Ideias que transformam vidas

Palestrantes contam sobre as suas experiências no TEDxUnisinos

Existem histórias que inspiram. Há ideias que motivam. Tem pessoas que nos fazem acreditar que tudo é possível e 12 delas puderam contar um pouco no TEDxUnisinos 2015. No evento, que ocorreu na sexta-feira, 30 de outubro, no Teatro do Sesi, em Porto Alegre, o público pôde conferir essas experiências.

Há dias que mudam a história da gente e dias que mudam a história da humanidade, foram as primeiras palavras de Carlos Pereira ao iniciar sua palestra. “Onze de setembro, o dia em que ocorreu o ataque às Torres Gêmeas, nos Estados Unidos, e o dia em que nasceu a minha filha, ela tem paralisia cerebral, não anda e não fala”. Conta o palestrante que, nos primeiros anos, a comunicação entre ela e os pais era muito complicada. “Comecei a falar com ela por cartões, desenhei tudo o que ela poderia querer, eu sabia que ela queria comer maçã quando sinalizava o cartão da maçã”, relata.

A vontade de ir além dos cartões na comunicação com a filha, fez com que Carlos desenvolvesse o primeiro aplicativo do mundo que permite que pessoas com deficiência se comuniquem em português. “Estamos dando voz a quem precisa”, salienta. Segundo ele, o objetivo é empoderar pessoas que se encontram na mesma situação da filha, no Brasil e fora dele. A plataforma, hoje, já atravessa fronteiras, com contrato de tradução para outras línguas.

Atualmente, existem 50 milhões de pessoas com deficiência física no Brasil, e 150 milhões no mundo. Portar alguma deficiência significa fazer parte da maior minoria do mundo. A comunicação alternativa tornou-se a paixão de Carlos. “Na plataforma, eles conseguem aprender música, matemática… imagina o impacto que isso causa na vida de alguém que não consegue falar!”, entusiasma-se. A plataforma contempla todos os tipos de deficiência, motora, cognitiva e visual, sendo objeto de auxilio na aprendizagem de pessoas com deficiência nas escolas. A iniciativa foi premiada pela Organização das Nações Unidas – ONU e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID.

O segundo palestrante do dia foi Raphael Felicio. O gaúcho, que reside em Belo Horizonte há seis anos, iniciou o talk falando sobre sonhos, sejam simples ou os mais absurdos. “Eu sou um grande sonhador”, garante. Após se graduar em Design, ele se arriscou e com apenas R$600 rumou até a capital mineira. Ele não sabia se ficaria, mas tudo isso foi apoiado por sua mãe, que acreditou nessa ideia. “Comecei a me dar conta que não veria mais alguns familiares e amigos e acabei entendo o sentido das palavras saudade, adeus e esquecimento”, conta.

Ao ter que se adaptar à sua nova forma de viver, Raphael decidiu entrar no mundo das startups, conheceu investidores e pensou em montar algum empreendimento. Como ele mesmo disse “errei feio, errei rude”, pois a primeira ideia que surgiu foi uma loja virtual de almofadas customizadas chamada Senta Aqui, que durou apenas três meses. Mas, já na companhia de seu futuro sócio, ao avistarem o livro 1001 Coisas Para Fazer Antes de Morrer, surgiu a ideia da Tysdo, um aplicativo para compartilhar experiências e descobrir novas maneiras de alcançar objetivos.

O designer fechou parcerias com investidores e teve reconhecimento ao ver sua startup selecionada como uma das melhores pela Apple. “A ideia é só a cerejinha do bolo. Por trás de tudo, há muitas coisas para fazer”, complementa. Recentemente, Raphael, que também possui um estúdio digital, firmou uma parceria com uma agência alemã, na qual ressaltou que devem ser agarradas todas as oportunidades, encerrando com uma lembrança: “a vida é limitada de tempo, mas ilimitada de sonhos”.

O terceiro palestrante foi Khalil Fuller. O jovem, que já faz parte das 30 pessoas com menos de 30 anos mais bem sucedidas, segundo a Forbes, decidiu transformar a realidade educacional de alunos nos Estados Unidos. “Um dia, fiquei obcecado por um par de Jordans, mas eu não tinha dinheiro para comprá-los.  Comecei a vender doces. Aprendi que se eu entendesse quando comprar e quando vender, eu avançaria nos lucros”. A matemática deu tão certo na vida de Khalil, que fez com que ele se sentisse mal pelos colegas que não gostavam dos cálculos e, seguidamente, desistiam de estudar por causa das constantes novas abaixo da média.  “O sistema não é feito para que as pessoas gostem de matemática”, ressaltou.

