Mestranda em Engenharia Elétrica está trabalhando em Teste Rápido inédito para Sífilis

Duane Moraes é formada em Engenharia Química e atua em parceria com o itt Chip e Biosens

Crédito: Arquivo pessoal

A mestranda em Engenharia Elétrica, Duane Moraes, em parceria com o itt Chip e a startup Biosens, está trabalhando em um teste rápido para a detecção por sinal elétrico de sífilis. O dispositivo consiste em um biossensor de medida elétrica para diagnóstico e acompanhamento do tratamento de pacientes.

Ela conta que o dispositivo será composto por um substrato, sobre o qual será aplicado uma solução com nanopartículas de ouro ativadas e funcionalizadas com um antígeno chamado de cardiolipina e conectado a um medidor elétrico. “Quando a amostra de um paciente positivo para sífilis é adicionada no dispositivo, os anticorpos da doença presentes na amostra ligam-se ao antígeno, provocando uma reação de aglutinação. Essa reação, por sua vez, causará uma interferência no sinal elétrico medido, revelando que o paciente está com sífilis”.

Duane explica que o diferencial do trabalho se encontra não apenas no dispositivo em si, mas também na síntese de um insumo essencial para a construção do dispositivo, que são as nanopartículas de ouro. “As nanopartículas funcionam como um substrato, onde os elementos de reconhecimento da doença se ligam. Muitos pesquisadores optam por adquirir a solução coloidal de ouro de fabricantes estrangeiros para aplicação em seus projetos, mas para a construção de nosso dispositivo, realizamos também a síntese dessa solução em laboratório, a partir de um estudo teórico sobre o procedimento experimental e as melhores condições de processo”.

Segundo Duane, não existem biossensores de medida elétrica para a detecção e monitoramento da sífilis no mercado, apenas biossensores testes rápidos que são capazes de diagnosticar o paciente, mas não conseguem revelar se o título de sífilis está ou não diminuindo com o tratamento. “O único teste realizado hoje nos centros clínicos que consegue monitorar o título de sífilis é o teste VDRL, mas este produz como resposta um resultado visual e, portanto, existem muitos casos de resultados falso-positivos ou falso-negativos”, afirma.

O trabalho iniciou como o projeto de mestrado da estudante, focado na síntese de nanopartículas de ouro, um insumo essencial na construção de biossensores. “Ao ingressar no mestrado, estava pensando em como aplicaria essa solução e, durante a busca teórica e diversas conversas com os pesquisadores atuantes no itt Chip e com professora Priscila Lora, surgiu a ideia de aplicar esse material para a construção de um biossensor elétrico capaz de monitorar o título de sífilis, uma vez que a alternativa utilizada atualmente nos hospitais, o teste VDRL, gera um resultado visual dependente de interpretações”, comenta a mestranda.

A futura mestre em Engenharia Elétrica conta que o surgimento da pandemia de Covid-19 revelou em muitos países, incluindo o Brasil, sérios problemas de gestão em setores como no saneamento básico, na economia e, principalmente, na saúde. “No que tange à saúde, a pandemia expôs uma fragilidade brasileira da dependência de insumos e kits para o diagnóstico laboratorial, em especial com relação aos testes rápidos para identificação de anticorpos contra o vírus da Sars-CoV-2. O suporte tecnológico para o cuidado em saúde no Brasil hoje é quase que totalmente dependente de produtos e insumos importados de outros países, gerando muitas vezes aumento de custos, atraso na realização de diagnósticos e tratamentos, além de mostrar uma alta dependência nacional nessa área”.

Duane completa dizendo que o objetivo da pesquisa é construir um dispositivo de medida elétrica para a detecção de sífilis e acompanhamento de tratamento com seu insumo essencial, as nanoparticulas de ouro, produzidas também nacionalmente. “Procuramos com esse dispositivo diminuir a ocorrência de casos falso-positivos e falso-negativos, trazendo um resultado mensurável, e criar um dispositivo teste rápido, ou seja, cuja resposta seja confiável, sensível e rápida ao paciente”.

A coordenadora do curso de Engenharia de Materiais e orientadora de Duane, Tatiana Rocha destaca a importância da conexão dos conhecimentos. “A união dos esforços científicos entre as áreas de saúde e engenharia para uma aplicação que será colocada à disposição da sociedade é o que buscamos, transformar conhecimento acadêmico em algo aplicável e que possa trazer benefícios para a população”.

A professora do PPG em Enfermagem e Diretora de Operações da Biosens, Priscila Lora, afirma que as pesquisas que vêm sendo desenvolvidas trazem elementos que são destacados mundialmente como fatores de sucesso para o desenvolvimento de tecnologia. “Nosso escopo é multidisciplinar, unindo diferentes áreas como Engenharia e Saúde desde o início da ideação dos projetos passando por todas as fases de execução”.

Priscila encerra dizendo que o fluxo estabelecido é o modelo que tem funcionado nas melhores universidades do mundo, os produtos desenvolvidos têm registro de propriedade intelectual e, na sequência, serão estabelecidos contratos de licenciamento da tecnologia desenvolvida. “Já temos um produto que seguiu esse modelo e pretendemos ter diversos outros no decorrer da empresa, de forma que possamos crescer juntos empresa e Universidade.

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