O dia 13 de maio marca os 127 anos da Abolição da Escravatura, mas muito ainda precisa ser feito para que sejamos realmente livres. Continuamos presos a amarras de preconceitos, que dificultam a conquista da total igualdade de condições entre negros e brancos. Grupos como o Neabi – Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas – da Unisinos estão lutando para mudar essa realidade.
Por isso, na noite dessa quarta-feira o Neabi promoveu a abertura dos trabalhos referentes a década internacional de afrodescendentes. Aprovada em 08 de janeiro de 2014 pela ONU, com o tema “Afrodescendentes: reconhecimento, justiça e desenvolvimento”, a década é um avanço na reflexão sobre o assunto e será celebrada de 2015 até 2024. O objetivo dessa iniciativa é reforçar o combate ao preconceito, à xenofobia e ao racismo.
Conferência Consciência Negra 2015
Com o título “Debate sobre as Políticas de Ações Afirmativas do Reconhecimento, da Justiça e do Desenvolvimento na Década Internacional dos Afrodescendentes”, a conferência aconteceu no auditório Bruno Hammes e teve início às 19h30. A decoração do local foi feita pelo babalorixá pai Dejair e a abertura da noite contou com uma atração artística feita por alabês – tamboreiros da religião de matriz africana.
A coordenadora do Neabi, Adevanir Pinheiro, e o vice-reitor da Unisinos, Pe. José Ivo Follmman, fizeram uma breve fala sobre o tema para abrir o evento. Os palestrantes externos foram Zélia Amador de Deus e Jorge Terra.
Jorge afirmou que não nos faltam leis e discursos políticos, o que falta ao país são atitudes transformadoras. Sobre a década internacional de afrodescendentes, o palestrante destacou “A ideia da ONU é permitir que os negros, em todos os países, possam ter seus direitos respeitados. As escolas devem incluir em seus currículos a história africana, afrobrasileira e indígena, para formar as crianças a partir de conceitos e não de preconceitos”, complementou. Jorge ainda nos trouxe a diferenças entre injúria e racismo. “Injúria é quando você atinge com comentários preconceituosos uma pessoa, racismo é quando você atinge uma raça inteira”, explicou.
Zélia foi a segunda palestrante da noite e fez uma contextualização histórica sobre as questões de igualdade e liberdade. “Ao mesmo tempo que acontecia a Revolução Francesa com o tripé: igualdade, liberdade e fraternidade, ainda existiam africanos trabalhando no plantio na França. Ou seja, os princípios da revolução não foram passados para quem não era considerado humano”, destacou. A professora falou ainda que o estado nacional foi omisso para fazer com que a população negra fosse vista com igualdade e destacou que só em 2001 um presidente admitiu que no Brasil existe racismo. Zélia lembrou a presença de Zumbi dos Palmares como um herói brasileiro e falou da importância do movimento negro no processo de construção da nossa nacionalidade. “Algumas pessoas pensam que os negros brasileiros descendem de escravos, como se escravo fosse uma raça. Não existe um povo que seja escravo, escravo é uma condição. Os negros do Brasil são descendentes de africanos”, encerrou.
No final da conferência houve um espaço para perguntas em que o tema pôde ser debatido pelos participantes. Em seguida foi lançado o 2º livro da coleção do Neabi de título “África e afrodescendentes no sul do Brasil”, escrito pela professora Adevanir, coordenadora do núcleo.