Ideias inovadoras, experiências de vida, histórias que valem ser compartilhadas. Foram casos assim que deram forma ao TEDxUnisinos 2014. O evento, que aconteceu neste sábado, 1º de novembro, no Teatro do Sesi, em Porto Alegre, reuniu pessoas em torno de temáticas que, mesmo simples, podem transformar.

Uma dessas histórias foi a de Lauren Aita. Designer por vocação, educadora por inspiração, administradora e relações públicas por formação, ela acredita que cada um pode fazer seus próprios percursos de descoberta. Inspirada pela ideia de “encontrar respostas que, muitas vezes, não se acha em manuais”, Lauren inventou um sistema de aprendizado visual por meio de esquemas sintetizadores de conteúdo.

“Português nunca foi meu melhor amigo. Sabe quando as letras te atrapalham, parecem todas iguais?”, comentou. “Comigo aconteceu isso. Tanto que a primeira vez que li um livro do início ao fim foi no ano passado, por prazer e opção.” Para Lauren, que achou seu “jeitinho único de avançar”, a resposta para a pergunta o que você faz da vida?, que acompanhou toda sua fala, passa por descoberta, validação e protagonismo.

Bruno Bittencourt, o palestrante seguinte, apresentou um panorama do ensino tradicional do país. A partir da constatação de que só a educação pode romper ciclos que não dão certo, Bruno criou uma iniciativa que funciona: a Escola Convexo, onde “aprende-se empreendendo, resolvendo problemas e desenvolvendo negócios”.

Ele viu a escola como ponto de referência e quis compartilhar essa visão com as pessoas ao redor. Para isso, apostou no conceito de conhecimento em espiral. “As pessoas clamam por mudança, mas elas são a mudança. E aí, você vai ficar no ciclo, onde só se reclama, ou vai partir para a espiral, onde a gente faz e envolve mais pessoas?”, provocou.

Quem também partiu para a espiral foi Simone Ronzani. Ela dedica tempo e atenção a crianças por meio de um projeto que reconta notícias de forma colorida, amigável e compreensível. Na época da tragédia da Boate Kiss, em Santa Maria, a jornalista percebeu que “os pequenos não sabiam, mas já tinham uma interação com as notícias em função do meio digital, a web”.

O Recontando utiliza animações, com as quais os mais novos já estão familiarizados, para tratar de temas de relevância social, econômica e ambiental. A ideia para o projeto, curiosamente, nasceu em um engarrafamento no trânsito, quando o filho de Simone, então com quatro anos, questionou a mãe sobre a notícia que era transmitida no rádio naquele momento – prova de que bons insights não agendam horário para aparecer.

“As pessoas clamam por mudança, mas elas são a mudança.”

Bruno Bittencourt, palestrante TEDxUnisinos

Na sequência, Aaron Horowitz, que se considera “campeão mundial de pedra, papel, tesoura e adorador de bacon”, contou ter recebido um conselho dos pais na infância: não há erros na arte de criar. Na vida adulta, essa dica se refletiu em Jerry The Bear, uma invenção de Aaron e sua equipe na Sproutel. O brinquedo – um ursinho que comoveu a plateia – ajuda crianças diagnosticadas com diabetes tipo 1 a controlarem seus procedimentos médicos, ao mesmo tempo em que projetam suas emoções e expectativas no amigo de pelúcia.

Jerry, uma ferramenta de aprendizado interativa, tem sensores sob o pelo e uma tela sensível ao toque na barriga, e possibilita que os pequenos cuidem dele, monitorando seu nível de glicose no sangue, alimentando-o com uma dieta saudável e administrando insulina.

Recordando o passado, Aaron deixou um dica ao público do TEDxUnisinos: “Pensem nos erros como surpresas felizes, que podem movê-los para frente”.

Júlio Brenner, cadeirante há 56 anos, também não se permitiu parar. “A vida é feita de escolhas e elas nem sempre são do jeito que a gente queria.” O palestrante acredita que “as coisas que acontecem vão nos formando”, por isso, ainda na adolescência, depois do acidente que o paralisou, tomou aquela que ele considerava uma difícil decisão: a de continuar vivendo.

“A família e os amigos são fundamentais em todas as circunstâncias da vida”, afirmou. Contando com o apoio dessas pessoas, Júlio graduou-se em Ciências Contábeis e cursou pós-graduação em Administração de Empresas na Universidade Federal de Santa Maria – da qual foi, também, o primeiro professor cadeirante. Hoje presidente da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Santa Maria, trabalha para dar uma vida melhor a aproximadamente 120 pessoas com deficiência mental e múltipla. “Não posso perder tempo fazendo coisas que não valem a pena”, concluiu.

“Pensem nos erros como surpresas felizes, que podem movê-los para frente.”

Aaron Horowitz, palestrante TEDxUnisinos

Encerrando as palestras da primeira parte do TEDxUnisinos, Yentl Delanhesi lembrou ao público o quanto é difícil escutarmos a nós mesmos e tirou uma conclusão com base nisso: “O negócio não é sair de um extremo para outro, mudar de trabalho ou de cidade para resolver problemas, mas ter generosidade e coragem para testar ambientes que nos tiram da zona de conforto”.

