Esta é a primeira de uma série de perfis com professores da Unisinos que estão em intercâmbio para estágio pós-doutoral. Abriremos com a história de Celso Carnos Scaletsky, que está em Chicago, nos Estados Unidos. O arquiteto faz parte da Escola de Indústria Criativa da Unisinos, e está pesquisando no Institute of Design – Illinois Institute of Technology.
Vivendo desde o dia 10 de janeiro na cidade mais populosa do estado de Illinois, Celso tem uma bolsa de estudos vigente até o dia 31 de julho, financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Segundo ele, a vontade de iniciar o pós-doutorado está associada à construção de novos laços com importantes centros de pesquisa. “Fazer um pós-doc é um momento importante da vida de um pesquisador, um momento de provocação, sair de nossa área de conforto”, enfatiza.
A pesquisa de Celso aborda a construção de cenários dentro do design estratégico. Ainda em andamento, ela está sendo desenvolvida com o auxílio do professor Stan Ruecker, que inclusive já recebeu proposta de trabalhar com ele e outros professores da Pós-Graduação de Design na Unisinos. “Eu e alguns colegas enviamos uma proposta para trazer o professor Stan Ruecker como professor visitante especial, do programa Ciências Sem Fronteiras. O projeto foi aprovado e o professor Stan trabalhará com a gente por mais três anos”, destaca.
Sobre Chicago, Celso admira a organização da cidade, em relação à hospitalidade, o trânsito e a arquitetura de museus e prédios históricos, inclusive em um deles, o professor reside. “Moro em um edifício histórico, Fisher Building. No final do século XIX existiam dois prédios com 18 andares na cidade, este é o único que ainda restou. Do meu apartamento posso ver o Lago Michigan. Estou muito bem localizado, no coração da cidade – The Loop”, explica. Já do Brasil, o que ele mais sente falta é da família e dos amigos, e também, faz algumas comparações entre situações do país natal e dos Estados Unidos.
“Fazer um pós-doc é um momento importante da vida de um pesquisador, um momento de provocação, sair de nossa área de conforto.”
Celso Carnos Scaletsky, professor da Unisinos
Como surgiu a vontade de fazer um pós-doc?
Celso: Acredito que a realização de um pós-doc é uma excelente oportunidade para descobrirmos novos grupos de pesquisa, novas formas de pesquisar, conhecer centros de excelência na área em que estamos inseridos. A vontade surgiu há muitos anos e veio sendo consolidada aos poucos. É uma possibilidade de distanciamento em relações aos nossos próprios conceitos. Ao final, espero poder agregar os novos conhecimentos que estou construindo com meu próprio percurso enquanto pesquisador.
Por que a escolha pelos Estados Unidos e pelo Institute of Design – Illinois Institute of Technology?
Celso: Existem diversas razões para esta escolha. Em primeiro lugar por ser um centro de excelência na pesquisa em design, reconhecido mundialmente. O Institute of Design foi o primeiro programa de doutorado nos EUA. Historicamente tem uma grande importância quando diversos pesquisadores vieram da Europa, principalmente Alemanha, e criaram a Nova Bauhaus. Depois, esta escola passou por muitas mudanças até ser integrada ao Illinois Institute of Technology. Em segundo lugar, as práticas de pesquisa do Institute são muito associadas a um conceito de design que trabalhamos no nosso Programa de Pós-Graduação, ou seja, o conceito de design estratégico. Ao mesmo tempo, eles possuem peculiaridades que agregam novos valores a este conceito. Conhecer estas novas práticas de design podem contribuir na consolidação do nosso PPG. Em terceiro lugar, me interessava muito ter a experiência de pesquisa em um país de cultura anglo-saxônica, já que meu doutorado eu realizei em Nancy, França. Finalmente, em quarto lugar, pela escolha do colega principal com quem estou trabalhando aqui, o professor Stan Ruecker que possui um percurso acadêmico altamente respeitável. Trabalhar ao lado desta pessoa tem sido uma das melhores coisas desta minha experiência.
Qual o tema da pesquisa de pós-doutorado que o senhor está fazendo?
