Novas espécies de planárias são descobertas

Professora do Programa de Pós-Graduação em Biologia da Unisinos liderou a pesquisa

Crédito: Divulgação

Nos últimos três anos, a professora do Programa de Pós-Graduação em Biologia Ana Maria Leal-Zanchet, juntamente com sua equipe, esteve à frente de estudos que levaram à descoberta de mais 40 espécies de planárias desconhecidas, entre elas os platelmintos: Cratera aureomaculata, Cratera nigrimarginata e Cratera cryptolineata.

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O projeto analisou as comunidades de planárias terrestres. “A biodiversidade da nossa região é extremamente alta. Especialmente dentre os invertebrados, há muitas espécies ainda não conhecidas”, explica Ana Maria.

Segundo a professora, os resultados obtidos com essas pesquisas são utilizados para entender a evolução da vida no planeta e podem ser usados na preservação dos ambientes estudados. Confira abaixo a entrevista completa e saiba mais sobre essa importante descoberta para a área da Biologia.

Fale um pouco sobre a pesquisa:

Ana Maria Leal-Zanchet: A pesquisa foi desenvolvida de 2013 a 2016, sendo financiada pelo Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD), do CNPq. O estudo dessas espécies, através de atividades desenvolvidas no laboratório, foi realizado principalmente nos dois últimos anos. Um grande número de espécies (50) foi registrado nas áreas de estudo, na Floresta com Araucária, dos estados do Paraná e de Santa Catarina, e vários indivíduos de cada espécie foram processados e analisados no laboratório nesse período.

Quem participou do estudo?

Ana Maria Leal-Zanchet: A pesquisa está inserida em um projeto interinstitucional, desenvolvido sob a coordenação geral do professor Carlos Sanquetta, da Universidade Federal do Paraná. Nosso grupo foi convidado a participar, desde a elaboração do projeto para análise pelo CNPq, em 2012. Do grupo que desenvolve pesquisas com planárias, na Unisinos, participaram vários mestrandos e doutorandos do PPG Biologia e alunos da graduação em Biologia e também outros pesquisadores do PPG Biologia, em diversas etapas da pesquisa. No sub-projeto, sob a minha coordenação, está inserida a dissertação de Ilana Rossi, a qual foi essencial para atingir os objetivos do sub-projeto, tendo desenvolvido as atividades de campo e organizado os dados científicos obtidos pelo sub-projeto.

Qual era o objetivo principal da pesquisa?

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Ana Maria Leal-Zanchet: O objetivo do projeto geral foi analisar a ecologia de áreas de Floresta com Araucária e suas transições (outros tipos de florestas e outros ecossistemas). O objetivo geral do sub-projeto do meu grupo de pesquisa foi analisar as comunidades de planárias terrestres nas áreas de estudo, isto é, saber quais as espécies de planárias ocorrem nas áreas de estudo e como se distribuem nesses locais (qual a diversidade de espécies nos locais, quais são as espécies dominantes etc). Ocorre que, como já havíamos desenvolvido pesquisas sobre comunidades de planárias aqui no Rio Grande do Sul, nossa expectativa era encontrar um grande número de espécies, sendo muitas delas ainda desconhecidas do ponto de vista científico.

Como aconteceu essa descoberta?

Ana Maria Leal-Zanchet:  Nas áreas de estudo do projeto, nos estados do Paraná e Santa Catarina, foram registradas 50 espécies de planárias, das quais apenas seis são espécies conhecidas. As demais são espécies que estão sendo estudadas para serem identificadas e catalogadas. Dentre essas espécies novas, três foram descritas no artigo recentemente publicado na revista Zookeys.

O que essa descoberta traz de importante para área?

Ana Maria Leal-Zanchet: Sabe-se que a biodiversidade da nossa região (Neotropical) é extremamente alta. Especialmente dentre os invertebrados, há muitas espécies ainda não conhecidas. Em geral, para identificar e descrever essas espécies, do ponto de vista científico, é necessário o trabalho de um taxonomista. Esses pesquisadores se especializam em conhecer determinado grupo de organismos, estudando a morfologia desses animais, seus ambientes de ocorrência, a forma como evoluíram e suas interações com o ambiente. Os resultados obtidos com essas pesquisas são utilizados para entender a evolução da vida no planeta e podem ser utilizados para preservação dos ambientes estudados.

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A pesquisa terá continuação? 

Ana Maria Leal-Zanchet: Sim, as pesquisas com planárias iniciaram há mais de 60 anos, sob a coordenação do professor Josef Hauser, jesuíta e um dos fundadores do curso de História Natural da Unisinos. O professor Hauser trabalhava principalmente com planárias aquáticas, estudando diversos aspectos da biologia desses organismos. Já as pesquisas sobre planárias terrestres em áreas florestais, com enfoque na biodiversidade, foram iniciadas pelo nosso grupo nos anos 1990. Já havíamos desenvolvido projetos semelhantes aqui no Rio Grande do Sul, em áreas de Floresta com Araucária e em outras formações florestais. Diversas espécies registradas durante a execução desses projetos já foram catalogadas, mas ainda há muitas outras a serem estudadas, inclusive abordando aspectos relacionados à forma como evoluíram e atingiram tamanha diversidade na região.

Como a senhora se sente ao liderar um estudo que trouxe uma descoberta tão importante, com grande repercussão sobre o assunto?

Ana Maria Leal-Zanchet: Desenvolver esse tipo de descoberta faz parte do dia a dia de um pesquisador. Alguns resultados científicos alcançam maior divulgação do que outros, mas não é a divulgação desses resultados, em si, o aspecto mais importante. Resultados científicos dessas pesquisas são e continuarão sendo reconhecidos ao longo de séculos na literatura científica internacional, além de gerarem subsídios para a preservação ambiental a curto prazo. O mais importante não é a repercussão imediata, mas sim o acúmulo de conhecimento científico gerado por cada projeto e o reconhecimento de sua relevância a médio e longo prazos.

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