Estudo desvenda os segredos da migração da baleia-franca-austral

Pesquisa, que contou com a participação de 11 países, terá impactos na preservação da espécie

Crédito: Getty Images

Em um estudo inédito, formado por uma equipe internacional, foi confirmada a conexão entre as áreas reprodutivas do sul do Brasil e Argentina da baleia-franca-austral durante os meses de inverno. Já se sabia que as populações se alimentavam em torno da ilha subantártica da Geórgia do Sul, mas ainda apenas poucos animais haviam sido foto-identificados em ambas áreas reprodutivas da espécie. “Esse entendimento permitirá melhorar os esforços de conservação para sua recuperação, após anos de caça”, afirma a professora e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Biologia da Unisinos, Larissa Rosa de Oliveira, que faz parte da equipe responsável pelo estudo.

Segundo a pesquisadora, as baleias-francas-austrais foram extremamente caçadas por séculos até quase a sua extinção. O estudo, o mais abrangente desse tipo já realizado, comparou o DNA de amostras de pele de baleias das ilhas subantárticas Geórgia do Sul, com amostras coletadas no Brasil, Argentina, África do Sul e no Indo-Pacífico que são importantes áreas reprodutivas e de berçário da espécie. “Usando ferramentas moleculares de alta resolução, confirmamos que a maioria dos animais que visitavam a Geórgia do Sul tinham nascido na América do Sul e não na África do Sul”, destaca Larissa.

Colaborando com colegas chilenos, a equipe também analisou pela primeira vez uma amostra de DNA da população de baleias-francas-austrais do Chile-Peru, uma população criticamente ameaçada de extinção. “Eles descobriram que as baleias do Chile-Peru são uma mistura genética entre as áreas de reprodução dos oceanos Indo-Pacífico e Atlântico, sugerindo que o litoral do Chile-Peru agiu como um ‘trampolim’ entre essas duas grandes bacias oceânicas”, conta a professora. Segundo ela, os resultados mostram este importante link migratório entre as áreas de ocorrência da espécie e confirmam a conexão entre Brasil e Argentina, assim como dados preliminares que estudos genéticos e foto-identificação já apontavam.

De acordo com a líder da pesquisa, Emma Carroll, da Universidade de Auckland na Nova Zelândia, os métodos genéticos são importantes no estabelecimento da conexão entre áreas de reprodução das baleias-francas-austrais. “É importante olhamos as áreas intensamente monitoradas para avaliação da recuperação da população e com as áreas de alimentação, as quais estão sendo e serão afetadas pelas mudanças climáticas. É somente compreendendo esses elos de ligação que podemos entender como as populações das baleias-francas-austrais sobreviverão em um mundo em mudança”, explica.

A ecóloga, Jennifer Jackson, do British Antarctic Survey, instituição que liderou o projeto, diz que esse resultado é uma parte importante do quebra-cabeças para entender a amplitude da distribuição das baleias-francas-austrais. “A identificação dos vínculos migratórios das populações de baleias em recuperação é crucial para realizar avaliações precisas sobre como as populações de baleias estão se recuperando, e para entender qual a vulnerabilidade frente às ameaças antropogênicas ao longo de seu ciclo de vida. Houve mortalidades inexplicavelmente altas de filhotes de baleia-franca-austral na região da Península Valdés na Argentina nas últimas duas décadas. Portanto, há muito trabalho a ser feito para proteger essa espécie em toda a área migratória”, aponta a estudiosa.

O estudo, realizado nos últimos 10 anos, contou com a participação de 30 pesquisadores de 11 países. A Unisinos esteve presente nesse trabalho representada pela professora Larissa, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Biologia da Universidade. Os resultados e descobertas da pesquisa foram divulgados na revista científica internacional Journal of Heredity, na edição de maio de 2020, sendo a matéria de capa da revista.

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