Imagens significam mensagens que, para quem olha de maneira menos atenta, podem ser curtas e esvaziadas de significado. Vivemos hoje em uma ânsia de consumo imagético para compreender, consumir e, de certa forma, compartilhar um pouco da vivência de quem estava lá para produzir uma fotografia de um fato. Felizmente, o mundo dos fotógrafos está cada vez mais além dessa realidade. Com profissionais mais qualificados, com acesso a ferramentas mais poderosas – e o conhecimento para utilizá-las facilmente disponibilizado na rede – eles documentam e metacomunicam nossa sociedade. Fazem uma mescla do que somos, do que éramos e de em quem estamos nos transformando, mostrando, ora a vida alheia, ora sua própria intimidade. Usam referências e conhecimento que vão além da simples reprodução de ideias e conceitos.
Tudo isso acontece em momentos de troca: sala de aula, leituras, consumo de novas referências pela internet (blogs, sites, redes sociais, portfólios online). Momentos que têm peso na construção da linguagem fotográfica dos novos talentos que surgem e que se mesclam com mestres da fotografia contemporânea. Uma dessas oportunidades – na verdade uma das maiores em nosso país e na América Latina – é o Festival Internacional de Fotografia Paraty em Foco, que ocorre na cidade que o nomeia, no Rio de Janeiro, entre os dias 24 e 28 de setembro. O festival reúne os principais nomes da produção imagética de diversos países, todos prontos para aprender um pouco mais com seus colegas e dividir seus conhecimentos.
Na décima edição do Festival, a Unisinos estará muito bem representada por dois estudantes e dois professores do curso de Fotografia. Giordano Bruno Cardoso e Leonardo Savaris, discentes, Tiago Coelho e Renata Stoduto, docentes, tiveram seus trabalhos selecionados na categoria Portfólio em Foco. Para Beatriz Sallet, coordenadora do curso, essa é a concretização do plano de ensino que tem como norte a preparação para o mercado e para a vida. “É uma alegria muito grande para a coordenação ver professores e dois alunos participando do festival, ainda mais com trabalhos que foram desenvolvidos dentro do curso. Para um graduando, colocar seu trabalho em um festival internacional como o Paraty em Foco abre muitas portas”.
Amores, diálogos, muros e marketing
“Para a fotografia, festivais como esse têm um peso semelhante aos seminários para as demais áreas acadêmicas. Como a área é muito jovem academicamente, é preciso trocar e gerar conhecimento por meio das novas referências que se apresentam em festivais”, diz Renata Stoduto, professora do curso, que teve seu trabalho “Amores Líquidos” selecionado para o Portfólio em Foco. Para ela, o Paraty é uma ocasião para entender os processos de produção da fotografia contemporânea, uma vez que ela está em movimento. “Além do mais, o Festival é uma vitrine muito grande, não só para os nossos trabalhos, como para o curso de Fotografia da Unisinos, afinal, somos, ao todo, quatro representantes da universidade. Para o curso, nossa participação é fundamental porque esse acúmulo de experiências e conhecimentos será compartilhado com os nossos alunos. E, pessoalmente, é uma alegria muito grande ter um trabalho reconhecido e legitimado pelos grandes nomes que compõem a curadoria do festival”, afirma.
Para Tiago Coelho, a seleção de “O Marketing”, além de uma alegria, é mais uma parte de seu processo de ensino, já que o trabalho fotográfico teve seu desenvolvimento acompanhado pelos alunos do curso desde o início. “Isso acaba incentivando os estudantes a desenvolverem seus próprios trabalhos e inscreverem em festivais e premiações, tendo a chance de leva-los para fora”, diz o professor. Incentivo que, somado a relações próximas entre professores e alunos tem mostrado o resultado desde cedo. Giordano Bruno Cardoso é aluno do segundo semestre da Graduação em Fotografia. Seu trabalho “Entre muros”, selecionado para o Portfólio em Foco, foi desenvolvido para a disciplina de Fotografia, do primeiro semestre do curso. “Na verdade, eu sempre quis fotografar o São Pedro, pois já observava o local há um tempo. Sempre gostei, também, da fotografia de locais abandonados em preto e branco e sua linguagem sombria. Então, comecei a negociar com a direção do São Pedro. Foi mais de um mês de e-mails e ligações. Meu pedido foi parar até na Secretaria da Saúde para que fosse, enfim, aprovado”, conta Giordano.
Leonardo Savaris, por outro lado, permitiu-se observar com calma as relações dialéticas que ocorrem nas ruas. Entre suas idas e vindas rotineiras de um trabalho para outro, o aluno, no melhor estilo Bressoniano, capturou momentos decisivos para formar diálogos em suas composições. “Diálogos”, aliás, é o nome do trabalho resultante dessa observação típica da fotografia como arte contemporânea, que mistura conceito, paciência e composição cuidadosos, e que foi selecionado, também para o Portfólio em Foco. “Desde que eu comecei na fotografia, ser selecionado para o Paraty em Foco sempre foi um sonho. Só não esperava que fosse acontecer tão cedo, afinal, estou apenas no terceiro semestre do curso. Tenho certeza de que a qualidade dos professores do curso e meus estudos e leituras me favoreceram muito. Na verdade, a ficha ainda não caiu. Acho que só vou acreditar que estou no Paraty na semana que vem, quando viajar para lá”, fala.
China
Além do Paraty em Foco, Tiago Coelho ainda representará a Unisinos no Lianzhou Photo Festival, na China, em novembro deste ano. “Meu trabalho ‘O Marketing’ ainda está em desenvolvimento, e é um trabalho que sacia uma curiosidade antiga que tenho em relação aos cartazes que ficam nas ruas de Porto Alegre. Eu sempre digo que, se eu não fosse fotógrafo, seria detetive, pois gosto muito de investigar. Então esse trabalho me deu a oportunidade de juntar duas das minhas paixões”, conta ele.