Dupla titulação: Aluna realiza doutorado na França

Kadigia Faccin fala sobre experiências na produção de sua tese

Foto: Arquivo Pessoal

Eu fico extremamente orgulhosa em fazer parte da história do Programa de Pós-Graduação em Administração, como a primeira “cotutela” de tese do PPGA. A cotutela é o regime pelo qual um doutorando pode obter o grau de doutor simultaneamente em duas Universidades, tendo em cada um destas um orientador de tese. Fico quase sem palavras para expressar a riqueza da minha experiência!

A ideia para o desenvolvimento da minha tese nasceu nas discussões com meu orientador brasileiro, o professor Alsones Balestrin. Nós queríamos estudar quais os tipos de práticas colaborativas permitiam a criação de conhecimento e, portanto, a inovação, quando várias empresas trabalhavam conjuntamente em projetos de P&D. No decorrer do desenvolvimento da ideia de pesquisa, tornou-se relevante estudar estas práticas na indústria de semicondutores, que apresenta um dos processos de fabricação mais sofisticados e modernos. Assim, esperávamos que os resultados desta pesquisa pudessem prover uma compreensão mais refinada e abrangente sobre a gestão das práticas colaborativas de criação do conhecimento para melhorar o desempenho da inovação.  O professor Balestrin, foi essencial na discussão para a escolha da temática e no incentivo às minhas ideias. Me apresentou desafios e caminhos que me permitiram crescimento metodológico, teórico, acadêmico e pessoal.

Estudando na França

Com o tema de tese e a problemática definidos, encaminhei meu projeto para a Université de Poitiers e fui aprovada no processo de cotutela. Passei um ano em uma Universidade que existe antes mesmo do Brasil ser descoberto. A Universidade de Poitiers, fica em Poitiers, no centro-oeste da França às margens do Rio Clain. Poitiers é a capital do departamento de Vienne e da Região de Poitou-Charentes. Fundada em 1431, é a terceira universidade mais antiga da França e tem uma energia contagiante, rodeada por uma vizinhança e alunos célebres, como Michel Foucault e Rene Descartes.

Foto: Arquivo Pessoal

Na Universidade de Poitiers, fui acolhida no Instituto de Administração de Empresas (IAE), no laboratório CEREGE (Centre de Recherche en Gestion). A Universidade de Poitiers me recebeu de braços de abertos para que eu pudesse, da melhor maneira, conduzir a minha tese sob a orientação do professor Pierre Fayard. O professor Fayard, sempre foi um incentivador na busca pela liberdade na pesquisa. Ele se tornou para mim, muito mais do que um exemplo acadêmico, mas um exemplo de vida!

No ano que morei em Poitiers, tive várias oportunidades, em uma delas, fiz a minha primeira palestra internacional, em francês, na cidade de Cognac. Fiquei muito feliz e senti uma das melhores sensações de realização da minha vida.

A construção da tese

Fazer uma tese é difícil, requer trabalho, abstração, uma imensa carga de leitura, e uma capacidade para gerir dúvidas diariamente, por isso, amor pelo que se faz é fundamental! E de mansinho, quando minha coleta de dados começou, eu fui me deliciando com as descobertas! Minha coleta de dados aconteceu em Grenoble, cidade que me deixou ainda mais apaixonada pelo mundo da C&T&I e me apresentou um modelo de política pública setorial eficaz e colaborativa! Um verdadeiro exemplo de integração e combinação de conhecimentos extremamente diferentes para alavancagem de inovações radicais.

Foto: Arquivo Pessoal

Em Grenoble realizei 65 entrevistas, com 42 pessoas diferentes, vinculadas as 26 empresas que participaram do desenvolvimento do projeto colaborativo chamado de FD-SOI 28nm e, montei um inventário de dados com mais de 150 documentos diferentes. Analisei tudo isso usando um método processual, muito reconhecido pela academia europeia e americana, mas ainda incipiente nas pesquisas desenvolvidas no Brasil.

Durante o processo de analise de dados, resgatei a história do desenvolvimento do projeto colaborativo que começou na pesquisa básica e foi até o desenvolvimento experimental do produto. Assim, contei a história do projeto colaborativo desenvolvido nos últimos 15 anos (1999 a 2014) a partir da percepção dos atores que colaboraram na criação do transistor FD-SOI 28nm. Dessa forma, por meio da análise de dados, foi possível fornecer uma descrição pragmática das condições contextuais responsáveis pela emergência de um conjunto de práticas colaborativas utilizadas no projeto. Essa descrição processual, somada à identificação das práticas colaborativas adotadas para a criação do conhecimento, permitiu a compreensão da dinâmica vivenciada em projetos conjuntos de P&D.

Espero que os resultados encontrados na tese possam aumentar o conhecimento sobre a gestão de projetos colaborativos de P&D na indústria de semicondutores, assim como espero que esses resultados possam gerar reflexões governamentais, sociais e novas contribuições acadêmicas sobre a criação de conhecimento interorganizacional.

E, para fechar com chave de ouro o processo de “fazer tese” em cotutela, pude celebrar junto com a minha família, meus orientadores, meus colegas e a banca de professores brasileiros e franceses, o alcance da nota máxima 10 e a maior menção dedicada a uma tese, pela universidade francesa (“Très honorable avec félicitation du jury”). Eu estou muito feliz e realizada!

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