Com o crescente avanço da automação em todas as profissões, muitos postos de trabalho foram substituídos por máquinas e computadores ao longo dos anos. O acréscimo da tecnologia facilitou atividades e trouxe mais dinamismo para a realização de tarefas, mas não foi capaz de suprir competências exclusivamente humanas. Assim surgiu o estudo “Are social skills helping women in the Brazilian labor market?” (“Habilidades sociais estão ajudando as mulheres no mercado de trabalho brasileiro?”, em tradução livre), conduzido pelo pesquisador e professor da Escola de Gestão e Negócios da Unisinos, Guilherme Stein, em parceria com pesquisadores da UFRGS.
A compreensão de como as habilidades sociais favorecem as mulheres no cenário profissional brasileiro se baseia principalmente pelas mudanças no estilo de vida ocorridas de 1994 a 2017. A pesquisa avaliou de que maneira as ocupações que exigem certas habilidades específicas – que necessitam de consciência e jogo de cintura – ganham cada vez mais importância e valorização. Classificadas como “sociais”, essas competências envolvem a capacidade de trabalhar com pessoas para atingir objetivos.
Com dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), que classificou cada uma das ocupações do mercado de trabalho formal de acordo com seu grau de exigência de habilidades sociais, as mulheres aparecem em predominância quando o assunto é capacidade de coordenação de grupos, capacidade de negociação e de persuasão, proatividade em ajudar os colegas e a capacidade de percepção do todo (estar atento a reação dos outros e compreender por que as pessoas reagem de um determinado jeito).
Estudos de neurociência afirmam que as mulheres têm uma vantagem comparativa ao desempenhar ocupações que exigem essas habilidades. Na medida em que adquirem cada vez mais relevância enquanto requisito para vagas, o domínio de atribuições sociais se transforma em oportunidades para que as mulheres assumam profissões bem remuneradas e de destaque no mercado de trabalho.
A principal motivação do estudo foi a constatação de que, em 1994, do total de mulheres empregadas, apenas 1/4 (24,5%) ocupavam empregos de altos salários. Em 2017, essa proporção passou para 33,2%, um aumento de 8,7 pontos percentuais. Em contrapartida, a proporção de homens apresentou uma trajetória em sentido oposto (de 56,1% para 47,1%). A hipótese investigada é de que, dentre outros fatores, o aumento na escolaridade das mulheres e a crescente importância de habilidades sociais em postos de trabalho de alta remuneração podem ter contribuído para o aumento das mulheres nesses cargos.
Os principais resultados do estudo mostram que, de fato, a habilidade social na ocupação está correlacionada com um aumento de cerca de 8 pontos percentuais na proporção de mulheres empregadas em trabalhos de alta remuneração. Além disso, habilidades sociais como pré-requisitos nas ocupações de alta remuneração estão correlacionadas com um aumento médio de 14% no salário das mulheres. No caso dos homens em ocupações de altos salários, os requisitos de habilidades sociais não impactam significativamente.
Tal fenômeno, desencadeado pelas inovações tecnológicas que provocam rápidas mudanças no mercado de trabalho, pode ter influenciado positivamente na redução do diferencial de salário entre homens e mulheres nas profissões de alto capital humano. Este trabalho é pioneiro no Brasil e provoca a discussão sobre a importância das habilidades sociais na valorização das mulheres no mercado de trabalho.