúde, não podia fazer força, por isso mudou de ramo. “Comecei vendendo o artesanato da minha mãe e depois comecei a fazer meu próprio artesanato. O trabalho dos orixás é feito por mim e pelo Vinícius Maciel Rodrigues, de maneira bem dividida. Eu não faço um sozinho e nem ele. Ele faz a montagem e eu faço toda a parte do conhecimento, das feições de cada orixá, fui eu que fui descrevendo e montando. Eu faço os paramentos e ele a base. Metade do trabalho é meu e metade é dele”, explica

O artesão destaca que a cultura afro fica explicitada por meio dos orixás. “A representação do orixá tem um fundamento. Um gosto que a gente tem é ver as pessoas reconhecerem os orixás no nosso trabalho. Expor dentro de uma universidade dá uma visibilidade maior para o nosso trabalho. O público da universidade tem um foco acadêmico, que busca conhecimento, diversidade. Eles têm uma curiosidade diferente das pessoas que passeiam em praças, por exemplo. Estar dentro da instituição reforça o valor do artesanato”, encerra.

Um artesanato sustentável e cultural

Sueli Angelita da Silva é assistente social e hoje integra a equipe do Neabi. Muitos foram os caminhos que uniram a sua vida ao projeto, até que ela se tornasse membro da equipe. A artesã faz parte do projeto economia solidária e, há 5 anos, conheceu o Neabi. “A primeira oficina que eu fiz era sobre niqueleiras feitas com caixinhas de leite. A ideia era trabalhar a questão de meio ambiente e explicar o que é economia solidária”, lembra.

Depois desse primeiro contato, Sueli conta que a professora Adevanir Pinheiro, coordenadora do Neabi, passou a chamá-la sempre que tinha um seminário. “Era uma oportunidade para expor meu artesanato, que envolve a cultura negra e as religiões de matrizes africanas”, relata.

Sueli trabalha com brinquedos do tempo da vovó e com o resgate da cultura antiga, sempre enfocando a questão da reciclagem. “Faço bolsas, niqueleiras e bonecas negras – que a minha avó me ensinou, porque quando eu era criança não existiam bonecas negras. Além disso, confecciono artigos de religião afro e as indumentárias dos orixás, como o escudo de Ogum ou a âncora de Iemanjá”, conta.

A artesã destaca a importância de estar expondo seus produtos num espaço acadêmico: “Quando nós começamos a fazer o artesanato ligado à religião afro, nós começamos a pesquisar mais sobre a religião, e a gente sentiu vontade de expor a nossa cultura fora dos guetos”, enfatiza.

Para Sueli, quando alguém chega em sua barraca e pergunta sobre os orixás, por exemplo, é uma oportunidade de contar uma história sobre a cultura afro. “No momento em que a gente conta a história, estamos resgatando a nossa cultura para as pessoas que não são da nossa religião. Com essa atitude, a gente sai do espaço de gueto e conquista respeito. E isso é bem bacana”, destaca.

A artesã finaliza sua fala dizendo que fez uma pesquisa sobre a religião da Umbanda para confeccionar seus artefatos. “A Umbanda vem do Candomblé, mas mistura outras religiões também. É uma mistura do Candomblé, do Juremá (religião dos índios) e Cardecismo”, explica, feliz em poder ajudar as pessoas a conhecerem mais sobre os costumes e a religião afro.

*Esta matéria foi produzida em 2017 e refere-se ao Balanço Social 2016.

Crédito: Rodrigo W. Blum

O nosso website usa cookies para ajudar a melhorar a sua experiência de utilização.

Aceitar