A surpresa de um Anfiteatro Pe. Werner lotado não afetou a qualidade da palestra de Claudi Carreras, na aula inaugural dos cursos de comunicação social na noite de 30/3. “Quando me chamaram para falar, achei que seria para uma turma do curso de fotografia com, no máximo, 15 alunos”, disse o fotógrafo, pesquisador, curador e, na ocasião, palestrante, iniciando sua fala. Apresentando o convidado e abrindo os trabalhos da noite, Beatriz Sallet, coordenadora do curso de fotografia, convidou Tiago Coelho, professor da mesma graduação, para fazer a mediação do evento.
Com a apresentação de sua pesquisa intitulada “Latino América revelada: a imagem no século XXI”, Claudi falou sobre como é retratada a cultura e o povo do grupo de países e os estereótipos gerados pelas abordagens fotográficas que são feitas por fotógrafos desde as primeiras explorações ao local. Para iniciar seu raciocínio, o palestrante propôs um exercício à plateia: “fechem seus olhos e pensem na primeira imagem que vem as suas cabeças quando vocês ouvem as palavras América Latina”, sugere. As respostas que vieram em seguida, ilustraram qual é o estereótipo sobre o qual a sua fala iria se desenvolver: “índios”, “pobreza”, “exploração”, “Amazônia”, exclamavam os estudantes.
“As primeiras fotografias da América Latina que foram mandadas aos europeus eram montadas e vendiam uma imagem sob a perspectiva do exótico, do misterioso e do mágico”, explicou o palestrante. De acordo com ele, são essas perspectivas que geraram uma identidade visual de nossa cultura e do nosso povo, que segue sendo explorada, mesmo por aqueles que retratam seu próprio entorno. Mostrando o trabalho de diversos fotógrafos, Claudi lançou diversos questionamentos retóricos à plateia, desafiando os estudantes a pensarem sobre suas atividades como profissionais de comunicação: Para que, para quem e sob qual perspectiva estamos produzindo nosso conteúdo?
Em sua pesquisa, Claudi analisa exposições sobre os países latino-americanos desde 1978, e diz que ainda não conseguimos questionar essa imagem que temos de nós mesmos. O que podia ser visto pelos trabalhos de auto representação que o palestrante apresentou, onde fotógrafos que, ao retratar seu entorno, reforçavam esses estereótipos. Para ele, esses trabalhos podem ter, sim, um cunho crítico ou de denúncia, mas é preciso ter cuidado para não abordar de maneira exploratória as pessoas ou assuntos, ou então, tomar outras perspectivas. “Por que não vejo trabalhos fotográficos abordando as cidades, construções, desenvolvimento, etc. O lado bom da América Latina?”Ou ainda: “Seria interessante, ao invés de vermos sempre pessoas ricas fotografando pobres, vermos pobres fotografando ricos, ricos fotografando ricos, pobres fotografando pobres”, diz, mostrando os trabalhos de Daniela Rossel, Frederico Gama, coletivo Limaphotolibre, entre outros, que ilustravam essas duas últimas situações.
A aula terminou nesse mesmo clima de questionamentos e reflexão com perguntas e apontamentos dos alunos e convidados, após uma provocação de Claudi ao mostrar um vídeo do coletivo VersusPhoto, que trazia a representação de uma síntese imagética caótica da América Latina. O evento encerrou com uma salva de palmas e a entrega de um presente ao palestrante pelas mãos de Beatriz Sallet.