O sucesso da página da Prefeitura de Curitiba (PR) no Facebook é enorme. Sempre fazendo uso de memes e bom-humor para lidar com temas sociais importantes, o trabalho do setor de comunicação da cidade vem chamando a atenção de internautas do país inteiro que acompanham a saga da capivara nas redes sociais.
Para falar deste sucesso, o jornalista Álvaro Borba, que é diretor do departamento de internet e mídias sociais responsável pela iniciativa, esteve na Unisinos palestrando na aula inaugural dos cursos de Comunicação Social.
O evento ocorreu na noite de quarta-feira, 30 de setembro, no Anfiteatro Padre Werner, no campus São Leopoldo, contando com o auditório lotado de alunos, professores e interessados no assunto, visto que a aula era aberta ao público. Borba iniciou a fala contando sobre a origem da marca registrada da Prefeitura de Curitiba: a capivara. Ele destacou que a iniciativa foi pensada para durar apenas três postagens, mas o sucesso e adesão de público foi tamanho que decidiram investir na ideia de tornar o animal a mascote da cidade.
“Acredito que para explicar a origem da capivara nas nossas publicações eu tenha que voltar um pouco no tempo e analisar algumas teorias um pouco mais antigas. Ruud Koopmans trabalha com definições de visibilidade, ressonância e legitimidade. Nossas publicações são uma adaptação destes conceitos”, explica. A definição de Koopmans diz que visibilidade é a extensão da cobertura que os veículos de comunicação de massa dedicam a determinado tema, ressonância é a capacidade de um tema gerar debate, e legitimidade é o tema geram consenso a respeito de si mesmo.
“Com isso em mente, eu analiso uma publicação que fizemos com base em uma imagem de uma capivara mãe carregando em suas costas uma capivara filhote, utilizando a seguinte mensagem: ‘criança, só no banco de trás’. Esta postagem gera visibilidade, pois é uma extensão do que se noticia normalmente, gera ressonância justamente por conta da imagem, e é legítima, pois a lei diz que crianças só podem andar no banco de trás, ninguém pode negar isso. Ou seja, conseguimos incorporar e adaptar os conceitos de Koopmans no nosso trabalho”, exemplificou o jornalista.
Álvaro trouxe vários exemplos de autores e pesquisadores da comunicação que inspiraram na hora elaborar as publicações da Prefeitura de Curitiba, sempre mostrando de que forma isso foi utilizado a favor da equipe. “Costumo dizer que Curitiba é conhecida pela capacidade de inovar e a própria cidade se enxerga assim. Dentro disso, este projeto que realizamos hoje nas redes sociais é totalmente possível. A aceitação da prefeitura é justificada através de números que comprovam a eficiência do nosso trabalho”, completa Borba.
O analista conta que, sem nenhum tipo de anúncio, as publicações da “Prefs”, como é conhecida a página da prefeitura, já chegaram a alcançar 135 milhões de pessoas. Toda visibilidade conquistada de forma gratuita na internet fez com que a Prefeitura de Curitiba economizasse mais de R$ 6 milhões em publicidade. Atualmente, a página da Prefs no Facebook conta com cerca de 665 mil curtidas. Borba explica que hoje o setor de comunicação é dividido em planejamento, conteúdo e atendimento, totalizando um grupo de cinco profissionais. “Nossa equipe é formada por jornalistas e publicitários. Pode não parecer, mas nossas funções ultrapassam o online e a capivara”, brinca Borba.
Ele destaca ainda que o objetivo da Prefs é falar e informar, mas principalmente, ouvir os curitibanos. Quando questionado sobre um momento mais difícil dentro do seu trabalho, o profissional cita uma postagem feita no Facebook da Prefeitura em que defendiam que família não era apenas homem, mulher e filhos biológicos. A Publicação rendeu vários comentários negativos de pessoas que não concordavam com a frase ou com a foto utilizada, que era de um casal gay.
“Foi um momento muito sensível e que fez com que eu cometesse um erro enorme que foi apagar a publicação. Assim como tinham pessoas contra ela, tinham muitas a favor e que reclamaram por ela ser removida. Optamos então por consertar o erro e ir contra a intolerância e homofobia, colocando a publicação no ar novamente”, lembra o jornalista.
Memes: a importância desta forma de comunicação
Após falar sobre a origem da capivara e do formato de trabalho utilizado pela Prefeitura de Curitiba, e abrir espaço para perguntas da plateia e de internautas, Álvaro entrou na segunda parte de sua palestra onde falou sobre memes e sua importância no processo de comunicação. “Com certeza todo mundo já viu um meme na internet e alguns convivem com eles diariamente na sua linha do tempo. Muitos pesquisadores da comunicação, porém, enxergam de maneira mais agressiva o uso deste recurso ou atacam a sua disseminação por não considerarem informativo. Eu discordo”, explica.
O jornalista defende que os memes são cultura popular, justificando a afirmação com embasamento etimológico que diz que cultura é cultivar um hábito, um padrão de comportamento, um padrão estético, e popular é o que é feito para as pessoas. “Um meme é extremamente popular, afinal é feito para as pessoas e por elas. O único problema é o que é cultura. Um conceito que já foi muito discutido e abrangente. Eu entendo que cultura é conexão, e se meme não é conexão então não sei o que é”, completa Borba.
O jornalista comparou os memes com outros tipos de manifestações que são entendidas como sendo cultura popular que também foram atacadas no seu surgimento. Caso do estilo musical chorinho, do funk e da religião umbandista, que a princípio foi perseguido, mas que hoje se entende como cultura. “Os memes refletem uma forma de dominação, diferente do chorinho e da Umbanda, mas que fazem com que as pessoas pensem. E é desta forma que a nossa equipe trabalha com eles. Utiliza o humor para divulgar uma noção de cidadania”, analisa Álvaro.
Ele trouxe alguns exemplos de memes feitos pela Prefs a partir de imagens que circularam na rede, mas que foram utilizadas por eles como uma maneira de fazer a comunidade pensar. E assim, encerrou sua participação na Aula Inaugural dos cursos da Comunicação Social da Unisinos.