No senso comum, sim. Afinal, a resposta afirmativa ao título parte de duas premissas: primeira, de que a universidade tem espaço para todos que tem pretensão de ingressar nela e a segunda, que todos esses candidatos que concorrem a uma vaga nesse espaço o fazem em igualdade de condições. Entretanto, de acordo com os dados que mostram quem está no ensino superior, as duas afirmações não se baseiam na experiência concreta da realidade brasileira.
A verdade é que não há vagas para todos os jovens que estão na faixa etária, 18 a 24 anos, que mais requisita entrada no ensino superior. E, a segunda afirmação esquece que nem todos partem de um mesmo nível social, condição física, psicológica e estrutural. Mas então, por que o sim é a resposta mais comum ainda de se escutar?
Falta de informação, despolitização, carência de empatia, entre tantos outros motivos, se somam para justificar a resposta acima. Mas é fato que ainda existe um muro “(in)visível” que dita as regras de quem pode entrar no espaço acadêmico e quem fica de fora dele.
O ensino superior é fonte de conhecimento, formação crítica e troca, mas tem falhado ao garantir que vivências diversas se sintam contempladas no seu ambiente. É hora de se falar sobre o racismo, o machismo, a lgbtfobia, a discriminação com deficientes que estão dentro dos muros da universidade e sustentam as bases da sociedade. É hora de dar protagonismo a quem é invisibilizado.
De acordo a pesquisa, em 2004, 54,5% dos estudantes do ensino superior na rede pública pertenciam à parcela 20% mais rica da população brasileira — com renda média por pessoa da residência de R$ 2,9 mil, equivalente a R$ 5.493,61 mil hoje. Dez anos depois, esse grupo ocupava 36,4% das vagas nas universidades públicas.
Não há nenhum problema em brancos e ricos ocuparem os espaços universitários, o problema está em quem não tem essas características ficar de fora. No Brasil, pretos e pardos são a maioria da população, de acordo com o IBGE, representando 53,6% da população, entretanto, a grande parte não está no ensino superior.
Tudo isso acontece devido aos diversos fatores de vulnerabilidade que determinadas populações carregam. A análise das condições de vida da população brasileira do IBGE mostra que muitos jovens não chegam ao ensino superior pela necessidade de buscar um emprego para completar a renda familiar, já que pertencem as classes mais baixas.
Outro ponto a se destacar, é a precariedade das escolas públicas. A divulgação do desempenho dos alunos no Enem do ano passado pelo Ministério da Educação só deixou ainda mais evidente o abismo que existe entre o ensino público e o particular.
Das cem escolas com as maiores notas, só três são públicas, da rede federal e no ranking com as mil melhores, apenas 49 são da rede pública. Nove em cada dez escolas públicas ficaram abaixo da média nacional. Os resultados do Enem mostram que 91% das escolas públicas ficaram com desempenho abaixo da média do Brasil. Entre as particulares, o percentual é de 17%.
Ou seja, o acesso a uma educação básica de qualidade, poder estar em um espaço que esteja preparado para recebê-lo, não enfrentar dificuldades na hora de entrar em uma universidade não é uma certeza para todos, não é universal. E a universidade também não está sendo.
Parece controverso, uma universidade comunitária falar sobre isso, né?! A ideia é ir na contramão mesmo. É clichê dizer, mas precisamos falar sobre essa realidade. Sobre quem está na universidade, mas principalmente, é preciso olhar para quem ainda não conseguiu chegar nela ou está lutando todos os dias para continuar ocupando esse espaço. Pessoas são diferentes e há vidas que estão sofrendo mais que outras.
As instituições de ensino superior do Brasil estão longe de serem representativas e a Unisinos também não escapa disso. Cabe a quem está nela começar a derrubar os tijolos. Mas, você está disposto a fazer isso?
Se sim, acompanhe os conteúdos sobre alteridades que serão publicados aqui no Notícias Unisinos durante as próximas semanas.