Pré-sal coloca carbonatos no centro de pesquisas

Reservatórios de petróleo armazenados em rochas carbonáticas, silicicláticas e mistas ganham destaque em estudos da Geologia

Arquivo Pessoal

“Olhar para rochas é como olhar para um livro impresso há milhões de anos, mas imagine um livro de cinco mil páginas, das quais você consegue ver apenas algumas, parcialmente rasgadas e meio apagadas. E você precisa reconstruir a história impressa no livro da forma mais precisa possível. Quando a gente olha para uma rocha, não tem a noção exata do tempo, os dados são muito limitados e com grande margem de imprecisão. Além disso, não existe uma máquina para voltar ao passado e testar o que de fato aconteceu”. Com essa metáfora, o coordenador do projeto “Serviços de Estratigrafia, sedimentologia e petrografia de sucessões siliciclásticas, mistas e carbonáticas na Bacia de Neuquén”, Paulo Paim, busca expor um pouco da complexidade da área da Geologia.

A pesquisa, que foi financiada pela Petrobras, teve como campo de trabalho a Bacia de Neuquén, no norte da Patagônia. Como Paulo nos explica, a partir da descoberta do pré-sal no Brasil, alguns tipos de rocha, que antes não eram os principais tipos de reservatórios no Brasil, ganharam uma importância enorme. Essas rochas são os carbonatos.

Segundo o pesquisador, os reservatórios do pré-sal, em grande parte, são formados de carbonatos, que são rochas compostas e/ou induzidas por elementos orgânicos, tais como esteiras microbiais, carapaças e corais. “Esse projeto representa um avanço nosso em direção a algo que passou a ter uma importância diferente, pois se insere dentro da descoberta do pré-sal e da revalorização deste tipo de rocha”, ressalta.

Saiba mais sobre o projeto na entrevista a seguir

Do que trata a pesquisa e para que ela serve?

Paulo: As rochas sedimentares, além da sedimentação carbonática, podem contemplar também sedimento ciliciclástico, que não são de origem orgânica, como areia e lama, ou seja, todo o material que é arrancado do continente e os rios carregam para dentro do mar. As rochas carbonáticas, como já mencionado, tem origem orgânica, e quando sedimentos siliciclásticos e carbonáticos se misturam, temos composições mistas. Entender melhor a relação entre rochas carbonáticas e siliciclásticas foi o objetivo central desse projeto.

Por que a escolha por esse tema?

Paulo: A escolha do tema atende a demanda externa do parceiro alinhada às linhas de pesquisa trabalhadas na universidade. Essa expertise em estratigrafia e sedimentologia, para uma compreensão básica das rochas, é que a Petrobras, nesse caso, busca na universidade.

Em quanto tempo a pesquisa foi desenvolvida e quem participou do projeto?

Paulo: O projeto durou dois anos e envolveu professores e pesquisadores do Brasil e da Argentina, além de estudantes de mestrado na área de Geologia.

Quais as principais contribuições trazidas pelo estudo?

Paulo: Compreender melhor a gênese dos carbonatos, a origem, como se formam, o que controla sua formação e como eles variam e se misturam com outras rochas. Esse conhecimento nos ajuda a prever as características de reservatórios de petróleo (rochas sedimentares com óleo e gás contido nos poros) originados de forma similar. Entender quando e o porquê as rochas se misturam ou não se misturam, é vital na pesquisa (busca) e na extração de petróleo.

Pretende continuar nos estudos relacionados a esse tema?

Paulo: Foi importante entrar em um campo que a gente conhecia pouco (carbonatos), já que é uma área que tem um futuro promissor em termos de desdobramentos de trabalhos. Por isto, esperamos continuar trabalhando com esse tema. No entanto, estamos começando um novo trabalho sobre turbiditos, tema de projetos de pesquisa anteriores a este.

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