A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) tem impactado a sociedade e exigido, de forma intensa e rápida, uma ressignificação das empresas. Neste momento, onde inovar é essencial, startups de base tecnológica assumem protagonismo. São empreendimentos que lidam cotidianamente com a necessidade de trazer o novo para o mercado, preferencialmente rompendo modelos já estabelecidos, com a necessidade de escalar em meio à incerteza.
Startups nascem numa velocidade ímpar e são responsáveis por parcela importante da inovação surgida na pandemia. Neste sentido, o Parque Tecnológico São Leopoldo – Tecnosinos realizou uma pesquisa para mapear esse cenário junto ao Ecossistema de Inovação da Unisinos. O estudo analisou o desempenho de 31 startups, entre março de 2020 e março de 2021. Aponta que, de forma geral, o comportamento é de crescimento: 35,5% ampliaram seu faturamento entre 11 e 50%. Nenhuma acusou queda.
Além disso, 64,6% criaram produtos ou soluções durante a pandemia, sendo que destes, mais de 19,4 % foram direcionados para um mercado não explorado anteriormente. Destas soluções, 38,7% são relacionadas à pandemia (16,1% de produtos diretamente relacionados e 22,6% de suporte a empresas, em resposta aos desafios da pandemia). Todavia, 16,1% delas apontaram que foi necessário reduzir os investimentos em inovação e, 9,7%, recorreram a bancos como forma de financiar sua operação.
Para a diretora de Inovação da Unisinos e CEO do Tecnosinos, Susana Kakuta, inovar requer talento, capital, determinação empresarial, um ecossistema forte e um conjunto de políticas públicas capaz de fazer surgir, crescer e consolidar empresas. “Startups são elementos fundamentais para a economia do futuro. São portadoras de crescimento e oportunidades, especialmente para jovens, num Brasil que clama por alternativas de desenvolvimento e cidadania”.
O Tecnosinos, parte integrante do Ecossistema de Inovação da Unisinos, é um exemplo reconhecido internacionalmente. Suas 110 empresas geram 8.000 empregos e ofertam soluções de alto valor agregado, tanto para o mercado nacional quanto internacional. “No RS, a nossa rede de parques e incubadoras pode garantir a consolidação de uma nova matriz econômica, integrada por um conjunto de segmentos, impulsionados pela inovação”, destaca Susana.
Oportunidade na crise
A pandemia tem afetado de forma desigual empresas de diferentes portes e segmentos. Dentre as medidas para mitigar os efeitos econômicos, impuseram-se a demanda por novos clientes, produtos e a necessidade de aumento de receita.
Ao analisar os desafios enfrentados no último ano, a sócia da Ipay Pagamentos, Deise Machado, explica que a startup precisou ajustar seu modelo de negócios e precificação, a fim de ampliar o acesso à ferramenta. “No inicio da pandemia, projetamos um pacote de serviços. Com o tempo, analisamos algumas barreiras e ajustamos para que todos pudessem consumir. Nossa solução vem em sintonia com o cenário atual, possibilitando que o consumidor final não precise efetuar presencialmente nenhum tipo de pagamento”.
Na plataforma desenvolvida pela Ipay Pagamentos, é possível fazer a gestão de cobranças de forma remota, seja para emissão de boleto de cobrança ou automatização por cartão de crédito.
Inovar para crescer
Startups crescem a taxas de três a quatro vezes maior do que a economia global. Juntas, faturam US$ 2,8 trilhões. No Brasil, segundo a ABStartups, são 14 mil startups, que possuem um papel central na economia. São, via de regra, responsáveis pela introdução de novos segmentos como TI, biotecnologia ou microeletrônica, bem como por exercerem um papel central na modernização de setores tradicionais da economia.
Com atuação no agronegócio, a Raks Tecnologia Agrícola desenvolveu um sistema de manejo da irrigação, através de sensoriamento remoto e IoT, para aumento da produtividade e redução de custos agrícolas. A sócia da startup, Fabiane Kuhn, explica que a equipe dobrou de tamanho no último ano. “A pandemia trouxe inúmeros desafios, tanto a nível pessoal, como de empresa. Mas, o principal foi a adaptação a uma nova rotina, à incerteza, ao medo e tentar buscar o máximo de produtividade diante desse cenário”.
Fabiane entende que a pandemia trouxe muitas oportunidades de aprendizado e otimização de tempo, além de possibilitar a expansão nacional, a partir de um novo foco de contratações. “Há pessoas na equipe que não conhecemos pessoalmente. Por exemplo, estamos com um colaborador do Rio de Janeiro, que está trabalhando de forma 100% remota. É algo que não conseguíamos imaginar antes da pandemia”, ressalta.