Unisinos recebe pela primeira vez o Women In Data Science Porto Alegre

Evento discutiu sobre tecnologia e a igualdade de gênero na área de ciência de dados e inteligência artificial

Crédito: Giordano Martini

O campus de Porto Alegre da Unisinos recebeu, no sábado (9/11), o Women In Data Science (WiDS) Porto Alegre. O encontro, realizado pela primeira vez na Universidade, faz parte de uma iniciativa global que promove a discussão sobre tecnologia e a igualdade de gênero na área de ciência de dados e inteligência artificial. A iniciativa foi lançada em 2015, na Universidade de Stanford (Califórnia, Estados Unidos), em uma conferência que reuniu mulheres de destaque na área. Atualmente, o WiDS Worldwide tem mais de 200 eventos e conferências anuais em todo o mundo.

O evento realizado na capital gaúcha foi organizado de forma independente pela “Amabassador” Nelci Gomes Lima. A missão dos encontros é aumentar a participação

das mulheres na ciência de dados e apresentar mulheres notáveis fazendo um trabalho notável. Esta primeira edição na Unisinos contou com o patrocínio de Ntopus, SAP, Trindtech, Tecnosinos, Unitec, Instituto de Cultura Digital da Unisinos (ICD) e Escola da Indústria Criativa da Unisinos.

A manhã de sábado foi cheia de histórias de mulheres contado suas trajetórias e experiências de vida dentro do mundo da tecnologia de dados. Confira, a seguir, um pouco de cada palestra.

“Precisamos encorajar as mulheres”

A primeira palestrante foi Júnia Cristina Ortiz Matos, que trabalha na área de dados e inteligência artificial. A profissional que atuou com Nelci em projetos da WiDS Salvador desde 2020, disse estar muito feliz em enxergar novas regionais acontecendo. “É importante que a gente tenha mais meninas e mulheres atuando na área de dados. É uma área que tem crescido muito e que oferece mutas oportunidades”, comentou.

Matos é formada em Jornalismo, mas foi durante o mestrado que teve contato pela primeira vez com a área de dados, principalmente com estatística, focada no uso de metodologias para análise de dados. Após uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, decidiu entrar “de cabeça” na área de tecnologia e dados. Foi nesse momento que começou a estudar estatística na faculdade. Seus primeiros trabalhos foram na área de levantamento de dados e análise de opinião pública.

“A tecnologia não é neutra”

A segunda palestrante do dia foi com Amanda Silva. Moradora de Guarulhos (SP), é formada em Gestão de TI, Análise e Desenvolvimento de Sistemas, e possui MBA em Gestão de Projetos com metodologias Ágeis. Silva atua no IFood como engenheira de software, focada em software front-end. Ela trouxe logo no começo de sua palestra um livro que iria guiar a sua fala: Pode um robô ser racista?. A obra foi editada pela Sil Bahia.

A engenheira explicou que a tecnologia, seja ela celular ou computador, tem que ser pensada sob a ótica da diversidade. Caso não seja, as consequências podem ser complexas. Ela tratou essa questão a partir da experiência pessoal: a profissional enfrenta na prática problemas envolvendo o reconhecimento facial, que frequentemente não funciona com pessoas negras. “Eu tenho muito problema com o aplicativo de banco. Sempre que ia realizar pagamento e valor alto, tinha que fazer reconhecimento facial, e dizia: ‘Vá para um lugar mais claro’, e eu estava bem embaixo da luz, tudo iluminado. É uma falha de um dispositivo que não é acessível”, exemplificou.

Outro ponto abordado foi a falta de diversidade no ambiente de trabalho da tecnologia. Silva conta que, em seus 10 anos trabalhando na área, ela era a única mulher negra na equipe. Isso pode gerar vários problemas. “Pensando em uma equipe sem diversidade, se eu sou uma profissional negra, vou trabalhar em uma equipe que só tem eu ali, não vou me sentir pertencente”, sublinhou a palestrante.

Silva reforçou aos participantes a questão da conscientização. Ela pediu para que, se na empresa em que trabalham aparecer uma vaga nova, indiquem alguém diferente delas, como uma pessoa negra ou trans. A engenheira deixou sua apresentação para todos que queiram acessar. Para isso, basta clicar aqui.

A profissional encorajou as mulheres que já estão na área de dados a continuar, e aquelas que ainda não entraram, a seguir em frente. “Esses eventos são muito importantes para que a gente se fortaleça”, observou Matos.

