Estudantes criam experiência de audição coletiva

Produto digital compõe trilhas sonoras a partir da presença humana

Foto: Reprodução

Fazemos com o nosso tempo aquilo que dita a sociedade. Estudamos, trabalhamos, cuidamos dos filhos e da casa. Somente em raras ocasiões é que interrompemos esse ciclo de ações pré-definidas e olhamos ao redor. Estamos tão acostumados com a correria, que nos fechamos às descobertas.

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Foi pensando em como o tempo virou sinônimo de poder e ganhou ares de moeda de troca, que os estudantes da Graduação em Comunicação Digital Áldren Avila, Carlos Pivetta, Lucas Pies, Sara Müller e Thiago Scherer criaram um meio para cessar esse frenesi e dar chance à sensibilização.

Na atividade acadêmica de Multissensorialidades, sob a supervisão dos professores Guilherme Caon e Suzana Kilpp, os alunos desenvolveram o Timeless. O produto digital incentiva os indivíduos que compartilham do mesmo espaço geográfico a disporem de seu tempo para gerarem uma experiência de audição coletiva, que interage com as pessoas e compõe trilhas sonoras a partir daí.

“Deixamos nosso pragmatismo engolir nossa afetividade, e perdemos um pouco do interesse com o que nos cerca.”

Guilherme Caon, professor

Projetadas em uma parede, estão uma imagem estática e a mensagem: “Pare e ouça”. No chão em frente à estrutura, há pontos de marcação, sobre os quais as pessoas se posicionam. Uma webcam instalada no topo da parede capta a presença humana e envia a informação para uma página codificada, que a interpreta e, em seguida, libera o áudio de uma faixa instrumental. Como resultado, a projeção é animada conforme a frequência do som. Quanto mais pessoas param nas marcações, mais faixas são ativadas e mais completa torna-se a composição.

Relação com o tempo

Tão fugaz é o tempo, que ele passa e quase ninguém vê. Em função disso, o Timeless surge com o intuito de parar o público em seus caminhos habituais e de engajá-lo em um momento de interação sensorial. Como observa o professor Guilherme Caon, “cada vez mais estamos na correria, espremendo atividades dentro de uma agenda que nunca termina. Isso faz com que tenhamos uma percepção mais acelerada e menos sensível sobre tudo o que está à nossa volta. Deixamos nosso pragmatismo engolir nossa afetividade, e perdemos um pouco do interesse com o que nos cerca”.

A lógica do time is money furtou o espaço da assimilação e impôs o caos da inquietação. “Vivemos em uma sociedade com um ciclo muito claro de como deve-se dar procedimento ao tempo ao longo da vida. Esse ciclo é uma construção constante, devido às necessidades mercadológicas e de desenvolvimento econômico-social”, analisa Áldren.

Desenvolvimento e resultado

A criação do Timeless passou por muito estudo e experimentação. A inspiração para o produto surgiu na atividade acadêmica de Ficção e Tecnologias Digitais, ministrada por James Zortéa. Foi nela que os alunos tiveram o primeiro contato com o trabalho do pesquisador francês Paul Virilio. “Daí em diante, começamos a pensar mais a fundo nos conceitos de tempo e velocidade, mas ainda demoramos mais duas semanas para idealizar o projeto em detalhes”, conta Áldren.

Para animar a projeção em tempo real, os alunos usaram um software para VJs. Já a página com o código que interpreta a informação, eles mesmos criaram. Antes da apresentação final do produto, passaram três noites (frias) na Unisinos São Leopoldo, em frente ao Diretório Central de Estudantes, montando a estrutura e realizando testes.

O resultado compensou o esforço. Guilherme avalia a criação de música eletrônica e de outros elementos artísticos para a experiência como méritos do grupo: “E, não menos importante, o pessoal estava muito motivado. Dava para perceber que eles tinham feito algum avanço quando estavam todos muito agitados e felizes. Para um professor, ver essa motivação de quem já está conseguindo avançar com suas próprias técnicas é muito gratificante”.

Apesar de ter sido projetado para uma atividade de aula, o Timeless tem potencial para outros cenários comerciais e artísticos, como shows, bienais, exibições de video mapping e ações publicitárias em geral. “Nada impede que a experiência seja feita em outro local [fora da universidade]. Ela pode ser realizada até mesmo nos centros urbanos, onde a concentração de pessoas é exponencialmente maior. Daria um resultado bem interessante”, finaliza Áldren.

Assista ao making of no Youtube.

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