Escavações em São José do Cerrito desvendam sítios arqueológicos

Pesquisas são realizadas pelo Instituto Anchietano há oito anos

Foto: Arquivo Pessoal

O Instituto Anchietano de Pesquisas (IAP) é referência no país, há mais de 50 anos. Coordenado pelo professor padre Pedro Ignácio Schmitz, o instituto desenvolve pesquisas nas áreas de Arqueologia, Antropologia, Biologia e História.

Anualmente, uma equipe realiza escavações arqueológicas em São José do Cerrito, nos Campos de Lages, Santa Catarina. No dia 4 de janeiro, um grupo de pesquisadores, estudantes, professores e bolsistas esteve no local para dar seguimento às escavações em casas subterrâneas, durante quatro semanas.

“É o oitavo ano trabalhando neste lugar. As casas subterrâneas são dos antepassados dos índios Xokleng, historicamente conhecidos como Botocudos, que ficaram célebres por sua resistência quando a colônia de Blumenau foi colocada bem no meio do seu território”, conta padre Ignácio.

Casas subterrâneas

Ele relata que as casas são atribuídas ao povoamento Jê Meridional ou, mais especificamente, aos grupos Kaingang e Xokleng. “Em nosso projeto fazemos sua história desde 500 anos de nossa era. Suas casas são chamadas subterrâneas porque, em vez de fazer as paredes para cima, as faziam para baixo, ficando para fora só o telhado em forma de chapéu chinês”, explica, ressaltando que as habitações chegam a ter 20 m de diâmetro e 6 m de profundidade.

O padre conta ainda que o objetivo das escavações é ampliar o conhecimento sobre o povoamento indígena antigo, buscando desvendar alguns dos mistérios que as casas subterrâneas apresentam.

“Os arqueólogos da equipe procuram realizar cortes em busca de amostras de carvão de objetos materiais como os instrumentos abandonados, os resíduos conservados de sua alimentação e, quando disponíveis, os esqueletos de seus mortos. Todos eles contêm informações importantes sobre o modo de vida da população que ali viveu”, pondera o coordenador.

Segundo ele, um aspecto importante é que através do carvão se pode datar as estruturas subterrâneas, o que possibilita compreender de forma mais plena o desenvolvimento das sociedades indígenas da região.

Foto: Arquivo Pessoal

Identidade étnica e nacional

Para a mestranda em História da Unisinos, Natália Mergen, que participa das pesquisas em São José do Cerrito desde 2009, essas descobertas arqueológicas são muito importantes para a construção da nossa identidade nacional.

“Esta pesquisa contribui tanto às populações indígenas Jê Meridionais atuais, que estão em busca de uma nova consolidação de sua identidade étnica, quanto à formação de uma identidade nacional que valorize todos os grupos que contribuíram para a formação do nosso país”, ressalta.

Ela considera que, através deste trabalho, é possível divulgar e constatar que os indígenas que hoje estão lutando por seus direitos, no campo ou na cidade, têm uma história rica, dinâmica e duradoura, que precisa ser cada vez mais conhecida e valorizada.

A mestranda relata ainda que a pesquisa é uma oportunidade tanto de contato direto com o meio acadêmico, como científico. “Essa experiência é muito importante para minha formação como professora e pesquisadora, pois a arqueologia de São José do Cerrito é o tema principal da minha Dissertação de Mestrado e procura identificar indícios de complexidade material nestes sítios arqueológicos”, sublinha.

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