O projeto MinhaSaúdeDigital: Modelo Inteligente de Blockchain para Informações de Saúde e Interação com Pacientes no âmbito da Covid-19, foi aprovado pela CAPES na última semana. A iniciativa tem o objetivo de desenvolver um modelo inteligente de informação e comunicação, baseado em uma arquitetura distribuída em Blockchain com dados clínicos padronizados, para interligar diversos provedores de serviços de saúde e os pacientes de pandemias. “Como padronização dos dados, o projeto adota o OpenEHR, padrão internacional aberto e recomendado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), para representar os dados clínicos do paciente. O modelo proposto, denominado MinhaSaúdeDigital, permite também a interação remota e assistência aos pacientes de pandemias, em particular aqueles infectados por Covid-19, através do uso de dispositivos móveis”, explica o coordenador do projeto e professor do Programa de Pós-Graduação em Computação Aplicada da Unisinos, Cristiano André da Costa.
Segundo o pesquisador, essa interação permite a comunicação direta com o paciente, o acompanhamento da evolução da pandemia e a atualização do registro eletrônico de saúde, que é armazenado em OpenEHR no Blockchain. “Os dados coletados são submetidos a técnicas de análise de dados, baseadas em deep learning, para predição de prognóstico e geração de indicadores para tomada de decisão”, afirma Cristiano. Confira abaixo a entrevista completa com o professor e saiba mais sobre o projeto.
Quando inicia o projeto?
Oficialmente inicia em julho, acabou de ser aprovado o financiamento da CAPES. Mas o grupo já vem discutindo essas ideias, por webconferência, desde março. Reuniões que têm sido organizadas pelo ICOLAB, instituto sem fins lucrativos focados em Blockchain. A origem do uso de Blockchain na área de saúde vem de um projeto que temos em andamento, financiado pelo CNPq, e em parceria com o HCPA de interoperabilidade de prontuários eletrônicos. Esse projeto está permitindo integrar o registro eletrônico de saúde (RES) de pacientes em vários hospitais universitários brasileiros que utilizam o sistema AGHUse, desenvolvido pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre. O projeto, que culminou no doutorado do professor Alex Roehrs, o qual orientei, gerou diversas publicações científicas de impacto internacional. Nessa nova iniciativa, vamos integrar alguns dos mais importantes hospitais do RS que empregam diferentes sistemas de gestão e armazenam dados em formatos completamente diferentes. Em função da pandemia da Covid-19, optamos por focar inicialmente nos dados relacionados com ela, depois ampliando para todos os dados do RES.
Qual o objetivo da pesquisa?
O projeto MinhaSaúdeDigital tem o foco no combate a surtos, endemias, epidemias e pandemias, particularmente inserido no escopo de telemedicina e análise de dados médicos. O projeto se encaixa no objetivo específico de desenvolvimento de sistemas inteligentes de informação e comunicação para assistências e consultas médicas remotas, com integração de ferramentas computacionais de análise de dados médicos para diagnóstico e auxílio a tomadas de decisão. O principal problema de pesquisa que esse projeto visa responder é como interligar diferentes provedores de serviços de saúde de forma a prover um modelo inteligente de informação e comunicação distribuído, baseado no Blockchain e em técnicas de Deep Learning, e padronizado, através do padrão OpenEHR, permitindo a interação e assistência remota aos pacientes no âmbito de pandemias como a Covid-19. O projeto envolve conceitos de Sistemas Distribuídos, Internet das Coisas e Inteligência Artificial.
Quais são os hospitais da região parceiros?
São parceiros do projeto Grupo Hospitalar Conceição (GHC), Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Hospital Ernesto Dornelles (HED), Hospital Moinhos de Vento (HMV), Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (ISCMPA) e Unimed Central de Serviços RS. O projeto conta também com a parceria do Instituto Colaborativo de Blockchain (ICOLAB), instituto sem fins lucrativos focado no Blockchain.
Como o tema da Covid-19 entrou no estudo sobre diagnósticos e tecnologia?
A Covid-19 entrou no estudo pois é o grande gargalo atual no sistema de saúde mundial. Qualquer iniciativa que apoie no combate ao coronavírus, nos processos envolvidos e na melhora da qualidade de vida das pessoas afetadas, tem potencial de ser generalizada para outras aplicações futuras. A integração dos dados de saúde do paciente é algo que permite reduzir custos ao sistema de saúde, tornar o diagnóstico mais efetivo e gerar indicadores de qualidade para os envolvidos e governo. Portanto, aplicamos conceitos que já vinham sendo trabalhos, como aprendizado de máquina, Internet das Coisas e Blockchain aplicados à saúde, para a Covid-19.
Como a tecnologia pode ser aliada da saúde na busca por diagnósticos mais rápidos e precisos?
A tecnologia hoje está transformando a área da saúde. As pessoas conseguem entender mais sua saúde, antecipando a detecção de patologias e o diagnóstico precoce. A integração de dados de saúde, de forma que o paciente e as instituições de saúde consigam ver a pessoa de forma unificada, é fundamental. Cada pessoal poderia ter o RES completo, desde o nascimento até o momento atual, incluindo todas as internações, exames, cirurgias e demais intervenções médicas. Isso gera economia ao sistema de saúde, melhoras ao diagnóstico e conhecimento do paciente e ajuda o governo com indicadores precisos de saúde. Isso é especialmente interessante para o combate a surtos, endemias, epidemias e pandemias, particularmente da Covid-19.
Como o país tem avançado nessa área?
Há vários anos o SUS vem recomendando o uso de padrões abertos e apontado na necessidade de integrar dados de saúde de pacientes. Entretanto, há barreiras políticas e sociais a serem vencidas. Infelizmente os avanços têm sido lentos nessa área. Por outro lado, a tecnologia é cada vez mais ubíqua e barata. Hoje, o próprio smartphone pode ser transformado em uma poderosa e precisa ferramenta de diagnóstico. A tecnologia está entrando forte, não só na vida das pessoas, mas também nos hospitais e clínicas. Temos que avançar no sentido de integrar os dados, de forma padronizada e aplicar técnicas de inteligência artificial, como o aprendizado de máquina, para gerar indicadores precisos e em tempo hábil para a tomada de decisão.
O projeto que será desenvolvido no Programa de Pós-Graduação de Computação Aplicada da Unisinos contará com quatro bolsas de doutorado, duas de mestrado e três de posdoc. Como resultado, será produzido um sistema interoperável de informação e comunicação que armazena dados no padrão OpenEHR, através de uma Blockchain privada, em que cada parceiro constituirá um nó da rede. “Além disso, através do MinhaSaúdeDigital, será possível manter contato com os pacientes afetados por pandemias, para assistência e acompanhamento, gerando prognóstico e indicadores de saúde para apoiar o combate à Covid-19”, finaliza Cristiano.