Mercado de trabalho busca profissionais poliglotas

Aqueles que dominam mais de uma língua têm vantagens em relação aos concorrentes

O ditado popular “em terra de cego, quem tem um olho é rei” já não faz mais sentido para falar da relação entre os profissionais e as vagas oferecidas pelo mercado de trabalho. Hoje, não basta qualificação, é preciso enxergar longe, ter uma visão de horizonte e estar atento à crescente internacionalização das empresas. Profissionais e estudantes precisam focar não apenas em desenvolver habilidades específicas na área escolhida, mas em ir além na formação acadêmica e profissional. Embora cada área exija um tipo de expertise, o primeiro passo para conquistar um lugar ao sol é assumir a necessidade de ter um segundo idioma no currículo. Sim, o mercado de trabalho busca cada vez mais profissionais que dominem uma outra língua.

Estudos indicam que bilíngues têm várias vantagens em relação aos monoglotas: aprendem com mais facilidade, estão mais protegidos contra a senilidade (envelhecimento), podem raciocinar de forma diferente em cada idioma, entre outros benefícios. De acordo com a professora Ana Maria Stahl Zilles, da Graduação em Letras e do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da Unisinos, pessoas que sabem várias línguas estão em vantagem, porque têm repertórios mais amplos e complexos. “A maior diferença que percebo em alunos com repertórios linguísticos mais ricos é uma grande facilidade em tratarem as questões de língua abstratamente, usando uma capacidade que se chama metalinguística, fundamental para aprender a ler e escrever, e para interpretar textos, por exemplo.”

Os benefícios para quem sabe um ou mais idiomas não param por aí. Para Zilles, essas pessoas têm mais facilidade de fazer operações mentais, como a comparação, a classificação, a interpretação, a análise de soluções, a resolução de problemas, a crítica e a avaliação. Além de terem atitudes mais flexíveis diante de situações diferentes do costume do país de origem, em virtude de participarem de mundos culturais distintos. E isso ajuda na hora de trabalhar e se adaptar, por exemplo, ao estilo das multinacionais.

Acertando o alvo

Para preparar o profissional que o mercado busca, um importante passo é entender que a formação universitária deve acontecer em paralelo ao aprendizado de um novo idioma. A escolha da língua pode variar de acordo com a área de interesse e o objetivo profissional do estudante. Outro ponto importante para quem está selecionando o idioma que será seu companheiro nas atividades futuras é olhar além e prever possíveis frentes de trabalho.

O professor Jorge Verschoore, do mestrado profissional em Gestão e Negócios da Unisinos, mapeia como se dá essa parceria entre o que as empresas buscam e os profissionais que a universidade produz. “O que a gente vê é que as empresas, pouco a pouco, estão percebendo que essa relação com a universidade tem condições de entregar não só conhecimento teórico, mas aplicado. Essa relação acontece num contexto em que as empresas precisam dos conhecimentos das universidades e os estudantes buscam se inserir nas empresas. A relação é colaborativa, então precisa ter ganhos para todas as partes envolvidas”, declara.

Nem tudo é inglês

Na hora de aprender outro idioma, as pessoas geralmente procuram apenas o inglês, por entenderem que ele é o mais importante. Enganam-se. Hoje, outras línguas são indispensáveis na hora de disputar uma vaga. Para a professora Ana Maria, três aspectos devem ser levados em conta quando o assunto é qual o idioma mais importante: em primeiro lugar, que línguas a pessoa fala e sua importância para o trabalho específico a ser executado; em segundo, qual a posição delas em questão no mercado linguístico; e, por último, qual o grau de proficiência em cada uma das línguas e em que domínios ou áreas do conhecimento a pessoa pode ser bem sucedida.

A professora destaca inglês, espanhol e mandarim, em virtude do mercado, como os três mais procurados. Mas, na região sul, outras línguas se destacam na hora da obtenção de um emprego, como alemão, italiano e japonês. “E, considerando razões sócio-históricas, há outras que deveriam fazer parte da nossa lista de possibilidades, como o francês, por sua tradição cultural e sua importância em nossa própria história; as línguas indígenas brasileiras, especialmente para áreas de trabalho como antropologia, saúde e educação; e a língua brasileira de sinais, cujo ensino é obrigatório nos cursos de licenciaturas”, finaliza.

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