Parecia um comentário inocente

Redes sociais refletem quem somos e quem queremos ser enquanto figuras públicas

Tem gente que percebe, tem quem desconfia e mesmo quem duvida, mas o fato é: estamos sendo monitorados. Nem é preciso entrar na questão da dita compra de dados por parte das grandes corporações, basta reparar em tudo o que se sabe sobre a vida alheia graças às redes sociais. De fulano cortou o cabelo até beltrano tem problemas com o chefe, a linha de fronteira é tênue. Um deslize no bom senso e pronto, o que era privado torna-se público e o que era sossego pode virar dor de cabeça.

Quando episódios de exposição acontecem e repercutem de forma inesperada, danos à imagem são só a primeira das consequências. “Todos os conteúdos que compartilhamos constroem sentido sobre quem somos e quem queremos ser, como um diário aberto”, esclarece a assessora de imprensa e professora dos cursos de comunicação da Unisinos Cybeli Moraes. “Se uma pessoa expõe algum dado de sua vida íntima, por exemplo, é natural que a imaginemos nesta situação, e essa associação adere como uma marca, e especialmente ao papel que a pessoa desempenha, social e institucionalmente.”

Não que as redes sejam problema, pelo contrário, são canais adequados tanto à convivência, quanto à produção e circulação de conteúdo relevante e de entretenimento. Mas o uso individual, sem a reflexão sobre as consequências que as postagens ou comentários podem ter, é que representa sinal de alerta, afinal, reflete a reputação do indivíduo enquanto figura pública. E mais: pode interferir na vida do outro, aquele que, sem entender por que, acaba envolvido na situação. “Os círculos de amigos proporcionados pelas redes são cada vez mais populosos, ou seja, é muito fácil estar conectado com muitas pessoas, ainda que indiretamente, que você não conhece, mas que acabam se relacionando com tudo o que você compartilha”, comenta Cybeli.

Em ambientes virtuais, toda ação gera uma reação, por isso, vale lembrar que ter a possibilidade de dar opinião não significa estar sujeito à manifestação compulsória. Nas redes sociais, então, é ainda mais fácil confundir o direito à liberdade de expressão com a falsa necessidade de posicionamento – o que gera bites de lixo informacional e, com frequência, consequências jurídicas. Tudo começa por um comentário inocente.

Para evitar incômodos, o primeiro passo consiste em pensar o que se quer deixar para a posterioridade. Depois, cabe ponderar sobre a relevância das práticas. “O que eu tenho a dizer vai contribuir, tem pertinência, é passível de aproveitamento?”, questiona a professora. Por fim, mas não menos importante, saber o destino que se pretende dar ao meio de comunicação em si – o que espero que a rede diga sobre mim? “Muitos sites de redes sociais não foram criados com este objetivo, de serem quase um veículo institucional de alguém, mas esse uso está sendo dado a eles, desde as empresas de recrutamento até a escolha na hora de adicionar, seguir ou bloquear amigos. Por isso, é preciso dar um sentido próprio e reflexivo a estes espaços”.

O professor Ederson Locatelli, que atua com Formação Docente, complementa: “Um exercício importante é, ao publicar algo, imaginar todos os seus contatos na sua frente e pensar se externalizaria isto a eles, pois a cibercultura não é um universo paralelo, mas tem tudo a ver com a sua vida”.

Confira dicas e saiba mais sobre práticas nas redes sociais assistindo ao vídeo a seguir.

O nosso website usa cookies para ajudar a melhorar a sua experiência de utilização.

Aceitar