Em uma tarde agradável de sol ameno, um grupo de idosos se diverte jogando câmbio, uma espécie de vôlei adaptado. Enquanto mudam de posição, na quadra montada especialmente para a atividade, eles dão dicas e aplaudem a cada boa jogada dos companheiros. Entre o grupo de baixa estatura, um estudante se destaca pela altura. Lucas Carvalho da Silva, que está no 3º semestre de Educação Física, orienta a atividade com carinho e atenção. O jovem, que escolheu sua profissão por gostar de judô, acabou encontrando outros caminhos na Universidade. Além de continuar treinando a arte marcial, ele também é estagiário no Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Idosos (Pró-Maior), onde dedica seu tempo a ensinar atividades físicas para pessoas acima dos 60 anos.
Lucas garante que aprende todos os dias, seja pelas diversas histórias de vida, seja pela forma como é tratado. “Eu nunca tinha trabalhado com idosos e uma das coisas que me chama a atenção é todo o carinho que eles têm com a gente, a doação deles é apaixonante. Eu não tive muito contato com meus avós e sentia falta desse carinho”, comenta. O programa, que hoje tem 19 atividades, começou em 1992, como um Núcleo Temático da Terceira Idade, que reunia professores interessados no envelhecimento. Com o passar dos anos, esse núcleo foi abrindo espaço para a participação da comunidade idosa, que passou a desenvolver atividades práticas dentro da Universidade. “Nesse momento, os estudantes começaram a entrar com maior força, por meio de estágios e de vivências junto aos idosos. Nesse período, iniciaram também disciplinas de graduação sobre o envelhecimento”, explica Suzana Wolff, coordenadora do projeto.
Para a coordenadora, a transformação dos estudantes ao terminarem suas participações no projeto é radical. “O aluno entra pela questão afetiva, pela curiosidade e sai com uma bagagem acadêmica e técnica muito boa. Aqui, ele tem a orientação de profissionais altamente qualificados e o próprio idoso é um agente de ensinamento. No Pró-Maior temos um princípio: a Universidade trabalha com vários saberes. O saber científico, claro, mas também o saber da vida, o não acadêmico. E, muitas vezes, esses idosos têm saberes que contribuem efetivamente na evolução dos estudantes”, avalia Suzana. Outro diferencial do programa, de acordo com ela, é que o aluno, ao chegar no projeto, se depara também com idosos voluntários que são professores. “Dessa forma, eles conseguem perceber o processo de aprendizagem por diferentes vieses, e isso os ajuda a refletir sobre como se relacionam com as pessoas, e os profissionais que são”, explica.
Após três anos no projeto, no qual entrou como voluntário, Lucas acredita ter se tornado um profissional mais capacitado. “Eu aprendi a me expressar melhor e consegui levar os ensinamentos daqui para outros grupos, outros lugares da minha vida. Também passei a perceber a profissão de forma diferente”, afirma o estudante, que ressignificou sua forma de ver a terceira idade.
Atualmente, o projeto é um serviço de convivência e está focado em atender os idosos. Apesar disso, se percebe cada vez mais a participação de estudantes, seja em disciplinas ou em estágios. Suzana acredita que isso acontece porque a velhice está mais presente na sociedade. “Nos últimos anos notamos que os idosos estão mais independentes, mais ativos. Esse novo perfil também instiga os estudantes”, comenta.