Em 2017, o Programa de Pós-Graduação em História da Unisinos comemora seus 30 anos de existência. E, nesse mesmo ano de celebrações, pude levar nome o dessa instituição, enquanto aluno de doutorado sob orientação do professor Paulo Staudt Moreira, para o outro lado do Atlântico. A experiência de quatro meses em Portugal foi fundamental para o desenvolvimento de minha pesquisa. Ingressei no doutorado em 2015 com um projeto focado em dar continuidade à pesquisa realizada no mestrado, entender uma prática social trazida na esteira da colonização ibérica para o território americano: o ato de enjeitar ou expor as crianças. Em linhas gerais, essa prática consistia em abdicar da criação de um filho/a, o/a abandonando (usando um termo mais contemporâneo) na casa de outrem.
O projeto analisa esse fenômeno em todo o Rio Grande do Sul nos séculos XVIII e XIX, procurando entender como diferentes etnias aqui estabelecidas: indígenas, africanos e europeus incorporam essa prática nesse território. Trata-se tanto de explicar essa prática incorporada por essas diferentes etnias quanto entender a assistência que a Coroa portuguesa exigia dos administradores portugueses no território sulino.
Dado esse pequeno esboço da pesquisa podemos ter ideia da importância e crescimento que foi minha ida a Portugal. Lá estive vinculado à Universidade de Évora sob a orientação da professora Laurinda Abreu, com grande experiência de pesquisa nos temas da assistência e pobreza no período moderno. A oportunidade de estudar em outro país, além de tomar conhecimento de novos arcabouços teóricos, há uma experiência muito especial, que para àqueles que se dedicam aos estudos dos séculos XVIII no Brasil é riquíssima, ter dimensão da geografia atlântica e a arquitetura do Império português, conhecer o território português e principalmente Lisboa, trouxe novas dimensões e questões à pesquisa.
Além dos estudos em Évora também foi de grande importância para meus estudos o contato com os arquivos portugueses e pesquisadores dessa temática no além-mar. Dessa forma, em minha bagagem, além de tantos conhecimentos trouxe novas fontes de pesquisas, novos amigos e uma grande bagagem cultural. Em minha última reunião antes de meu retorno à Unisinos, antes de me despedir de minha orientadora, ela mencionou uma frase que sintetiza muito minha passagem por Portugal e com ela que encerro esse breve relato: “…é conhecendo o mundo que conhecemos o nosso mundo”.