O caminho inverso

Professora de Português para Estrangeiros, Patrícia prepara alunos de diferentes nacionalidades para o convívio no Brasil

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Patrícia Barbosa não pensava que o inglês poderia ser útil ao ensino do português até descobrir o contrário no Unilínguas. É com o conhecimento adquirido nas aulas do primeiro idioma que ela se aproxima dos alunos do segundo. A professora de Português para Estrangeiros – e também de inglês, que valeu por si só – compartilha a sala de aula com estudantes de diferentes nacionalidades, preparando-os para o convívio em nosso país.

“Sempre ensinei o inglês e sei as dificuldades que o nativo do português tem para aprender o inglês, mas nunca tinha pensado no oposto. Então agora estou vendo as dúvidas ao contrário. ”

Patrícia Barbosa, professora do Unilínguas

Conte-nos sobre sua formação acadêmica

Patrícia: Comecei minha história com o inglês na adolescência. Fiz cursinho do idioma quando estava no Ensino Médio, e depois, na faculdade, decidi pela graduação em Letras em função de gostar de estudar línguas. Me formei em 2001, pela FAPA. Em seguida, entrei para a pós-graduação no Unilasalle, sempre na área do inglês. Na época, eu pensava no mestrado, então o objetivo era me especializar para chegar ao mestrado. Durante esse período, fui para Londres, em 2004, com a intenção de realizar um curso, mas aí já estudava francês e pensei “com esse dinheiro do curso eu poderia ir para a França”, e fui, apenas como turista. Conheci o Rotary [Fundação Rotária] e ganhei uma bolsa de estudos, em 2007, para passar um mês nos Estados Unidos.

Como professora, visitei universidades e outros lugares relacionados à minha profissão, para conhecê-los e também para divulgar o Brasil, mostrar o que o país estava fazendo. Depois, quando eu e o restante do grupo voltamos, viajamos bastante por aqui para compartilhar o que a gente viu lá fora, como uma troca. E desde então estou envolvida com o Rotary. Em 2009, surgiu outra bolsa de estudos de um ano, em média, e como eu já estava tentando fazer o mestrado aqui, optei por fazê-lo na Oakland University, em Michigan, nos Estados Unidos. Foi bem frio, mas bem interessante (risos). Num primeiro momento, morei em um dos dormitórios da instituição, mas, como saia caro, depois aluguei um quarto na casa de um casal americano. Eles se tornaram minha família. Quando voltei de vez, comecei a trabalhar na Unisinos, em março de 2011.

Como professora de português ou inglês?

Patrícia: Inglês. Português para estrangeiros, na verdade, é um projeto recente do instituto.

Quando começou o ensino desse idioma?

Patrícia: Por volta de 2010, mas a gente sempre teve bastante aluno particular, que procurava o curso por causa de intercâmbio. Agora estamos com turmas.

Você sempre trabalhou como professora?

Patrícia: Sim, no início, eu trabalhei como secretária, recepcionista, mas logo depois, quando comecei a faculdade, passei ao estágio mesmo.

E a motivação para ser professora veio lá do Ensino Médio?

Patrícia: Também. Na verdade, sempre quis ser professora e sempre gostei de estudar idiomas. Até o mestrado, quando fiz, foi na área de linguística, do estudo das línguas.

Como é o ensino do português no instituto?

Patrícia: No momento, tenho uma aluna particular de português, que é a professora de coreano aqui do Unilínguas, a Heeyeon. Ela chegou sem nenhum conhecimento do idioma, nós começamos do zero e agora ela já está falando, é impressionante. Essa é uma das características da aula particular, isso de focar nas necessidades do estudante.

Qual a dinâmica dessas aulas?

Patrícia: Nós temos diversos materiais. No início – não do projeto, mas quando eu comecei a trabalhar com ele – a gente utilizava livros parecidos com os que existem nos outros idiomas. Normalmente, quando a língua nativa do aluno é o inglês, as primeiras aulas são feitas assim, para situá-lo. Conforme ele avança, passamos ao português. Agora usamos um material específico, que conhecemos melhor. Mas também incluo muitas coisas de entrevistas, TV, revistas e até da novela, que eles gostam bastante.

De onde vêm os alunos?

Patrícia: Já tivemos alunos da Austrália, dos Estados Unidos e da Coreia do Sul.

E por que eles procuram o curso de português?

Patrícia: No caso da Heeyeon, é porque veio ao Brasil para lecionar. As outras pessoas procuraram por motivos particulares de turismo e intercâmbio. Nos intercâmbios, os alunos tiveram um curso introdutório do idioma no país de origem, e aqui encontraram o “português real”, da prática. Era uma aula bem de conversação, não de regras básicas. Na primeira aula, fomos dar uma volta pelo campus, por exemplo.

Fora sua atuação como professora, o que mais você faz?

Patrícia: Atualmente, minha maior ocupação é a mudança de Gravataí para São Leopoldo. Fora isso, eu saio, sou normal (risos). Gosto bastante de viajar, não viajo tanto quanto gostaria, mas gosto.

Tem planos para voltar aos países já visitados?

Patrícia: Sim, de visitar os Estados Unidos de novo, inclusive a família que me acolheu lá, e eles também vão vir para cá. Tenho bastantes contatos de pessoas que querem conhecer o Brasil e de quem eu mesma quero voltar a ver. Quem sabe estudar em outro país agora também seja uma possibilidade.

Quais aspectos culturais você considera importantes para o aprendizado de uma língua?

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Patrícia: Acho legal usar situações práticas em sala de aula. Por exemplo, para inserir bem os alunos estrangeiros em nossa cultura, é interessante ir a algum lugar para entrevistar alguém real, falar diretamente com essas pessoas. Quando estudamos sobre comida, podemos almoçar juntos em algum restaurante, talvez no R.U., ou seja, tentar trazer a prática para a realidade de quem está aprendendo. No inglês também, hoje está muito difundida essa cultura de séries e filmes. Então, quanto mais a gente puder aproveitar isso, melhor. O real aproxima, facilita. É isso que tento fazer.

No que os alunos apresentam mais dificuldade?

Patrícia: Conjugação de verbos, em português, é bem complexo. Nossa cultura é muito viva, muito rica, tem de tudo, e isso é legal, mas para os estrangeiros é algo muito distante. A gramática da nossa língua, comparada a outras, é complicada, mas pode sim ser aprendida. Sabe o que é legal? Eu mesma senti isso como um desafio: eu nunca pensei que usaria todo o conhecimento que adquiri do inglês para fazer o sentido inverso. Sempre ensinei o inglês e sei as dificuldades que o nativo do português tem para aprender o inglês, mas nunca tinha pensado no oposto. Então agora estou vendo as dúvidas ao contrário.

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