“Os dados têm que estar alinhados”

A terceira palestra, sobre Data Mesh, foi realizada pela argentina com descendência boliviana Viviana Terceros, que tem mais de dez anos de experiência no mercado de TI. Ela explicou que o Data Mesh é uma abordagem que visa resolver os problemas de gerenciamento de dados em escala, distribuindo a propriedade e o controle dos dados entre os usuários e produtores.

A técnica também serve como uma teia de interações, e depende de como o consumidor vai interagir com os dados como produto. Essa área também é conhecida como arquitetura de dados, e, assim, como toda arquitetura, ela tem uma estrutura que deve ser seguida.

Terceros ressaltou a importância de que os dados estejam alinhados, justamente por ser uma arquitetura, em que os dados são interligados. “Quando os dados não estão alinhados, é uma sequência de erros, pois um depende do outro”, comentou.

“Conseguimos impactar todos os outros setores da empresa”

A quarta palestra da manhã foi ministrada pela dupla Karen Santos e Luana Rios. Karen falou sobre o mundo da UX (User Experience), focada em analisar e melhorar a experiência do usuário. Luana abordou a questão das DevOps, que são um conjunto de práticas, ferramentas e filosofia cultural que integra e automatiza os processos de desenvolvimento de software e operações de TI. A palestra foi recheada de imagens para ilustrar os dados e informações levantados pelas profissionais. Rios mostrou os quatro sinais de ouro, no que diz respeito às métricas, que são: Latência, Tráfego, Saturação e Erros.

Após o levantamento de dados por meio de métricas anteriores, são feitos gráficos, que servem para orientar a equipe nesse novo processo. “É onde a gente começa a conseguir observar padrões de comportamento. A gente inclusive consegue até empregar a nossa equipe de desenvolvimento nesse processo, funcionando como base para nosso time de desenvolvedores”, explicou Rios.

Segundo a palestrante, os dados são utilizados para atuar de maneira preventiva e não negativa, e que se algo inesperado acontecer, seja possível utilizar esses dados anteriores para atuar de modo rápido para garantir que o sistema esteja plenamente funcional.

“Temos a escolha de abrir ou não o cadeado”

“Introdução à Proteção de Dados: Importância e impacto na vida digital das mulheres” foi o tema da fala de Luana Rocha. Ela começou a quinta palestra falando da diferença entre dados gerais e dados sensíveis.

Dados gerais são informações que não podem revelar ou prejudicar uma pessoa, como por exemplo, alguém que gosta de jogar vôlei, de cozinhar e de Muay Thai. Porém, existem os dados sensíveis, que são informações relacionadas à saúde e dados biométricos. Nossa digital e o reconhecimento facial são dados que necessitam de mais cautela.

Rocha ressaltou o perigo das redes sociais, pois agora, com a vida cada vez mais pública, fica mais fácil encontrar algum cadastro contendo o CPF ou número de telefone, e isso acaba virando um dado público. “Quando você faz isso, o dado não está mais protegido. Tu escolheu abrir o cadeado e deixar ele exposto. Não é algo que se consiga voltar atrás, isso fica registrado. Demora tempo para a gente poder recuperar essa privacidade”, alertou a palestrante.

A profissional relembrou que temos direitos, mas temos o dever de cuidar muito de tudo que a gente está expondo. “Os crimes de verdade estão aí, ninguém está isento de sofrer isso, porém, podemos tentar nos proteger ao máximo”, disse Rocha.

“Ser uma mentora vai muito além do apoio técnico”

Amanda Dutra e Letícia Haubert estavam representando a empresa de tecnologia Trindtech. A sexta e última palestra foi focada na mentoria, em como impulsionar novos talentos.

As palestrantes comentaram que a mentoria é um processo difícil, por que a área de tecnologia ainda registra muitas desistências. A mentoria, segundo Dutra e Haubert, deve ser algo que vai além de ensinar os termos técnicos. “Devemos dar apoio emocional para o desenvolvimento profissional dessas pessoas, porque a gente sabe que é um momento de dúvidas e inseguranças”, enfatizou Haubert. A palestra terminou com a dupla pedindo para que as pessoas que já estão na área técnica se tornem mentoras das que estão começando agora nessa profissão difícil e desafiadora.

“Ainda podemos sonhar mais”

Para a finalizar o evento, a professora da Escola da indústria Criativa da Unisinos Taís Seibt, que participou do encontro como ouvinte, comentou que é sempre um prazer conhecer pessoas e escutar outras experiências. Seibt disse que é muito importante ter uma sala com muitas mulheres, mas acredita em um futuro com mais possibilidades. “O meu sonho é que a gente tivesse essa sala com mais homens. Que a gente tivesse essa sala realmente mais diversa”, comentou.

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