“Eu gosto de criar meus próprios caminhos”

Com o tema Sonhos e Conexões, a primeira edição do TEDxUnisinosSalon acontecerá na sexta-feira, 26 de junho, das 10h às 11h30 na sala Santander, no campus Porto Alegre.

Marcelo Amaral, palestrante do TedXUnisinosSalon se define assim: marido, pai, jornalista e ultramaratonista. Epilético desde a primeira infância, Marcelo trabalha com planejamento estratégico de comunicação e conta como a doença trouxe dificuldades e ensinamentos ao longo de sua vida. “Não sonhei com nada disso, mas convivo bem com as minhas escolhas e realizações, graças aos aprendizados que uma epilepsia de difícil controle trouxe, ao longo de 20 anos”, afirma.

Conheça um pouco mais a história de vida de Marcelo.

Quando foi diagnosticada a doença?

Fui diagnosticado após uma crise, com 1 ano e 8 meses de idade. Eu estava no colo da minha mãe. Não deve ter sido a melhor das experiências para ela.

Como você aprendeu a conviver com a epilepsia? 

O mais difícil foi conviver com as pessoas e com alguns aspectos da nossa cultura. Com a doença foi fácil, já que ela sempre foi parte do meu corpo.

A doença mudou a sua forma de encarar a vida e sua relação com a família? 

Quando casei e fiquei pai eu já estava curado. Porém, durante a gravidez, a Daniela, minha esposa, precisou ser compreensiva com o meu temor de a Olívia, minha filha, que completa 4 anos em 2015, nascesse com algum problema semelhante.

Quando a maratona entrou na sua vida? O que essa atitude trouxe de inspirador para o seu dia a dia? 

Eu sempre pratiquei esportes. Apesar de ter jogado futebol, basquete, vôlei e tênis, correr foi algo que sempre fiz paralelo. A única vez que tive uma lesão por repetição e esforço foi por causa da corrida. Com 12 anos, fui proibido de correr pelo médico por que estava com tendinite. Com essa idade, eu corria cerca de 40 quilômetros por semana. Na mesma época, assisti uma reportagem sobre o Valmir Nunes, um ultramaratonista de Santos/SP que, na época, já era tricampeão mundial de ultramaratona de 100 quilômetros. Naquele mesmo momento coloquei na cabeça que um dia eu correria algo do gênero. Em 2010, com 29 anos, participei da primeira ultramaratona, uma prova de 24 horas no Rio de Janeiro. Consegui correr 60 quilômetros e me arrastar outros 45, fazendo um total de 105 quilômetros em 18 horas.

Existe uma conexão entre ter epilepsia e ter se tornado um ultramaratonista? 

Sim. Enquanto eu tinha a doença, entre 1 e 20 anos, foi o esporte que ajudou a manter o ânimo lá em cima. Por isso, agradeço aos meus pais, que sempre foram atletas e me influenciaram positivamente de forma despretensiosa e simplesmente me apoiando, me tratando como uma criança e um jovem normal. Inclusive em relação às cobranças. Voltando. Depois da cirurgia, mais exatamente em 2005, fui diagnosticado com uma depressão pós-traumática. Eu estava com dificuldades de viver sem a doença. Tomei medicação por umas duas semanas e joguei tudo no lixo. Senti vergonha de ter depressão depois de ter derrotado mentalmente e clinicamente a epilepsia. Fui viver a vida, mas não foi suficiente. Precisava de algo que contemplasse toda a musculatura psicológica que desenvolvi em 20 anos. Foi quando, em 2009, comecei a me dedicar a correr para ir cada vez mais longe, simplesmente. Correr até aguentar, sem contar a distância. Em 2010 lembrei do desejo de correr uma ultramaratona. A partir daí, aos poucos, conversando com outros corredores e lendo sobre epilepsia, suas causas e como as pessoas reagem a doença, entendi que o epiléptico tem uma força mental absurda. E ultramaratona é um esporte tanto de fôlego e resistência muscular quanto mental. Por diversas vezes quem leva um ultramaratonista um passo a mais em um trajeto é a cabeça. Esse mesmo esforço e aparato psicológico que um corredor normal precisa desenvolver eu moldei desde criança no convívio com a epilepsia.

O que essa vivência te trouxe de inspiração tecnológica? 

Gosto de criar meus próprios caminhos, minhas próprias trajetórias de corrida. Meus melhores amigos hoje são o Google Maps e o Google Trilhas, que me ajudam a desenhar as rotas do projeto Travessias dos Vales, de turismo autoguiado a pé, pelo qual procuro desenvolver uma cultura de apropriação dos espaços por meio do movimento. Por que isso? Proponho que os corredores não sejam dependentes de competições para se expressarem. Cada um pode criar a sua própria trajetória e não depender somente de organizadores para vivenciarem desafios pessoais e nem para dividir experiências por meio do esporte.

O nosso website usa cookies para ajudar a melhorar a sua experiência de utilização.

Aceitar