Ocorreu, na semana passada, na Unisinos São Leopoldo, encontro promovido pelas áreas de Extensão e Iniciação Científica da Universidade, que reuniu representantes da Instituição e comunidade acadêmica. O objetivo era promover o diálogo entre os diferentes atores participantes das práticas extensionistas. O intuito do evento era qualificar o protagonismo da Unisinos nas diferentes ações em que se envolve, como a Rede Solidária São Léo, um movimento que articula diferentes atores sociais.
“A inovação social é um pilar da construção de saberes”, explicou o padre Clóvis de Melo Cavalheiro, gerente de Projetos da Unitec, o parque tecnológico da Unisinos. Clóvis tem formação em teologia e filosofia. “Juntos somos mais fortes. Cada um tem o seu conhecimento. Precisam andar juntos universidade, poder público, igreja, conselhos, comunidades. Cada um é um membro. O projeto de pesquisa só funciona quando se tem desejo”, enfatizou ao grupo presente.
As ONGs são parte desta rede
Eva Sarmento, representante da ONG Cidadania e Moradia, formada por empregados da Caixa Econômica Federal, comentou que tem um grande amor pela Unisinos. “É uma relação que me fez crescer e evoluir, enxergar o mundo com outros olhos. Fazer projetos com a Unisinos nos dá potencialização. Conseguimos abraçar mais pessoas”, observou. Eva disse que quer colaborar e ajudar. “O propósito da caminhada é sempre chegar, e nunca ganhar de ninguém. Estamos todos dando passos um ao lado do outro”, disse.
Gislaine Garcia da Silva, representante da Ocupação Steigleder, localizada no bairro Santos Dumont, em São Leopoldo, trouxe uma fala da perspectiva de quem é o público-alvo de todas as ações. “Conhecemos a Universidade logo depois de uma enchente na comunidade. Éramos uma localidade totalmente invisível para a população leopoldense. A Steigleder era usada como depósito de lixo”, lembrou. Depois disso, segundo Gislaine, a Ocupação começou a ser vista com outro olhar.
“Quando eu falava: ‘Eu moro ali na beira do dique’, as pessoas perguntavam: ‘Onde é isso?’ O aprendizado que a gente teve com a Unisinos lá dentro é para a vida toda. Nós éramos mulheres muito quietas. Hoje, eu digo para o meu marido onde eu vou e o que eu quero fazer. Aprendi a dizer ‘não’”, relatou a moradora. Gislaine disse ainda que a Steigleder não recebe a Universidade apenas como alunos que estão ali para aprender. “Mas acolhemos todo mundo como amigo. Quem entra lá, se torna da família”, enfatizou. O portal Mescla, produzido pela Agência Experimental de Comunicação (Agexcom) da Unisinos, já publicou uma matéria sobre a Ocupação em 2019, com um podcast que conta um pouco de como é viver lá.
Estava presente também Adroildo Vieira Gonçalves, do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM). Ele avaliou que havia organizações por luta de terra, por espaço, mas perceberam que a luta não era só por moradia. “Aprendemos a lutar pelas pessoas que tinham problemas com o judiciário. Aprendemos com a rede sobre as hortas comunitárias. Uma rede é um conjunto de nozinhos que constituem um fio. A força da rede está em nós”, sublinhou. Adroildo lembrou também que a Unisinos tem uma responsabilidade socioambiental. “Esse compromisso deve fazer parte da formação de todos os alunos”, pontuou. O Instituto Humanitas Unisinos (IHU) produziu uma matéria sobre uma das ações do MNLM em maio deste ano.
O aprendizado com a Rede Solidária São Léo
Marilene Maia, mais conhecida como Meni, trabalhou como professora do curso de Serviço Social da Unisinos por 36 anos, e também em programas e projetos de extensão. Ela criou, durante a pandemia, a Rede Solidária São Léo, juntamente com a professora Isamara Allegretti, do curso de Gestão de Recursos Humanos, e lideranças de outras organizações. “É uma organização que se constituiu pelo acompanhamento que fazíamos das comunidades moradoras de ocupações urbanas de São Leopoldo. A partir das questões postas às garantias de vida das comunidades, fomos construindo, com elas, projetos e ações sociais, que seguem até hoje”, explicou.
As ações sempre foram pautadas por questões e problemas vividos pelas comunidades, comentou Meni. “A escuta dessas questões e o acompanhamento continuado dessas realidades são feitas pela Extensão da Universidade, que faz a interlocução com o ensino e a pesquisa. Eis a potência dessa área”, salientou. No encontro, observou Meni, houve a visibilização de atores parceiros da Universidade, dos processos e resultados promovidos pelas ações extensionistas e de suas múltiplas interlocuções dentro e fora da Universidade. “Percebemos também que, apesar dos avanços, a Unisinos tem desafios importantes para reconhecer e valorizar o trabalho extensionista, inclusive com apoios de recursos humanos e financeiros”, afirmou. Para conferir mais sobre projetos e outras ações envolvendo a Rede Solidária São Léo, leia as matérias produzidas pelo portal Mescla.
A metodologia de trabalho
O movedor de todo o processo são as perguntas que pulsam da realidade, complementou Marilene: “Tudo é disparado por uma pergunta-ação. A partir de uma pergunta, se elabora uma ação. Perguntas que sempre estão presentes são: ‘Como é estar nesta terra?’, ‘Vão despejar?’ e ‘O que a gente faz sem dinheiro?’ A convivência é fundamental. A convivialidade de pequenos grupos faz a diferença”, avaliou.
A presença do poder público
Esteve presente também a secretária da Habitação de São Leopoldo, Karina Camillo, que destacou a importância da universidade para pressionar os poderes. “O contato com as comunidades vai auxiliar aquele aluno a entender a realidade. Entender que caminhos são esses, para ser um profissional melhor. Para fazer a construção de uma cidade melhor. O trabalho da rede é fundamental. A universidade também colabora. Se não tiver ninguém questionando, o poder público não vai até os territórios”, afirmou.
As Irmãs Missionárias de Cristo Ressuscitado, comunidade ligada à Igreja Católica, foi representada por Carolina Molina. Ela também faz parte do projeto Mundo Mais Limpo, cooperativa de mulheres de São Leopoldo que tem por finalidade a obtenção de recursos econômicos e a emancipação social através da produção e venda de produtos de limpeza ecológicos, feitos com óleo de cozinha reciclado. “O trabalho tem que ser feito com os moradores. Entendemos que é junto com outros que conseguimos dar resposta à alguma necessidade”, salientou.
Para a gerente de Desenvolvimento de Ensino da Unisinos, Cristiane Maria Schnack, a forma de ensinar e aprender tem mudado, e deve, cada vez mais, incorporar a comunidade. “Que esses diferentes saberes possam ser e valorizados. É preciso trazer, como professores, diferentes vozes. O compromisso da universidade é fomentar o diálogo entre diferentes vozes e fontes de saber”, explicou Cristiane, que é também professora da Escola da Indústria Criativa.
Confira vídeo produzido pela Unisinos que explica a importância da cooperativa Mundo Mais Limpo.