Supercidades: você faz parte da solução

Professora da Unisinos utiliza estratégias de games para conscientizar a população sobre mosquito Aedes aegypti

Foto: Rodrigo W. Blum

Tecnologia de alta precisão, sistemas elétricos interconectados, processos automáticos para coletar, transformar e transmitir. Tudo isso faz parte das supercidades, mas o protagonismo cabe a outro agente: você.

Foi isso que concluiu a professora Elenise Rocha, coordenadora do MBA em Gestão de Recursos Humanos e mestre em Engenharia de Produção e Sistemas pela Unisinos, ao estudar dados das 100 cidades mais inteligentes e resilientes do mundo. “O principal componente das cidades são as pessoas, e elas desempenham um papel importante na mediação do impacto dos fatores e outras interrupções do sistema de governança”, avalia.

Foto: Rodrigo W. Blum

Ao compilar as premissas, Elenise descobriu que colocar a população em primeiro lugar é uma tendência entre as sociedades mais desenvolvidas. “Muitos órgãos públicos já perceberam que eles não podem planejar para os cidadãos, mas devem planejar com os cidadãos para que as informações e feedbacks políticos possam fluir em várias direções”, observa a professora.

Mais do que ouvir a opinião da população, isso significa engajar as pessoas em busca de soluções conjuntas. Para Elenise, o principal papel da cidade é estimular a participação e fortalecer a consciência do cidadão, tornando a gestão menos autoritária.

E foi a vontade de tornar os cidadãos mais engajados que a motivou a criar, junto a um grupo de jovens alunos e egressos da Unisinos, o game Caçadores dos Focos Perdidos, que usa processos de gamificação para conscientizar e ensinar a população a identificar focos do mosquito Aedes aegypti.

Gamificação é estratégia para engajar

Criado pelo programador e inventor britânico Nick Pelling, o conceito de gamificação (do inglês gamification) pode ser definido como a aplicação dos sistemas e estruturas dos jogos – desafios, fases, pontuações e recompensas – em contextos distintos, para estimular o engajamento e a interação de um público específico.

A estratégia combina incentivos lúdicos para transformar tarefas enfadonhas e exaustivas em ações divertidas, que cativem a atenção dos usuários sem perder de vista o objetivo principal – relacionado a áreas como educação, saúde, políticas públicas ou esportes.

É o que explica o professor Vinícius Cassol, coordenador do curso de Jogos Digitais da Unisinos: “Mecânicas e estratégias de games podem ser utilizadas em diferentes áreas e fazer com que usuários se engajem em processos de trabalho/estudo com a mesma vontade que os jogadores se empenham para finalizar um jogo difícil”.

A razão é simples. Quando o usuário deixa de ser espectador para virar um personagem, o envolvimento se intensifica. Vinícius explica que, especialmente na educação, o fato de o aluno construir a própria história ao longo do jogo contribui de forma decisiva para desenvolver o conhecimento. “No decorrer do caminho, ele passa a ter ciência de como suas ações o aproximam do objetivo, além de conhecer e concordar com as regras que o orientam”, argumenta.

E as cidades têm muito a ganhar com essa estratégia. “A gamificação torna a cidade uma plataforma aberta para a inovação, criando engajamento urbano através do game, o que pode gerar dados relevantes para a tomada de decisão e mapeamento da cidade”, resume Elenise.

Foto: Rodrigo W. Blum

Caçadores dos Focos Perdidos

Com lançamento previsto para agosto deste ano, o game Caçadores dos Focos Perdidos é uma iniciativa de Elenise na sua empresa RB Learning, situada no Tecnosinos. Contando com o apoio de estudantes e egressos da Unisinos, ela se inspirou nos estudos realizados na universidade para colocar em prática uma ideia inovadora.

Com lançamento previsto para agosto deste ano, o game Caçadores dos Focos Perdidos é uma iniciativa de Elenise na sua empresa RB Learning, situada no Tecnosinos. O objetivo do jogo é ajudar o cidadão a identificar focos do mosquito Aedes Aegypti – transmissor da dengue e do zika vírus – e tomar ações para eliminá-los.

De forma lúdica, o cidadão é inserido no contexto da cidade e assume a responsabilidade por administrar um bairro. A cada ação, ele recebe um feedback, seja para encorajar, corrigir ou estimular a luta contra os mosquitos. Ao eliminar os focos, é possível perceber a própria evolução e a melhoria no ambiente sob sua responsabilidade.

“Esperamos contribuir para que o sistema de aprendizagem através da gamificação seja propulsor da consciência do cidadão sobre o seu papel na cidade”, aponta Elenise. Por meio do game, a professora pretende criar uma consciência proativa, e não apenas reativa sobre os problemas da cidade.

A culpa é sua

O taxista costura o trânsito e ultrapassa pela direita. O pedestre não respeita o semáforo. O funcionário da produtora de shows cola cartazes em espaços públicos. A vizinha leva o cachorro para passear na rua e não recolhe os dejetos. O irmão lava a calçada com água corrente. E você?

É preciso tomar consciência do próprio valor para assumir a responsabilidade pelas mudanças. Quem atribui as mazelas da sociedade ao outro e nega a contribuição individual acaba se distanciando da cidade – e também das soluções.

Se a população não possuir uma sensação de pertencimento, não contribuirá de forma ativa. Quando a ideia de que a rua não tem dono é substituída pela noção de que a rua é de todos, inclusive sua, os hábitos começam a mudar.

Tecnologia impulsiona ações individuais

Nos estudos que realizou, Elenise descobriu que a tecnologia pode impulsionar o engajamento coletivo, ao despertar o senso de pertencimento entre a população. “Esse foi o diferencial que eu percebi ao longo dos estudos: tecnologias apoiando a formação, para gerar uma atuação autônoma dos indivíduos”, revela.

A professora explica que a tecnologia permite preparar as pessoas para que tomem decisões autônomas e deixem de depender do governo. “Dessa forma, o indivíduo se qualifica e se torna atuante”, resume.

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