Júlio Brenner é graduado em Ciências Contábeis e pós-graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal de Santa Maria. Cadeirante há 56 anos, sempre procurou fazer a diferença onde vive. Com esse propósito em mente, fundou a Associação Santamariense de Deficientes Físicos, foi presidente do CPM do Instituto de Educação Olavo Bilac e Vereador de Santa Maria de 1997 a 2008.
Desde 2002, é presidente da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Santa Maria, que atende aproximadamente 120 alunos com deficiências intelectuais e múltiplas, liderando o processo de transformação da instituição em escola e clínica de saúde.
Conheça um pouco mais sobre Júlio, que é palestrante do TEDxUnisinos 2014, na entrevista a seguir:
Infelizmente, ser cadeirante no Brasil tem lá suas dificuldades. Para você, que vivencia isso há mais de 50 anos, o que é mais complicado: a questão da falta de acessibilidade ou a de lidar com possíveis preconceitos?
Júlio: É mais complicada a questão da falta de acessibilidade, pois ainda existem alguns locais de difícil ou nenhum acesso para mim ou para outros cadeirantes, o que me limita de certa forma. Mas admito que no decorrer do tempo melhorou muito. Essa sempre foi, por exemplo, uma das importantes metas das minhas gestões como legislador da cidade, e as próprias políticas públicas atuais estão possibilitando melhorias nesse sentido. Mas ainda temos um longo caminho a percorrer. Quanto ao preconceito, é algo que nunca me afetou, acho que porque sempre fui respeitado por todos, principalmente por nunca desanimar, ser estudioso, trabalhador, e sempre rodeado de amigos.
O que a sociedade tem a aprender com cadeirantes? Falta um olhar atento às necessidades e potencialidades dessas pessoas?
Júlio: Tem bastante para aprender, porque o cadeirante acaba tendo uma nova perspectiva sobre a vida, valorizando-a mais e se superando diariamente com a desafiante rotina. Mas, principalmente, aprender a enfrentar as dificuldades, muitas vezes pequenas, que os ditos “normais” transformam em enormes. Falta proporcionar capacitação para que as potencialidades sejam aproveitadas e para que os cadeirantes possam ter uma vida mais digna.
A APAE de Santa Maria, da qual você é presidente, passa por um processo de transformação da instituição em escola e clínica de saúde. De que forma isso vem acontecendo?
Júlio: Vem acontecendo com bastante esforço e atenção dos profissionais envolvidos no processo, principalmente em relação à burocracia que acompanha o processo de implantação e evolução. Basicamente, estamos realizando as adaptações necessárias nos prédios, aquisição de materiais necessários, treinamentos dos funcionários e voluntários, assim como a legalização através dos documentos necessários. Também será necessária uma mudança na cultura da organização, mas é algo que é importante e nos satisfaz, pois temos certeza que o atendimento às pessoas com deficiência intelectual será melhorado.