“Fomos parados pelo acontecimento coronavírus (Covid-19). No momento, o mundo está voltado para algo comum”, afirma a decana da Escola de Humanidades da Unisinos, Maura Corcini Lopes. Segundo a professora, diante desse panorama podemos fazer inúmeras reflexões, uma delas, que parece ser inevitável, é questionar qual o futuro do humano no século XXI?
“Como disse Judith Butler, em entrevista publicada pela BoiTempo, em 20/3/2020, o capitalismo está mostrando seus limites. Eu diria que o capitalismo, do tipo gestor e financeiro, segue se atualizando e tomando novas formas, mais criativas e tecnológicas digitais. Todavia, tal movimento de constante renovação, diante da crise global que vivemos exigirá, de nós, humanidade, esforços para diminuir a desigualdade mundial”, explica Maura.
Para a decana, momentos como esse nos convocam a retomada do humano e do coletivo. “Penso que ainda precisamos aprender que a minha vida ou a do meu filho não valem mais do que a vida dos outros. Seguimos ignorando os pobres e os miseráveis e acreditando que estamos preparados para atender as demandas por hospitalização e respiradores para todos. As equipes de saúde estão dando um exemplo de dedicação, solidariedade, cooperação e cidadania, mas carecemos de um espiritu corpus comum”, afirma.
Maura comenta que em uma pandemia em fase de contágio comunitário, qualquer um pode adoecer e transmitir o vírus. “Se tal ameaça não nos ajudar a colocar o humano com igual força na agenda do desenvolvimento glocal (local e mundial), é difícil que consigamos fazer isso em outro momento de forma espontânea. Mas, quem deve fazer isso? Todos em uma força-tarefa global orquestrada por princípios comuns humanitários”, pondera.
De acordo com a professora, precisaremos nos reinventar juntos e globalmente. “A solidariedade, a cooperação e a nossa capacidade humana de reinvenção e criação do novo deverão ser as forças postas em ação para construirmos um novo mundo, incluindo nele, a capacidade de enfrentarmos, no futuro, outras ameaças como a que hoje estamos vivendo. A reinvenção da vida passará pela consciência de que somos cidadãos globais e que habitamos um mundo digital, que tanto ameaça a nossa liberdade, gera fragilidades e precarização constantes, quanto nos potencializa. Aqui está colocado um impasse profundamente humano e, portanto, ético que deveremos encarar de frente”, encerra.