Pensar no Pampa é também pensar na cultura rio-grandense como um todo. O bioma está tão ligado ao estado que é quase impossível dissociar sua imagem da figura do gaúcho. Apesar de ocupar áreas do Uruguai e da Argentina também, essa região tem mais da metade de sua totalidade localizada no Rio Grande do Sul, além de ocupar 2% de toda a área do Brasil.
Levando essas características em consideração, o professor Gerhard E. Overbeck, da UFRGS, decidiu dar início a uma pesquisa com o objetivo de realizar o diagnóstico de toda a biodiversidade do Pampa. Todavia, não seria possível realizar uma tarefa que despendesse tantos esforços sozinho e o pesquisador acabou reunindo uma equipe de 120 pesquisadores de mais de 70 instituições diferentes. Entre esses profissionais, estava o professor da Escola Politécnica da Unisinos, Alexandro Tozetti.
Alexandro, que é também coordenador do laboratório de Ecologia de Vertebrados Terrestres, contribuiu na área de anfíbios, que abriga cerca de 62 espécies somente no Pampa. O pesquisador explica a importância desses animais, que ajudam os cientistas a terem uma ideia da influência do homem no ambiente. “Esses animais têm sido muito usados como indicadores dos ecossistemas. Muitas espécies de sapos, pererecas e rãs são sensíveis a alterações no ambiente. Então em algumas espécies, se você tira a floresta elas rapidamente vão desaparecer, em outras se você usar agrotóxico ou pesticida, mesmo que muito longe, elas vão desaparecer. Eles são uma peça-chave no que a gente chama de bioindicadores”, explica o professor.
As análises de todos os pesquisadores em conjunto permitiram a criação de um levantamento super detalhado das espécies encontradas no bioma. Com dados que vão desde as plantas e insetos, até o número de carnívoros, é possível agora ter uma ideia muito mais próxima da realidade, em especial ao saber o número de espécies encontradas lá. O professor ainda conta que, apesar de terem uma ideia desses números, ainda assim houve descobertas que não eram esperadas. “Nós não tínhamos ideia do número enorme de espécies de algas e de fungos que existiam”, ressalta.
Outra descoberta foi que, apesar de ocupar somente 2% do Brasil, os pampas abrigam cerca de 9% da biodiversidade brasileira. “Importante, a biodiversidade brasileira é uma das maiores do mundo, então nós estamos falando de 9% dentre o top do mundo”, exemplifica Alexandro. Além disso, uma das surpresas foi que existem fortes indícios que o número de espécies identificadas na região pode subir ainda mais, o que explica o nome do artigo (em tradução livre) publicado “12,500+ e contando: biodiversidade do Pampa Brasileiro”.
Apesar da pesquisa inicial servir como forma de agrupar as informações sobre as espécies do Pampa em um só lugar, é possível que no futuro ela abra portas para muitos outros estudos. “Agora a gente tem indicações para fazer para os próximos pesquisadores, do tipo: você tem muitas espécies novas para descobrir de formigas, então isso vai direcionar grupos que talvez trabalhem no Cerrado ou na Amazônia a ter atenção para o Pampa também”. O mais importante, contudo, é que esses estudos podem vir a ser importantes para a preservação da região: “Agora que a gente sabe quem vive na região, vamos poder começar a fazer pesquisas com perguntas mais complexas, do tipo: Como as mudanças climáticas afetam a biodiversidade?”.
Um dos biomas mais importantes do Brasil, o Pampa é também relevante devido a sua “sociobiodiversidade”, explica o professor: “Você consegue imaginar a cultura gaúcha sem o Pampa? Boa parte do que seria o imaginário do gaúcho é de uma pessoa a cavalo cavalgando pelos campos”, destaca. Esse bioma, então, pode ser reconhecido como um dos mais importantes do Brasil, não somente pela sua grande biodiversidade, mas também por sua importância cultural.