Um estudo realizado entre 2016 e 2018, coordenado pela professora Larissa Rosa de Oliveira do Programa de Pós-Graduação em Biologia da Unisinos, ganhou a capa da revista científica internacional Hydrobiologia em maio deste ano. A pesquisa, através de técnicas de morfometria tradicional e geométrica analisou o tamanho e a forma de dezenas de crânios de tartarugas marinhas da espécie Caretta caretta (Tartaruga-cabeçuda). “Os crânios foram coletados de indivíduos encontrados já mortos ao longo de 270 km no litoral do gaúcho. A amostra foi reunida entre os anos de 1994 e 2017 pelo Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos do Rio Grande do Sul. Estes indivíduos provavelmente morreram devido à atividade pesqueira da região, além de também sofrerem com a ingestão de resíduos antropogênicos”, explica Eduardo Lunardon, egresso do PPG em Biologia e primeiro autor do artigo.
Eduardo, durante seu curso de mestrado descreveu as alterações ontogenéticas no crânio dos espécimes da tartaruga-cabeçuda que utilizam o Oceano Atlântico Sul Ocidental durante parte do seu desenvolvimento. “Os resultados demonstraram que há um padrão de transformação nos crânios, onde indivíduos mais jovens possuem um crânio mais alongado e achatado, enquanto animais mais velhos têm um crânio mais arredondado e robusto. Isto sugere que essas alterações cranianas estejam associadas com a mudança de dieta dos espécimes de tartarugas-cabeçudas, proporcionando ao crânio maior resistência mecânica e permitindo uma mudança na estratégia de alimentação de organismos moles para presas com casca dura” afirma.
Esse resultado destaca a importância do litoral sul do Brasil para o ciclo de vida da tartaruga-cabeçuda, onde, nesta região, os indivíduos alteram a forma craniana para se adaptarem ao novo nicho ocupado e, assim, garantir o sucesso ecológico da espécie. “Esse trabalho dará suporte científico, a partir de dados e análises concretas, para que haja um aumento no esforço de conservação dessa área de desenvolvimento das tartarugas-cabeçudas”, destaca.
A captura incidental por barcos pesqueiros é considerada a principal ameaça às populações de tartarugas marinhas no mundo, sobretudo, a pesca de arrasto e a pesca com espinhéis. “Tais práticas geram enormes danos a uma grande diversidade de espécies e, consequentemente, ao meio ambiente. No litoral do RS, está localizada uma área de desenvolvimento de tartarugas de extrema importância. Esta etapa da vida das tartarugas é vital para que consigam chegar à fase adulta e, assim, assegurar a continuidade da espécie”, finaliza.