Yentl, que valoriza uma vida simples e minimalista, disse que “o que vale é amar suas próprias decisões e aplicá-las no cotidiano. Quando fazemos isso, conseguimos reconstruir nossa realidade com boas intenções e as peças ao nosso redor começam a se reorganizar sozinhas e a gerar resultados positivos”.

Logo após o intervalo, foi a vez de Flavia Maoli retomar as palestras. Há 1377 dias, em 24 de janeiro de 2011, ela tinha 23 anos e estudava Arquitetura. Suas preocupações eram, basicamente, passar de ano e curtir o momento. Assim foi até receber o diagnóstico de câncer. “Era como se minha vida tivesse sido tirada de mim”, comparou.

Ao descobrir que se tratava de um Linfoma de Hodgkin, Flavia sentiu um pouquinho mais animada, pois sabia que as estimativas indicavam 95% de chances de cura para pessoas portadoras da doença. Fez o tratamento e voltou a se sentir ela mesma. Até que, em fevereiro de 2013, o câncer voltou. “Nesse momento, eu percebi que estava no grupo dos 5%.”

Foi quando ela se deu conta: “Se eu tinha tanto medo de morrer, por que não estava aproveitando minha vida?”. Com o lema o câncer não é escolha, o bom humor é, a palestrante reencontrou motivos para sorrir. Passou por quatro quimioterapias e um transplante de medula óssea, se recuperou e a aprendeu a ser feliz incondicionalmente.

Flavia criou o blog Além do Cabelo para compartilhar sua experiência com pessoas na mesma situação dela. A iniciativa começou com o propósito de dar dicas de maquiagem e beleza, mas atingiu tamanhas proporções que se tornou sua nova profissão.

O conselho que Flavia deixou ao público? “A única coisa que mantemos sob controle é a ilusão de que temos controle sobre alguma coisa. Isso pode ser desesperador no começo, mas depois percebemos que é uma terapia muito libertadora. Portanto, aproveitem a vida”.

Já Eduardo Goerl, o piloto de avião que assumiu o palco do TEDxUnisinos em seguida, resolveu aproveitar a vida do alto. Ele sempre havia sonhado em ser comandante e, para isso, tinha toda sua carreira planejada desde o Ensino Médio. Seus pais, entretanto, enxergavam uma curva de conhecimento nessa trajetória – o curso de Gestão para Inovação e Liderança da Unisinos. Com a experiência adquirida na graduação, Eduardo aprendeu coisas que levaria para todas as suas futuras experiências – inclusive como barista, recepcionista de hotel e salva-vidas de piscina.

Como piloto da aviação agrícola, sofreu um acidente, certa vez. “O fracasso se instalou”, disse ele. “Pelo menos até eu perceber o que havia acontecido como um tropeço, e não como uma queda.” Depois de superada essa fase, Eduardo começou a desenvolver um drone para pulverização agrícola e uma certeza: “Mais do que querer mudar o futuro, precisamos mudar as relações de causa e feito no aqui, no agora”.

Para o italiano Alessio Battistella, o seguinte a concentrar as atenções do público, a arquitetura, mais do que sua profissão, é uma missão social. Seu trabalho consiste em desenvolver projetos que façam a diferença para comunidades. Por meio de pesquisas, a cooperativa ARCò, da qual é presidente e membro fundador, identifica os problemas dos locais onde vão atuar e qual a melhor solução para eles, sempre respeitando o meio ambiente.

“A única coisa que mantemos sob controle é a ilusão de que temos controle sobre alguma coisa.”

Flavia Maoli, palestrante TEDxUnisinos

A professora Thais Furtado, que vê na infância um movimento de constante transformação, citou as histórias de dois meninos “roubados por livros”: Gabriel, 10 anos, e José Junior, 21. Gabriel e Junior vivem em realidades diferentes, mas compartilham do mesmo interesse pela leitura hoje em dia. O primeiro, leitor desde pequeno, foi introduzido à literatura em função do cinema (filmes da saga Percy Jackson). O segundo leu um livro completo, pela primeira vez, em 2013.

“É preciso despertar o desejo das crianças pela leitura, de modo que elas utilizem o livro como uma ferramenta prazerosa para desenvolver melhor a compreensão, a comunicação e a concentração”, disse Thais. “Ler tem que fazer sentido.”

Assim como a leitura, os desenhos também estiveram presentes no evento. José Alberto Lovetro falou sobre a riqueza da linguagem dos quadrinhos como forma de aprendizado. De acordo com estudos feitos por ele, é possível, sim, tratar de assuntos de aula por meio das ilustrações. “Quando uma criança desenha, ela está criando o mundo”, afirmou. Em uma experiência de três meses nas escolas, Jal, como é conhecido, constatou uma melhora de 30% a 100% no desempenho dos alunos. “Os quadrinhos são uma das soluções para o ensino. Simples assim.”

Por fim, Vanessa Andreotti subiu ao palco para descontruir o mito de que o desenvolvimento da sociedade se dá apenas pela capacidade das pessoas ditas sábias. “A diferença é absolutamente necessária”, declarou. Para ela, estamos tentando responder os problemas da educação com base nos mesmos paradigmas que originaram esses impasses, ou seja, repetimos os mesmos erros, porque não sabemos focar no que não conseguimos imaginar.

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