Internet das Coisas

Professor Rodrigo Righi passou seis meses em pós-doc na Coreia do Sul, pesquisando sobre processos de rastreabilidade

“Quando você fizer uma nova atividade, tente fazê-la da melhor forma possível, analisando cuidadosamente todos os detalhes envolvidos antes, durante e após o evento.” Com esse propósito em mente, o professor da Escola Politécnica Rodrigo Righi fez as malas e embarcou para a Coreia do Sul, em janeiro do ano passado. Em seis meses, o pesquisador realizou um pós-doutorado no Korean Advanced Institute of Science and Technology (KAIST), na área conhecida como Internet das Coisas – uma tecnologia capaz de aprimorar processos de rastreabilidade e controle de estoque.

O período no exterior foi um momento de descobertas, tanto para Rodrigo, quanto para sua família, que o acompanhou na experiência em terras asiáticas. Ao mesmo tempo em que atuava na co-orientação de pesquisas e participava do suporte à computação em nuvem de um projeto patrocinado pela Samsung, o professor se surpreendia diariamente com a quantidade de pimenta nas refeições e a intensidade do silêncio no ambiente profissional. “Os coreanos são muito focados no trabalho e nos resultados, não realizam atividades que os dispersem.”

No retorno, o docente marcou presença como painelista no 3º Fórum Brasil-Coreia, evento cuja finalidade consiste em incentivar a discussão sobre desenvolvimento e gestão de ciência, tecnologia e inovação a partir de experiências de ambas as nações. Em janeiro deste ano, voltou à Coreia, dessa vez para participar de uma conferência sobre computação aplicada. “Reservei um dia para visitar a cidade de Daejeon e fui até o KAIST conversar com o meu orientador de pós-doc”, conta. “Ficamos bons momentos falando sobre estudos, diferenças de gestão de pesquisa brasileira e coreana, orientandos e novas interações.”

“Falo a mesma coisa para os meus alunos: trabalhem cuidadosamente o currículo de vocês, pois ele é o conjunto estratégico de atividades que, somadas, qualificam uma determinada pessoa para posições de destaque no mercado.”

Rodrigo Righi, pesquisador

Confira mais sobre a experiência na entrevista a seguir.

Como surgiu a vontade de fazer um pós-doc?

Rodrigo: Eu sempre tive vontade de me qualificar na minha profissão e, nesse sentido, fiz a minha graduação, o mestrado e o doutorado um seguido ao outro. Já como professor e pesquisador na Unisinos, acompanhei de perto as interações entre os docentes do PPG em Computação que foram fazer o seu pós-doutorado na Coreia do Sul. Havia grande inventivo da instituição em manter e estreitar os vínculos com as universidades coreanas, por isso me propus a dar continuidade nesse processo. Aliado a essa oportunidade, outro fator que me levou a fazer pós-doutorado foi a ótima experiência que tive durante meu dourado, que fiz na modalidade sanduíche, com um período de oito meses em Berlim, Alemanha. Dessa forma, eu já tinha claro o potencial agregador que essa ação possui no currículo, uma vez que você trabalha com novas culturas, pesquisa de ponta e faz artigos científicos numa parceria internacional.

Por que a escolha pela Coreia do Sul e pelo Korea Advanced Institute of Science & Techonology?

Rodrigo: Eu participei do 3º Fórum Brasil-Coreia em 2013 como painelista, onde comentei as minhas ideias quanto às coisas que você faz na vida. A ideia é a seguinte: quando você fizer uma nova atividade, tente fazê-la da melhor forma possível, analisando cuidadosamente todos os detalhes envolvidos antes, durante e após o evento. Isso porque, muitas vezes, você tem a oportunidade de fazer uma atividade uma única vez na vida. A escolha do KAIST (Korean Advanced Institute of Science and Technology) foi nesse sentido. Trata-se de uma das melhores universidades e centros de pesquisa da Ásia, figurando também entre as melhores do mundo segundo a informação especializada. Eu estava começando uma nova linha de pesquisa na área de Internet das Coisas, ou do inglês Internet of Things, e mantive contato com um professor coreano do KAIST que é especialista nesse assunto. Ele pediu o meu currículo para analisar, passaram-se, então, alguns dias e eu obtive a resposta que informava que ele se propunha a ser meu orientador no período de pós-doutorado. Esse aceite por um pesquisador renomado em uma universidade de ponta me deixou muito lisonjeado. Falo a mesma coisa para os meus alunos: trabalhem cuidadosamente o currículo de vocês, pois ele é o conjunto estratégico de atividades que, somadas, qualificam uma determinada pessoa para posições de destaque no mercado.

