Com o objetivo de promover o fortalecimento das relações internacionais para o desenvolvimento da região e a disseminação de ciência de última geração na área de Nutrição e Alimentos, a Unisinos promove o II Internacional Summit in Nutrition, Health and Nutraceuticals. O evento ocorre nos dias 26 e 27 de setembro, no Auditório da Unitec. O primeiro dia contou com a presença do reitor, Pe. Marcelo Fernandes de Aquino; da decana da Escola de Saúde, Denize Ziegler; da coordenadora do itt Nutrifor, Renata Ramos; profissionais atuantes no mercado e acadêmicos da universidade.
No dia 26, Rosires Deliza, engenheira de alimentos da Embrapa, compartilhou conhecimento sobre a importância da análise sensorial na criação de produtos com menos açúcar, sódio e gordura. E Daiana de Souza, professora do PPG em Nutrição e Alimentos da Unisinos e pesquisadora no itt Nutrifor, elucidou aspectos da tendência dos rótulos limpos e os desafios para colocá-la em prática no Brasil.
Por alimentos mais saudáveis
Apesar da nítida vontade de ter qualidade de vida, a população ainda pratica pouco exercício físico e se alimenta mal. O Brasil detém 20% da obesidade da América Latina, e o consumo de açúcar aumentou nos últimos anos. Independentemente de muitos alimentos industrializados parecerem atender à saudabilidade nas prateleiras do mercado, eles apontam altos teores de açúcar, sódio e gordura.
Por esse motivo, Rosires Deliza, engenheira de alimentos da Embrapa há 20 anos, sustenta a importância da análise sensorial para o consumo de alimentos mais saudáveis. A análise sensorial é uma ciência utilizada para medir e avaliar as sensações percebidas pelos sentidos da visão, olfato, gosto, tato e audição e que influenciam na escolha dos alimentos. Esses estudos podem contribuir para a alteração dos alimentos, sem deixar de lado as características reconhecidas pelos compradores, como gosto, cheiro, textura.
Com base no contexto, a redução desses ingredientes prejudiciais à saúde é emergencial. “Nós ingerimos muito mais açúcar do que o necessário pelos produtos industrializados. Esses índices podem ser reduzidos”, afirma a especialista. Rosires sinaliza que é preciso mudar, especialmente, por causa das crianças, para incentivá-las a saberem se alimentar melhor desde a infância. Um dos produtos analisados pela Embrapa, com o objetivo de reduzir o açúcar, justamente por esse motivo, foi o achocolatado em pó. Ao final, conseguiu-se diminuir 20% do teor. Visto isso, a pesquisadora destaca a importância de tratar a criação de alimentos para crianças com seriedade, para que não se precise ingerir açúcar, sódio ou gordura em demasia, agravando problemas de obesidade desde os primeiros anos de vida.
Estudos mostram que a redução gradual pode ser uma estratégia positiva para a redução de açúcar, sódio e gordura. Essa alteração de composição é possível pela substituição de ingredientes, interação entre modalidades sensoriais, isto é, aliar paladar e olfato, e aumento da intensidade sensorial. “Utilizar suco de maçã no suco de laranja como alternativa de adoçante é uma estratégia bastante inteligente de reduzir o teor de açúcar, sem que se perca o prazer do alimento”, exemplifica.
Em conclusão, para atingir objetivos concretos, Rosires coloca como necessária a reformulação de produtos processados, o planejamento de políticas públicas, o planejamento de estratégias de comunicação e a promoção de mudança nos padrões de preferência. Ela destaca que também é crucial facilitar a compreensão dos rótulos pelos consumidores e atrair a atenção para a observação das informações nutricionais.
Uma advertência transparente
Daiana de Souza, professora da Unisinos e pesquisadora no itt Nutrifor, lembra, na sequência da fala de Rosires, o poder dos rótulos para o consumo de alimentos mais saudáveis. A falta de informação sobre as características nutricionais dos produtos ainda é um agravante da má alimentação da população. Como uma estratégia para mudar essa realidade, surgiu, no mundo, a tendência de clean label (rótulos limpos), com a finalidade de apresentar com mais clareza e simplicidade a composição aos consumidores, além de priorizar ingredientes naturais e alimentos menos processados.
A tendência passou a ser reconhecida como padrão no mundo a partir de 2015. Mas o Brasil permaneceu tímido à questão. Ainda hoje, é considerado de nicho, apesar da latente demanda. Daiana destaca que, aqui, a tendência de clean label é um conceito criado e utilizado pelo mercado, mas ainda não chegou aos produtos por falta de legislação, e os consumidores, por não estarem habituados e informados, não reconhecem as diferenças. “A principal preocupação da indústria, quando se fala em clean label, é o consumidor. Quem compra, deve saber sobre esse alimento, a origem, a composição”, afirma.
A pesquisadora lembra que, por ser um mercado de diferenciação, os preços dos produtos que seguem a tendência clean label também permanecem para um público seleto. O desafio, segundo ela, ainda é unir áreas ligadas à saúde para incentivar a mudança na legislação, que se torna obsoleta diante das transformações já conquistadas no exterior. A popularização de rótulos mais transparentes para todos os consumidores impactará diretamente na análise igualitária dos produtos à disposição, na redução no preço de produtos mais saudáveis e no aumento de qualidade de vida por meio de melhores escolhas para o dia a dia alimentar.