O Grupo de Cidadania e Cultura Religiosa Afrodescendente é um dos projetos vinculados ao Neabi. As atividades propostas pelo núcleo buscam promover o diálogo e dar visibilidade a questões religiosas e culturais afro-brasileiras e africanas. O grupo também atua no fortalecimento da identidade e cidadania dos afrodescendentes e indígenas. Entre outras ações criadas pelo projeto está a Malotecafro. A iniciativa leva a escolas uma biblioteca itinerante, em forma de mala, que reúne contos infantis africanos e indígenas.
A equipe do Neabi visita as entidades parceiras com a Malotecafro levando aos estudantes, do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental, a oportunidade de conhecer mais sobre a temática. Um dos colégios, que têm recebido essas visitas, é a Escola Municipal de Ensino Fundamental Paul Harris, com o apoio da professora Patrícia Silva.
Em uma tarde de contos, enquanto a equipe do Neabi falava sobre o orgulho de ser negro, uma frase da historinha dizia: – “Sou herdeiro de Zumbi…”, neste momento um aluno interrompeu. “Zumbi foi um rei, um herói, que lutou pela liberdade do povo negro”, a atitude do menino surpreendeu o grupo e ele foi aplaudido pelos colegas. Pelo visto, o trabalho realizado pela professora Patrícia e pelo Neabi está gerando frutos.
Uma parceira que vem de longe
Patrícia é professora de História e responsável por trabalhar as questões dos afrodescendentes e indígenas com os estudantes da Escola Paul Harris. A ligação entre Patrícia e o Neabi, já é antiga e ela conta como começou essa relação de parceria. “Conheci o Neabi quando comecei a trabalhar a cultura africana e indígena. Na época, estudava, fazia graduação em História na Unisinos”, relembra.
Assim que a professora conheceu o projeto, fez vários cursos no Neabi, e a cada encontro com o grupo, sua empolgação com o tema crescia. Mesmo antes da Lei 10.639, de 2003, que trouxe a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-brasileira e Indígena para o ensino brasileiro, Patrícia já trabalhava com o assunto em suas aulas “Sempre gostei do tema, essas questões são importantes porque fazem parte da nossa identidade, da nossa história. Muitos alunos descobriram ancestrais negros e indígenas”, relata.
A intenção de Patrícia é que ao reencontrarem suas raízes os alunos tenham orgulho de seus antepassados, assumam sua história, sua identidade e não escondam mais de onde vieram. “Nós tínhamos problemas de racismo e bulling na escola, e isso tem melhorado bastante desde a implementação das atividades. Tive uma formação disponibilizada pelo Governo Federal e ganhei material para trabalhar o assunto. Antes a gente tinha pouca coisa sobre o tema”, explica a professora.
Quando questiono sobre o que mudou com o estudo da temática, Patrícia diz que melhorou o respeito, trouxe para os estudantes conhecimento sobre a cultura africana e indígena. “Para valorizar a gente tem que conhecer”, enfatiza. Como a professora foi pioneira neste trabalho na escola onde leciona, hoje conquistou o posto de mediadora do tema e tem 8h por semana para trabalhar o assunto. “Alguns professores têm muita dificuldade em abordar as questões da África em suas aulas. Em 2015 trabalhamos as religiões de matrizes africanas e, de 30 alunos, somente 7 participaram das atividades. Isso nos mostra que ainda temos um longo caminho a percorrer, mas, de qualquer forma, aos poucos, temos avançado”, avalia.
Esta matéria foi realizada em meados de 2016, referente ao Balanço Social 2015.