Quanto tempo ficou no país em viagem de estudos?

Rodrigo: Foram seis meses e seis dias. A minha chegada ocorreu em janeiro de 2013 e retornei em agosto do mesmo ano. De janeiro até metade de abril foi um período de muito frio naquele país, com temperaturas seguidamente negativas. Já que minha família, esposa e filho, foram comigo, eu tive que cuidar muito essa questão da temperatura para garantir a saúde de todos. Não tinha mencionado antes, mas o fato de minha família ter me acompanhado nessa empreitada foi fundamental. Normalmente, entrava para trabalhar na universidade, onde tinha o meu próprio gabinete, às 7 horas da manhã, e retornava às 18 horas. Já no apartamento, interagia com eles e fazíamos passeios em parques verdes nas redondezas. Esses momentos de descontração e o fato de poder seguir de perto a vida deles foram muito importantes.

Em que data finalizou o seu pós-doc?

Rodrigo: Terminei exatamente no dia primeiro de agosto. O meu orientador coreano, o senhor Daeyoung Kim, organizou uma festa de despedida extremamente emocionante para mim, um dia antes da minha partida. Durante todo o período, tive a oportunidade de co-orientar alunos do grupo de pesquisa e me envolvi num projeto cujo patrocinador foi a Samsung. Interagia bastante com os demais integrantes do grupo em reuniões de pesquisa, artigos e execução do projeto. No final de março de 2014, fui apresentar três artigos numa conferência chamada ACM SAC (Symposium on Applied Computing), que ocorreu na Coreia do Sul. Nesse retorno, reservei um dia para visitar a cidade de Daejeon e fui até o KAIST conversar sobre novas pesquisas com o meu orientador de pós-doc. Ficamos bons momentos falando sobre estudos, diferenças de gestão de pesquisa brasileira e coreana, orientandos e novas interações.

Qual o tema da pesquisa de pós-doutorado?

Rodrigo: Trabalhei numa área conhecida como Internet das Coisas, que contempla o uso de tags RFID (que atuam por rádio freqüência) em vários objetos detectados por sensores colocados em pontos estratégicos. A utilidade de RFID pode ser vista de forma clara nas áreas de rastreabilidade e controle de estoque, uma vez que é possível obter dados dos objetos, o lugar exato onde estão e seu histórico. Nesse sentido, como dito anteriormente, trabalhei em um projeto da Samsung que envolvia RFID no contexto de uma geladeira. Em particular, atuei no suporte à computação em nuvem, ou cloud computing, para armazenar os dados dos sensores apropriadamente com elasticidade de máquinas virtuais.

Quais as principais descobertas que a pesquisa trouxe?

Rodrigo: Quanto a descobertas, tivemos ótimos resultados usando um banco de dados com a tecnologia NoSQL chamado Cassandra, para armazenar os dados dos sensores. As operações de escrita e leitura ficaram muito otimizadas quando comparadas com banco de dados SQL e outros concorrentes diretos que seguem o padrão NoSQL. Em adição, trouxe o legado de trabalhar com o middleware Fosstrak no grupo da Unisinos e continuar aqui as pesquisas feitas lá. A pesquisa em conjunto com os coreanos resultou numa publicação em um dos maiores congressos de RFID do mundo, chamado IEEE International Conference on RFID 2014, que ocorreu em abril de 2014.

Culturalmente, o que o país tem em comum com o Brasil e quais as principais diferenças?

Rodrigo: Sim, existem muitas diferenças. A maior delas se refere à culinária. Os coreanos costumam usar muita pimenta na comida de forma corriqueira, desde McDonnalds até restaurantes internacionais. Outra questão importante é a questão de silêncio e concentração em ambiente de trabalho. Os coreanos são muito focados no trabalho e nos resultados, não realizam atividades que os dispersem. Essa experiência foi extremamente importante para valorizarmos cada vez mais o tempo que estamos no trabalho para render e produzir da melhor forma.

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