A qualificação profissional nunca esteve tão ao alcance dos brasileiros. Além de programas do governo e iniciativas privadas, que facilitam o acesso à educação técnica e superior através de bolsas, financiamentos e intercâmbios, há uma outra facilidade, viabilizada pelas próprias instituições de ensino: a modalidade EAD – Ensino a Distância. A possibilidade de acompanhar as aulas e fazer os exercícios estando em qualquer lugar, sem a necessidade da presença diária na sala de aula, tem conquistado cada vez mais estudantes. Os potenciais e desafios dessa modalidade foram inspiração para uma pesquisa realizada na Unisinos, sob a coordenação do professor Sandro Rigo.
O projeto trata, inicialmente, do estudo e aplicação de recursos de Mineração de Dados Educacionais e de Learning Analytics para sanar o problema de evasão, que pode ser considerado como uma consequência final, que resulta de diferentes aspectos envolvidos. Para além de resolver problemas, potencializa as ferramentas que estimulam o rendimento e o aproveitamento dos alunos. O sistema desenvolvido com o projeto já é utilizado com todos os cursos de EAD da Unisinos. Saiba mais na entrevista com o professor.
De onde surgiu a ideia?
Sandro Rigo: A proposta surgiu de uma iniciativa conjunta entre a empresa GVDASA, do polo tecnológico Tecnosinos, e do Programa de Pós-Graduação em Computação Aplicada (PIPCA) da Unisinos. A Unidade Acadêmica de Graduação participou do projeto como parceira e como usuária do sistema desenvolvido.
O que é o projeto e quais os aspectos envolvidos na pesquisa?
Sandro Rigo: O projeto trata inicialmente do estudo e aplicação de recursos de Mineração de Dados Educacionais e de Learning Analytics para solucionar a evasão nos cursos na modalidade de EAD. As possibilidades do projeto em gerar bons resultados estão baseadas em alguns pontos principais: a atual modificação no contexto da educação a distância, no qual destaca-se o grande uso de mediação digital entre estudantes, colegas e professores, é o primeiro aspecto. Este se refere ao uso dos ambientes virtuais de aprendizagem e de outros recursos (tais como: videoaulas, videoconferência, objetos de aprendizagem, textos, ferramentas de interação para troca de mensagens e discussão de assuntos). Todos, quando utilizados pelos alunos, geram informações que descrevem a forma de uso. Com a grande quantidade deste material, torna-se possível a utilização de técnicas de Inteligência Artificial e de visualização de dados para a geração de modelos que refletem o perfil dos alunos. O segundo ponto é a disponibilidade de recursos de processamento, análise e visualização destes dados, com técnicas diversas, baseadas em Inteligência Artificial e Mineração de Dados. Estas técnicas possibilitam a análise dos dados para a geração de modelos descrevendo o perfil dos alunos, com base na sua interação a partir de mediação digital e dos seus resultados. O terceiro ponto está relacionado à visão mais abrangente dos cursos, a partir da ação dos gestores e dos professores, que podem realizar ações direcionadas para os alunos que demandam maior atenção.
Quais os resultados desse movimento?
Sandro Rigo: Os resultados são os modelos precisos de perfil do aluno, que permitem, também, a sua utilização para a predição de resultados futuros. Deste modo, os professores e gestores têm informações que permitem um melhor direcionamento dos seus esforços. Na prática, isso significa que os modelos de perfil permitem que, ainda nas primeiras semanas de aula, os alunos sejam identificados de acordo com sua tendência para bons resultados ou para evasão do curso, por exemplo. O uso do sistema gerado pelo projeto permitiu que fossem identificados com cerca de 87% de acerto, na terceira semana de aula, os alunos com tendência à evasão. Isso permitiu, associado com ações afirmativas dos professores, observar um decréscimo de 14,5% na ocorrência de evasão dos cursos na modalidade de EAD na Unisinos.
Quantos profissionais se envolveram na pesquisa?
Sandro Rigo: O projeto busca atuar de forma transdisciplinar, envolvendo atores como empresa, Programas de Pós-Graduação e Unidade Acadêmica de Graduação. O projeto envolveu quatro pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Computação Aplicada, dois professores do Programa de Pós-Graduação em Educação e uma professora do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada. Quatro alunos realizaram o mestrado acadêmico no PIPCA, com temas ligados ao projeto. A empresa GVDASA possui uma equipe de pesquisa e desenvolvimento com cerca de 10 participantes. A Unidade Acadêmica de Graduação se envolveu no acompanhamento inicial do projeto e na sua implantação. Também participam os responsáveis pela gestão da área de EAD e os coordenadores de cursos da modalidade.
Como suscitou a oportunidade da interação empresa-universidade-pesquisa? Como isso de deu/dá?
Sandro Rigo: A oportunidade de interação empresa-universidade-pesquisa ocorreu através de um convênio firmado, inicialmente, entre empresa e área de pesquisa, que avançou, posteriormente, para diversos setores relacionados. Este contexto foi fundamental para o desenvolvimento do projeto com a qualidade alcançada. Esta interação, aliada aos resultados obtidos pelo projeto no âmbito científico, foram fundamentais para que o projeto fosse contemplado com uma aprovação para o projeto RHAE, do CNPQ.
Qual a aplicabilidade?
Sandro Rigo: O sistema desenvolvido vem sendo utilizado com todos os cursos de EAD da universidade. Isso representa mais de 200 professores e gestores, além dos mais de 5 mil estudantes estão utilizando o sistema. Trata-se de uma aplicação pioneira nesta área no Brasil.
Tens projeções para um novo estudo na área ou para a continuidade deste?
Sandro Rigo: O projeto está avançado em várias novas etapas. Uma delas vem sendo desenvolvida junto da área de educação, para analisar e identificar as ações mais adequadas para o atendimento aos alunos. Outra está relacionada com a área de linguística e busca desenvolver técnicas de identificação automática de questões colocadas pelos alunos em mensagens textuais. Estes projetos, para continuidade da pesquisa, são financiados por órgãos de fomento. Também continua sendo investigada a possibilidade de aplicação deste sistema em contextos diferenciados, como o ensino presencial.