No mês dos namorados, um longo e sinuoso “cortejo amoroso” poderá ser acompanhado no céu durante as próximas semanas, protagonizado pelos dois planetas mais brilhantes do firmamento, ou seja, Vênus e Júpiter.
Na mitologia, Vênus (para os romanos) ou Afrodite (para os gregos), era a deusa do amor, enquanto Júpiter (para os romanos) ou Zeus (para os gregos), era o rei dos deuses, famoso por seus múltiplos relacionamentos.
A sequência de eventos poderá ser acompanhada sempre após o por do Sol, durante o cair da noite, olhando-se para a direção noroeste, e oferecerá, a cada dia, uma configuração diferente dos dois planetas, permitindo perceber seus lentos deslocamentos na esfera celeste, um relativamente ao outro.
Os mais atentos já podem ter percebido que a separação angular entre Vênus e Júpiter no céu já vem encolhendo paulatinamente nos últimos meses. Mas ela começa a reduzir de forma mais espetacular a partir do dia 20 de junho, quando a Lua crescente, 19% iluminada pelo Sol, se junta aos dois astros, formando com eles um triângulo retângulo. O lado maior deste triângulo (chamado hipotenusa, pelos matemáticos) medirá 7,4 graus, enquanto os lados menores, 6,0 graus (Vênus-Júpiter) e 4,1 graus (Júpiter-Lua). Como se trata dos três astros mais brilhantes do céu depois do Sol, o fenômeno chamará a atenção e poderá ser registrado com facilidade através das câmeras digitais de aparelhos celulares comumente disponíveis hoje, além de constituir uma bela visão, contra o fundo colorido do crepúsculo vespertino.
No dia seguinte, 21, data do solstício de inverno para o hemisfério sul, a Lua já estará brilhando mais acima dos dois planetas, formando uma linha reta com eles. Grosso modo, esta reta desenha uma parte da linha da eclíptica, que é a projeção no céu da órbita terrestre em torno do Sol.
Nas noites seguintes, a Lua se afasta e sobe cada vez mais, em relação ao horizonte, mas Vênus e Júpiter continuarão se aproximando um do outro. Consulte a tabela em anexo para saber a separação angular entre eles a cada dia. Por exemplo, dia 25, ela é 2,9 graus; dia 28, 1,2 graus; e dia 29, 0,7 grau. A mínima separação visível acontece na noite do dia 30 de junho, apenas 0,4 grau (mais precisamente, 21 minutos e 54 segundos de arco), configurando uma sensacional aproximação entre os dois planetas!
Cumpre salientar que esta proximidade é apenas aparente porque, na realidade, Vênus e Júpiter se encontram a uma distância muito grande entre si. Em relação à Terra, a distância de Vênus na ocasião será de 77 milhões de quilômetros, enquanto Júpiter estará afastado de 909 milhões de quilômetros!
Às 18 horas do dia 30, cerca de meia hora depois do por do Sol, o par Vênus-Júpiter brilhará intensamente, a 31 graus de altura sobre a linha do horizonte, e a 43 graus de elongação do Sol, permanecendo visível até às 20h53min, quando acontece o ocaso dos dois planetas juntos. A magnitude de Vênus será -4,4 e a de Júpiter, -1,8. A cor do primeiro é branco brilhante, enquanto a do segundo, amarelo intenso.
Quem olhar através de um telescópio poderá enxergar a fase minguante de Vênus, constatando que o planeta está apenas 34% iluminado pelo Sol. Também estarão visíveis as quatro maiores luas de Júpiter (Io, Europa, e Calisto, de um lado do disco do planeta, e Ganimedes, do outro).
Com a chegada do mês de julho, a distância angular entre Júpiter e Vênus principia a aumentar. Júpiter vai caindo na direção do clarão crepuscular, enquanto Vênus mantém uma altura mais ou menos constante, desviando-se em direção à esquerda no céu, tomando-se por base objetos de referência na linha do horizonte. A partir de meados do mês, os dois começam a cair lentamente em direção ao Sol, mantendo entre si uma distância angular mais ou menos constante, de cerca de 6 graus.
Uma segunda aproximação da Lua acontece no início da noite de 18 de julho, formando de novo um triângulo com os dois planetas. O lado Vênus-Lua medirá 2,7 graus, o lado Lua-Júpiter, 4,2 graus, e o lado Júpiter-Vênus, 5,9 graus. Nas proximidades, estará ainda a estrela Regulus, branco-azulada, de magnitude 1,4, a mais brilhante da constelação de Leão (Leo), distanciada de 79 anos-luz. Incluindo-se esta estrela, teremos então delineada a figura de um quadrilátero, com o lado Vênus-Lua medindo 2,7 graus, o lado Júpiter-Lua, 4,2 graus, o lado Júpiter-Regulus, 5,0 graus, e o lado Regulus-Vênus, 2,8 graus.
Começando em 5 de agosto, Vênus ficará de novo mais baixo no céu do que Júpiter, enquanto a visibilidade de ambos vai piorando a cada dia que passa.
Este texto foi preparado por Luiz Augusto L. da Silva, professor de física e astronomia da Unisinos. Simulações de Diomar Reus Sbardelotto, engenheiro e laboratorista da Unisinos, com auxílio do software Stellarium.