Khalil contextualizou a situação com outra história do dia em que, caminhando na rua com amigos, foi abordado por policiais que a eles apontaram armas e o preconceito de os verem como marginais. “Eles não viram os próximos Steve Jobs que dali poderiam surgir”, comenta. Foi nessa época que percebeu que, por meio da matemática, poderia criar muitos novos empreendedores. Começou seu projeto social com aulas particulares a alunos com dificuldade. “A matemática fundamental é a chave do aqui e do agora, e ela nos levará a um futuro melhor. Os alunos permaneceram no ensino médio, entrarão na faculdade e se tornarão empreendedores”. O projeto de Khalil promove uma diversão matemática para crianças, fazendo com que elas se engajem na escola e melhores suas notas. “É preciso mais diversidade em relação aos líderes do futuro, senão continuaremos em um espiral de desigualdade”, sustenta.

“Eu não conheci meu pai biológico”. Com essa frase, Marcos Piangers iniciou a sua conversa. De forma humorada, ele diz que, quando criança, imaginava quem poderia ser seu pai. Na sua fantasia, achou inclusive que poderia ser o Falcão, já que sua mãe o conhecia, ou um homem rico. Mas foi em março deste ano, quando sua mãe descobriu um câncer no útero, que ele soube quem era. “Ela me contou sobre o meu pai e ele é só um cara”, e complementa: “É a história mais comum do mundo. É uma lastima para uma mulher. É uma lastima para a criança, que fica mais insegura. E, por último, é uma lastima para o próprio pai, porque ele não sabe o que perdeu”.

A forma como Piangers encara tudo isso é simples. “Eu não sei como é ter um pai, mas sei como é ter um filho”, diz o pai de duas meninas. A primeira filha é mais cerebral, pois uma vez afirmou que gostaria de casar e ao ser indagada por ele, veio uma resposta surpreendente. “Ela disse que também queria mandar em alguém”, conta pasmo. Já a caçula é mais fantasiosa, pois acredita em lobo mal e Papai Noel. A ideia, então, foi escrever um livro contando sobre essa rotina e ao publicar, houve uma audiência grande, principalmente de pais e mães que compartilharam as histórias. Não à toa, Piangers foi convidado para ir a programas de auditório. “Fiquei amigo do Henri Castelli”, brinca mais uma vez. Por fim, ele destaca que a renda com as vendas dos livros terá como destino às crianças que necessitam e espera por um mundo mais justo com as mulheres, sem assédio e com salários iguais.

Em meio a 12 palestras, o momento de intervalo contou com um pocket show da banda 3Plantados, formada por Bebeto Alves, Jimi Joe e King Jim, importantes músicos do cenário gaúcho, que passaram por transplante de fígado e rim e se uniram para divulgar a importância da doação de órgãos. Jimi Joe ressaltou a gratidão de poder voltar aos palcos após ficar meses esperando por um órgão e que passamos por essa situação, no mesmo momento, não foi por acaso e os fez refletir sobre a causa. “Nos reunimos, com um material novo, e com abordagens voltadas à doação de órgãos, para colocar o dedo na ferida do assunto, se engajar na causa”, esclarece. Bebeto salientou que a possibilidade de precisar de órgãos é maior do que a de ser doador. “Com a música, nós queremos fazer o mínimo por quem fez muito por nós”.

As histórias de longas trajetórias pessoais e de negócios, repletas de acertos e erros, foi rompida pela boa conversa e inocência de Getulio Felipe. Menino de 11 anos, portador de paralisia cerebral, que faz questão de ressaltar a importância dos sonhos. Convocou a plateia para falar dos seus almejos, e ainda aconselhou: “O importante é correr atrás, suar a camiseta, pois o reconhecimento vem depois”. Getúlio é a criança símbolo do Teleton, onde representa todas as crianças da AACD do Brasil, representante oficial das crianças do Instituto Neymar Jr e apresentador do programa de Rádio Web Getulio & Cia. “Eu não tenho como fugir da deficiência, mas eu nunca deixei de sonhar”, destaca.

O escritor, jornalista e psicólogo Felipe Pena falou em seu talk sobre o fracasso, mas indicou que não era para haver dúvidas com a palavra derrota. “Derrota é quando sai na noite e a menina não te dá atenção. Fracasso é um projeto, um gasto de tempo e que no fim não dá certo”, explica. Quando comparado com o sucesso, o fracasso também se torna algo individual, já que para acertar, todos recebem o mérito, mas o erro é apenas de uma pessoa. “Já fracassei várias vezes. Fracasso com vontade, com força”, diz ele, que em seguida pergunta “é possível aprender com o fracasso?”. Segundo o escritor, o fracasso é muito mais importante para a vida do que o sucesso. “O princípio do fracasso é a ansiedade, ou seja, partir do projeto querendo a recompensa significa que você vai errar”, fala.

