Participar da construção da cidadania e da identidade de jovens cada vez mais autônomos e conscientes é um dos aspectos mais gratificantes da vida de um professor. Poder exercer a docência de maneira humanizada e vinculada com as realidades dos estudantes é um desafio e, ao mesmo tempo, uma oportunidade que exige doação e profissionalismo. André Pacheco, estudante do curso de Letras-Inglês, vivenciou na prática essa experiência.
André foi o primeiro professor de uma parceria, entre o curso de Letras e o Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas (Neabi), para oferecer o ensino de língua inglesa como reforço, em turno inverso ao escolar, para estudantes da periferia de São Leopoldo. “A parceria começou em 2008, com diversas tentativas de incluir os afrodescendentes no curso de inglês. Hoje, esse vínculo se concretizou, sob responsabilidade da assistente social Sueli Angelita da Silva, que tem acompanhado os estudantes em diversos momentos, fazendo a mediação entre o estudante e os professores coordenadores do curso de Letras” destaca Adevanir Pinheiro, coordenadora do Neabi. De acordo com Sueli, o curso surgiu de uma demanda da comunidade, intermediada pelo Neabi, e também pela iniciativa dos professores Márcia del Corona e Edimar Galisa.
Segundo Márcia, para os alunos de Letras, a oportunidade de participar do projeto, que é baseado em um material didático premiado internacionalmente, doado pelo próprio autor Eduardo Amos, oferece a chance de trabalhar o inglês a partir das vivências dos estudantes. “É abordada a questão da identidade enquanto algo muito maior que o nome, falando da construção de cada um a partir das suas experiências. É um olhar muito para si, que depois vai sendo ampliado para a família, para a comunidade, para o mundo. O livro ajuda a pensar as questões sociais e trabalha muito a diversidade. Isso é importante para que nossos estagiários/estudantes trabalhem com seus alunos, nas escolas, projetos que também abracem a questão social. Nunca só a língua”, afirma.
Para André, a experiência foi uma oportunidade positiva durante e após o projeto, em relação a uma expansão da minha consciência para as necessidades dos alunos, não apenas nas questões gramaticais, mas no sentido cultural e no âmbito social”, destaca o estudante, lembrando que a relação com os alunos era a melhor possível. “Uma convivência pautada na amizade, no saber ouvir e no respeito às diferenças e individualidades de cada um”.
As turmas de 2018, divididas em manhã e tarde, contaram com cerca de 20 alunos. “Estamos muito felizes com a parceria. Tínhamos que trabalhar a problemática étnico-racial, dentro do curso de Letras, por isso, fizemos ajustes no programa, como colocar na bibliografia Chimamanda Ngozi Adichie, trazendo a cultura africana dentro do contexto americano e brasileiro”, pontua Sueli.
Além de ser uma oportunidade de reforço escolar e de profissionalização, o curso também é uma forma de abordar a construção da cidadania. “Acredito que a importância do aprendizado da língua inglesa se reflete na questão do aumento da autoconfiança e do empoderamento frente às dificuldades étnico-raciais que, infelizmente, ainda hoje, se fazem presentes no nosso cotidiano”, reflete André.
O Neabi se constitui em um espaço acadêmico e de interface com a comunidade. O núcleo produz materiais, cursos, seminários, conferências e divulgação de ações afirmativas dentro da temática da educação das relações étnico-raciais. Além disso, o Núcleo tem Pesquisas de Iniciação Científica com a presença de bolsistas afrodescendentes, que já estão realizando o levantamento sobre a presença, a inclusão, a permanência e a perspectiva de conclusão dos estudos de jovens negros na universidade.