Celso: O tema refere-se a uma estratégia de projeto chamada “Construção de Cenários”. Meu interesse de pesquisa sempre está ligado a processos de projeto dentro de um conceito maior chamado design estratégico. Assim, nós estamos procurando observar por meio de uma técnica chamada análise de protocolo como designers raciocinam ao construir cenários futuros de projeto. Como em qualquer pesquisa científica, alguns fatores novos surgem durante este processo. Assim, nós estamos trabalhando igualmente com outra técnica de pesquisa chamada análise de conteúdo. A convite do Stan, eu estou engajado em outra pesquisa que procura analisar e refletir sobre a gestão do conhecimento em uma grande empresa de importância mundial. Meu papel será justamente na observação da construção de cenários focados na gestão da informação.
Quais as principais descobertas que a pesquisa trouxe?
Celso: A pesquisa encontra-se ainda no meio do caminho. Mesmo assim, já está sendo possível estabelecer algumas diferenças entre formas de construção de cenários de design. Sendo a área de conhecimento do Stan compreender como as informações são trabalhadas no sentido de construir novos conhecimentos, esperamos estar dando um importante passo na construção de um método específico que facilite a construção de cenários futuros para um projeto de design. Espera-se desenvolver e testar um protótipo fundamentado nestas observações e reflexões que estamos realizando. Nos interessa entender como designers raciocinam, como estes processos são desenvolvidos coletivamente. Acredito que esta minha pesquisa faça parte de um trabalho maior com o Stan e muitos outros pesquisadores no nosso PPG e do ID-IIT.
Culturalmente, o que o país tem em comum com o Brasil e quais as principais diferenças?
Celso: Em comum, observa-se esta permanente curiosidade pela busca de novos conhecimentos. O rigor com que a pesquisa é encarada, o trabalho totalmente interdisciplinar, um dos pontos mais fortes de nosso PPG. Ainda em comum, algumas dificuldades de definição de conceitos de design, uma área ainda muito nova de pesquisa. As diferenças são muito grandes em relação ao pragmatismo norte-americano. A palavra que mais ouço aqui é protótipo. Igualmente, a pesquisa aqui é muito financiada por organizações não governamentais. Ao contrário do Brasil onde temos importantes órgãos oficiais de apoio à pesquisa (e que considero muito importantes), aqui o financiamento provém de outras fontes.
Como está sendo a experiência de residir e estudar nos Estados Unidos?
Celso: A experiência de viver em outro país é muito boa, um aprendizado para a vida. A cultura norte-americana é muito diferente da nossa. Geralmente, preserva-se muito a privacidade e as pessoas são mais formais. Ao mesmo tempo, Chicago é conhecida pela sua hospitalidade e isto eu posso confirmar este fato. A cidade é bem organizada e existem diversos museus e prédios com grande importância histórica. Em um mesmo ponto, você pode reconhecer obras dos arquitetos Frank Gehry, Renzo Piano, Mies van der Rohe, Sullivan e se caminhar um pouco, algum prédio de Frank Lloyd Wright. A cidade também é conhecida pelos seus inúmeros teatros e atrações culturais. Minha rotina durante a semana é caminhar até o Institute of Design, cerca de 20 minutos. Praticamente não uso transporte público, que, aliás, é de excelente qualidade. O inverno foi muito frio neste ano, sendo considerado o terceiro mais frio desde que começaram a realizar as medições no século XIX. Mas, isto não é um grande problema.
O que você mais gosta dos Estados Unidos e o que sente falta do Brasil?
Celso: O que mais gosto nos Estados Unidos e mais especificadamente de Chicago é viver em uma cidade organizada, onde tudo geralmente funciona, o trânsito é defensivo, os carros param nas faixas para pedestres. Existe muita pobreza, igualmente é possível perceber isto nas ruas, infelizmente.. O que mais sinto do falta do Brasil é de minha família e dos amigos. O Brasil, possui muitas qualidades que às vezes não percebemos. Nossa criatividade e afetividade são valores humanos que devemos preservar. Em aspectos acadêmicos, mesmo com muitas limitações de recursos e eventuais problemas, tenho orgulho nos nossos órgãos de apoio a pesquisa e de programas como o Ciências Sem Fronteiras. Graças a este programa milhares de estudantes estão podendo trocar experiências e o nosso PPG levará para o Brasil um importante pesquisador em design, o Stan Ruecker. Hoje eu estou trabalhando aqui com este professor, nos próximos três anos ele estará na Unisinos trabalhando com a gente. O Brasil tem muitas coisas boas.