Sobre os seus projetos, Felipe considera que nenhum de seus livros fez sucesso, inclusive, um deles foi com a intenção de reverter a renda para crianças carentes de uma comunidade, mas também não foi bem sucedido, só que desta vez com uma lição. “Mesmo no fracasso, você tem momentos de sucesso”, ao mostrar uma foto com aquelas crianças sorrindo e cheias de alegria. Ele também conta de um documentário feito com moradores da Vila Autódromo, em que muitos tiveram que sair de suas residências para que fossem feitas obras para as Olimpíadas. O material foi apresentado em outros países, mas novamente um fracasso no Brasil. Apesar disso, ainda existem 57 famílias no local, para os quais Felipe apresentou o documentário. “Só existe fracasso na desunião. Na união só existe sucesso, mesmo que fracasse”, enfatiza.

De Valinhos (SP), a pequena Ingrid Soto, de 13 anos, entrou no palco e encantou adultos com o trabalho exemplar e de excelência que desempenha.  Aos 10 anos, resolveu fazer a diferença na vida de refugiados por meio da música. Assistindo a noticiários da TV, viu o trabalho realizado pela ONU com famílias refugiadas e se encantou, enviou uma carta à organização para atuar junto à cúpula sem nem mesmo a mãe saber. Por Ingrid utilizar o e-mail da mãe para se comunicar no meio virtual, logo ela ficou sabendo. “Logo que viu, perguntou o que eu tinha feito de errado por ela estar recebendo diversos e-mails da ONU e ACNUR, expliquei a situação e ela me apoiou”. A menina resolveu utilizar a música para unir povos e culturas por uma boa causa. Sua primeira composição foi “Paz e União”, cantada em espanhol, que aborda a questão de o mundo estar em guerra, social e psicológica, e precisar de paz.

“Eu queria salvar o mundo [aos 10 anos], e quero até hoje”, revela a menina que, após ter feito a primeira composição, buscou contato com diversos artistas reconhecidos para realizar um festival de música em prol da causa. “O e-mail foi tão bom que nenhum deles respondeu. Meu recado é: artistas, olhem mais as suas caixas de entrada”, enfatiza. Mesmo com o silêncio de todos, a menina seguiu cantando e fazendo campanhas para ajudar os recém-chegados. “Essas não são minhas campanhas, são nossas, são de todo mundo”, frisa.

“Algumas semanas atrás recebi um prêmio incrível”, inicia Daniel Mattos, mas engana-se quem pensa que foi um troféu, uma medalha ou um certificado. O prêmio em questão foi uma mensagem de um amigo, por meio de uma rede social, no qual ele pensou em pessoas que já estão realizadas e Daniel foi o primeiro nome que surgiu. A partir disso, o empresário fez uma reflexão daqueles debates que estão no cotidiano. “Quando perguntam ‘quer estar realizado?’ e a resposta é ‘faz o que gosta’, eu digo que não é só isso e trabalhar com o que gosta também não basta”, comenta. Daniel lembra que aos 10 anos assistia pela televisão uma entrevista com o advogado de Suzane von Richthofen e logo perguntou para a sua mãe, se ela acreditava no que ele estava falando, pois para ele aquilo não podia ser verdadeiro. Todos o achavam ingênuo para as coisas que ele acreditava, assim “contrariando com uma cultura externa que está sendo influenciada por opiniões comuns impostas pela sociedade”, pois Daniel ainda não entende como as pessoas têm coragem de passar por um morador de rua e não olhar pra ele ou como um empresário pode ter um salário 50 vezes maior que seus funcionários.

Formado em publicidade e propaganda, ele trabalhou em agências, até que certa vez, quando se viu desenvolvendo um produto em que não acreditava e se lembrou daquele momento aos 10 anos. “Eu estava virando o advogado”, disse. Então, pediu demissão, tentou empreender em alguns outros negócios, mas não obteve sucesso, até que surgiu a Smile Flame, uma iniciativa que cria conteúdo social de forma mais descontraída e criativa para aumentar o engajamento do público jovem em ações do bem. “Criamos um campeonato de skate no asilo para alegrar os vovôs e as vovós, que eram os jurados; fizemos também a corrida maluca de cadeirantes, onde a molecada fossem as estrelas com cadeiras de rodas customizadas; e o bota no mundo, feito para que crianças com deficiência física pudessem jogar bola na companhia de jogadores”, explica. A partir dessa lógica, Daniel sentiu que estava se aproximando daquilo que queria. Hoje, ele tem uma empresa em que todos acreditam no propósito dela e os salários são todos discutidos, além de servir como exemplo para sociedade. “Tem que ser o que acredita e todos nós somos únicos”, diz o empresário.

