Na busca por não deixar a memória do Holocausto se apagar, o cinema se aventura em inúmeras apropriações a partir do que viveram as vítimas do nazismo. O tema é delicado. Como representar um dos maiores crimes da humanidade? Para subsidiar este debate, a edição 501 da revista IHU On-Line, do Instituto Humanitas Unisinos, discute as leituras cinematográficas deste trágico acontecimento.
A atrocidade do genocídio que dizimou pelo menos 6,5 milhões de pessoas é imensurável. Um dos mais perversos capítulos da história da humanidade é definido genericamente como Holocausto, mas nem mesmo a linguagem é capaz de dar conta da complexidade desse momento. O psicanalista Robson de Freitas Pereira, um dos entrevistados nesta edição, publicada em 27 de março, destaca que a palavra Holocausto nunca foi considerada adequada para descrever o que aconteceu, já que etimologicamente significa “oferenda sacrificial”, algo que de fato não foi. Por isso ele prefere o termo hebraico Shoah. “É uma expressão que não tem uma tradução exata, está próxima de extermínio, mas não exatamente; assim, pode transitar de uma palavra, de um significante, para se transformar num nome”, explica.
Para o psicanalista Alfredo Jerusalinsky, fazer cinema a respeito do Holocausto “é uma forma de indagar como é possível que um povo – nessa ocasião o povo alemão – possa ter chegado a dar sustentação e legitimação às práticas mais violentas, cruéis e brutais contra outros povos e outros seres humanos”. A fruição desses filmes oferece a oportunidade de o espectador “perceber os efeitos de identificação com os personagens e como essas identificações impõem uma profunda revisão da ética em que cada um justifica os atos de sua vida”.
É importante não se perder de vista que o cinema nasce como uma indústria de produção cultural de massa. Assim, as leituras que faz do Holocausto são atravessadas por essa perspectiva. Por isso, a doutora em Comunicação e Informação Adriana Kurtz discute como esse dramático episódio da história tende a ser banalizado em nome de uma indústria voltada ao entretenimento. É uma perspectiva similar à do crítico cinematográfico Luiz Nazario, que pondera que essa história é, ao longo dos tempos, suavizada pelo viés do drama, do romance e até da comédia.
Luiz Vadico, professor da Universidade Anhembi Morumbi, acredita que o cinema contribui para exorcizar o Holocausto. Lyslei de Souza Nascimento, professora na Universidade Federal de Minas Gerais, compreende que a ironia, o humor e a arte podem ser caminhos para tratar a aspereza de fatos tão trágicos como o Holocausto.
Esta edição da IHU On-Line ainda traz um dossiê sobre o pensamento de Baruch Spinoza, por meio de entrevistas com Laurent Bove, professor da Universidade Picardie Jules Verne, na França, e Maria Luísa Ribeiro Ferreira, professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
O estado de crises em que se vive exige reflexões mais complexas. Egdar Morin, um dos pensadores contemporâneos que mais se entregou ao desafio de pensar a partir do paradigma da complexidade, é revisitado pelo sociólogo Giuseppe Fumarco. Na entrevista, analisa o momento presente e o que o papa Francisco denuncia como crise ecológica.
A revista também apresenta uma entrevista com o antropólogo André Borges de Mattos, que analisa a obra de um dos intérpretes do Brasil, Darcy Ribeiro, que transitou em diferentes campos do conhecimento, da antropologia à educação. Fernando Del Corona, mestrando em Comunicação, analisa o filme Silêncio no contexto da obra do diretor Martin Scorsese. E Rodrigo Duque Estrada, internacionalista, juntamente com Renatho Costa, professor de Relações Internacionais da Unipampa, assinam o artigo Independência ou guerra no Saara Ocidental. Tenha acesso ao conteúdo completo em Revista IHU On-Line.