Uma pesquisa recente realizada pela Unisinos revelou dados preocupantes sobre a qualidade ambiental na Bacia do Rio dos Sinos após a enchente de abril e maio de 2024. As análises físico-químicas e microbiológicas identificaram traços de metais acima do permitido e presença significativa de bactérias em sedimentos, levantando alertas sobre a contaminação em áreas urbanas e periurbanas.
Nos dias 1 e 2 de julho, equipes de estudantes e professores da Escola Politécnica saíram a campo para realizar coletas em diversos pontos da bacia, desde Taquara até Canoas. No total, foram coletadas 11 amostras de água superficial e 13 de sedimentos. As coletas focaram em áreas periurbanas e urbanas afetadas pela enchente, com o objetivo de identificar possíveis contaminantes bioquímicos, como metais pesados e microrganismos, prejudiciais à saúde pública.
Coleta e análise
Os materiais coletados foram analisados pelo Instituto Tecnológico de Paleoceanografia e Mudanças Climáticas (itt Oceaneon) e mostraram que os metais cádmio, cromo, cobre e níquel foram detectados acima dos valores de prevenção da Resolução Conama nº 420/2009 em sedimentos em diversos pontos da bacia. O níquel foi encontrado em concentrações superiores aos limites de prevenção em 6 dos 13 pontos amostrados, e o cromo em 4 pontos. Já o cobre e cádmio ultrapassaram os valores em 2 e 1 ponto, respectivamente, de áreas urbanas em São Leopoldo, nos bairros Campina e Santos Dumont, registrando mais de um elemento acima do recomendado.
Além disso, 100% das amostras de sedimentos apresentaram a presença de mercúrio, com concentrações variando entre 0,0015 e 0,0533 ppm. Os teores mais elevados do elemento químico foram registrados nos bairros Vicentina e Scharlau, com concentrações de 0,0533 e 0,047 ppm, respectivamente. Apesar de estarem abaixo do limite estabelecido pela Resolução Conama nº 420/2009, os valores encontrados ultrapassam os Valores de Referência de Qualidade (VRQ) dos solos indicados na Portaria nº 85/2014 da Fepam, que estabelece 0,043 mg/kg como o valor de referência para mercúrio em solos na Bacia do Rio dos Sinos, indicando risco de acúmulo do metal em futuras enchentes.
No aspecto microbiológico, as análises conduzidas no Instituto Tecnológico em Alimentos para a Saúde (itt Nutrifor), revelaram a presença de Escherichia coli, bactérias mesófilas aeróbias e coliformes totais em 100% das amostras de sedimentos. As concentrações variaram entre 101 e 103 UFC/g para Escherichia coli, entre 105 e 107 UFC/g para bactérias mesófila aeróbias, e entre 102 e 105 UFC/g para coliformes totais. Embora não exista legislação específica que determine os limites aceitáveis desses microrganismos em solos, esses níveis podem ser um indicativo de contaminação por esgoto ou resíduos orgânicos que foram trazidos pelas águas da enchente.
Próximos passos
Os dados preliminares reforçam a necessidade de monitoramento contínuo dos sedimentos e da água da Bacia do Rio dos Sinos, especialmente em áreas urbanas impactadas pela enchente. O acúmulo de metais e a contaminação bacteriológica podem representar riscos à saúde pública e ao meio ambiente, caso não sejam acompanhados de medidas preventivas.
A pesquisa seguirá em andamento, com o monitoramento das áreas.