Victor Saad entrou no palco e balançou com todo mundo, literalmente. O jovem convidou a todos para levantarem-se e mexerem-se por alguns instantes. A descontração trouxe um clima leve à palestra de Victor, que dedica sua rotina ao aprendizado pela experiência. Victor Saad acredita que a educação tradicional não é o único meio de aprender, por isso, criou o Experience Institute, um projeto que propõe um novo tipo de aprendizado partir de práticas interdisciplinares, como estágios, conferências, voluntariado, workshops, etc.

A trajetória começou em 2012, quando decidiu aperfeiçoar o modo como era construído o aprendizado. “Você é movido por três áreas, a de conforto, a de aprendizado e a de pânico, quando você sai da sua zona de conforto, você aprende mais. No pânico, é quando tudo acontece”. Segundo Victor, o crescimento está interligado com o número de barreiras que ultrapassamos enquanto estamos na zona de pânico, que relaciona-se com o nível de aprendizagem. São 12 meses, com 12 projetos, que envolvem design, negócios e mudança social. “Esses anos foram transformadores, eu aprendi muito sobre mim também”.

Para a psicóloga Ilana Andretta, a sua profissão é a do futuro, pois ela foca nas relações humanas. Em seu talk, a também professora, disse que deixaria perguntas no ar, sem respostas, e falou sobre as tecnologias, deixando de início uma questão no ar. “Como podemos nos sentir só, diante de tanta conexão?”. Para ela, as novas tecnologias nos trazem algumas mudanças negativas, como em um jantar em família, quando todas as pessoas estiverem atrás de um equipamento tecnológico, significa que há algo de errado. Uma solução para isso seria desenvolver uma nova possibilidade de conexão. Outro aspecto que Ilana traz é tentar entender o porquê de um mundo mais acelerado e a impressão que temos do tempo passando. “Precisamos parar, pensar, viver e sentir essa conexão”, enfatiza.

A psicóloga questiona o que poderia ser feito de diferente e quando pensa nisso, ela gosta de usar a palavra inovação, que é a junção de outras duas palavras: inovar + ação. “A inovação precisa de criatividade, método e disciplina, pensar crítico, empirismo e conexão”, explica. A última questão era de como fazer para ser feliz, algo que nem Google e nem ela mesma poderia responder ao público, mas deixou uma mensagem. “Precisamos nos relacionar. Eu preciso olhar no olho de vocês e enxergar as suas almas”, diz, pensando em um mundo onde as pessoas possam estar conectadas emocionalmente.

A penúltima palestrante do TEDxUnisinos 2015 foi Viviane Weschenfelder. A professora na área das ciências humanas e pesquisadora das relações étnico-raciais conta que foi motivada a estudar essa área de pesquisa por querer pensar na contramão dos discursos hegemônicos e que nos produzem como sujeitos sociais. “Estudar o outro e compreender o outro é uma das coisas mais importantes das ciências humanas, e é assim que conseguimos romper com o individualismo”, afirma.

De início, questionou sobre o sucesso: “Vocês se consideram pessoas de sucesso? Eu me considero!”, diz. “Ao terminar meu curso superior, eu fiz parte de 16% da população; no mestrado, passei a fazer parte de 0,3%; no doutorado, de 0,09%.  Posso dizer que sou uma pessoa de sucesso”. Contudo, a indignação pela disparidade de oportunidades entrou para a temática no campo da Educação. “A luta contra o racismo é de todos”, salienta. Segundo a pesquisadora, é importante pensar os caminhos tomados pela cultura da exacerbação do indivíduo, evidenciando a escola como a chave para esse rompimento. “É por meio da educação que entendemos o papel do outro no mundo”.

Por fim, Flávia Moraes ousou e apresentou o seu talk de modo diferente. Com uma leitura poética, contou uma história ocorrida na Argentina. Lembrou da infância, quando jogava futebol com os meninos e chegou até se passar por um, mas foi descoberta. Não gostava de usar saias, mas sua mãe e tias a convenciam com histórias. “Não queria ser menino, mas não queria ser enquadrada com menina”, fala. No momento, Flávia conta que está se sentindo muito bem no cenário de inventar e nos reinventar. A realizadora do The Communication (R)Evolution apresentou as suas premissas e garantiu que compartilhar conteúdos e ideias de graça é um ganho de todos. “A inovação é a libertação, no sentido mais espontâneo. Portanto, libertem-se”, finalizando o grande dia de palestras.

Ao fim do evento, todos os palestrantes foram chamados ao palco, na companhia de todos que ajudaram na organização para receberem os cumprimentos da plateia, encerrando assim mais uma edição de sucesso do TEDxUnisinos.

O nosso website usa cookies para ajudar a melhorar a sua experiência de utilização.

Aceitar