Dez ensaios fotográficos de alunos graduandos em Fotografia UNISINOS, além de um ensaio da professora Rochele Zandavalli, estão pré-selecionados para um dos mais importantes festivais internacionais de Fotografia, o Paraty em Foco 2017, que está em sua 13 edição, entre os dias 13 e 17 de setembro, na cidade de Paraty/RJ. No ano de 2016, foram 04 trabalhos pré selecionados entre alunos e profes do curso de Fotografia UNISINOS. Estamos comemorando tanto a participação dos fotógrafos ao concurso, quanto – e principalmente – o alto número de fotógrafos selecionados para esta primeira fase, com resultados bastante significativos.
Os fotógrafos que tiveram seus ensaios escolhidos são: Bruna Fleck Tagliari, pré selecionada em dois ensaios, Santificados e Readaptação; Natane dos Santos, com Mnemosine; Leonardo Savaris, com Magal de Touba; Verônica Marques Martins, com Contraversão; Ursula Jahn, com Infinetesimal; Malíbia Bier, com Reminiscência; Eveline Medeiros, com Júpiter; e Samuel Rosa, com Lipstick.
Dizemos primeira fase de escolha porque já entrar nela significa muito, pois são muitos os participantes em nível nacional e internacional. Pelo regulamento do Paraty em Foco, que também seleciona, além de ensaios, fotos únicas para o evento, entre todos os pré selecionados, na próxima fase serão escolhidos dez trabalhos em cada uma das categorias (ensaios e foto única) para compor uma exposição de destaque durante o Festival. Os três primeiros colocados em cada categoria serão convidados a participar do Festival e terão todas as despesas de estadia e alimentação em Paraty pagas pela organização do evento.
Este ano, o festival traz como tema Fotografia: Documento e Ficção, e levará para Paraty diversos pensadores, pesquisadores e fotógrafos para discutir sobre o lugar da imagem fotográfica contemporânea, seus limites ou a falta deles, pois a fotografia vem se mostrando cada vez mais expandida em seus propósitos, dentro das mais variadas tendências ou lugares que ocupa. Entre os convidados estão Boris Kossoy, Pedro Karp Vasquez. Este ano o Festival homenageia o fotógrafo Flávio Damm, grande expoente do fotojornalismo brasileiro.
Acompanhe abaixo os ensaios pré selecionados ao festival:
Bruna Fleck Tagliari
“Através da ausência definitiva de alguém, é comum santificar, glorificar consagrar tal pessoa. É uma chance singular de tornar um indivíduo que antes era considerado comum em um ser perfeito e divino. A saudade e outros sentimentos envolvidos com a dor da perda, fazem com que apenas as virtudes e acontecimentos agradáveis permaneçam vivos em nossa memória, dessa forma ocorre uma descaracterização da pessoa real. Mesmo que inconscientemente, episódios, falhas, impasses são esquecidos, e assim nasce a santidade”.
“Por muitos anos detestei a presença masculina em minha vida. Bastava a presença de algum homem para que eu mudasse de comportamento contra minha vontade. Eu tinha permissão para brincar, assistir televisão, pintar, desenhar, fazer barulho, cantar e algumas vezes até andar de patins dentro de casa, mas tudo isso precisava ser interrompido no instante em que ele chegasse. Eu desejava constantemente que eles não existissem, pelo menos não dentro da minha casa nem em lugares que eu frequentasse. Dessa forma busco recontar, readaptar minha história da maneira como desejei, por muitas vezes, que ela tivesse sido”.
Natane Santos – Mnemosine
“Os antigos gregos consideravam a memória uma Deusa que concedia a imortalidade a certos homens através do registro de seus feitos, fazendo com que nunca fossem esquecidos, mesmo após a morte. O projeto “Mnemosine” surgiu a partir da perda de um ente querido e do medo frente a possibilidade de que, algum dia, as memórias que me constituem e fazem parte da minha história sejam destruídas ou danificadas.
Posteriormente a perda, senti a necessidade de registrar e tornar visível algumas de minhas memórias para assim imortalizá-las”.
Leonardo Savaris – Magal de Touba
“Magal de Touba é uma festa religiosa típica do Senegal. Na cidade de Porto Alegre/RS, centenas de imigrantes senegaleses e convidados se reúnem para homenagear o líder islâmico Cheik Ahmadou Bamba. A festa é celebrada simultaneamente em diversas partes do mundo, nos locais para onde os senegaleses emigraram. (…) Retratei alguns participantes de forma individual, com o objetivo de elevá-los a um patamar de igualdade, ressaltando a importância de cada um para a construção do coletivo, pois homens e mulheres possuem papéis distintos na organização e na participação da festa”.
Verônica Marques Martins – Contraversão
“Neste ensaio, através de uma série de autorretratos, me coloco em algumas das situações que os animais vivem todos os dias. Procurando mostrar como nossa empatia deve se estender para esses animais e como podemos nos colocar no lugar deles.
Ver um humano onde normalmente estaria um animal, nos faz parar ao menos por alguns segundos para observar o quão desumana é aquela condição que o animal vive e que passa despercebida diariamente”.
Rochele Zandavalli – Me Desculpe, Foi Apenas um Lapso
“São registros pessoais, autobiográficos, que não tiveram a pretensão de serem expostos como arte na sua origem, mas que alcançaram uma densidade que me fez repensar a sua importância e significação. A estética vernacular, bem como as falhas e as eliminações, são potencializadas no sentido de simbolizarem as imperfeições da vida e das relações afetivas. (…)Pura ironia: na tentativa de eternizar a vida, registamos a sua impermanência”.
Ursula Jahn – Infinitesimal
“Como forma de perpetuar a passagem de pessoas que ainda estão vivas e que têm ligação comigo, cataloguei pequenos vestígios e índices destas pessoas para possibilitar futuramente uma fórmula para a clonagem humana delas. Uma cópia geneticamente idêntica destes seres humanos para suprir a ausência que um dia terei deles e poder compartilhar das emoções e sensações que sentia com a presença deles.
Infinitesimal investiga a fotografia como perpetuação da espécie humana. Nasceu do meu medo da perda, do luto e de cada consequência que isso acarreta em meu íntimo. É uma tentativa de tornar eterna uma relação que por natureza é transitória”.
Malíbia Bier – Reminiscências
“Fotografia e memória. Um misto de fragmentos do real e de ações gravadas pelas pessoas presentes em nossas vidas. Guardadas no inconsciente, possuem a capacidade de reconstruir ideias, conhecimentos e impressões deixadas. Reminiscências.
Por meio de intervenções — sobrepondo pertences pessoais às imagens de pessoas queridas — busco recriar as lembranças e o ensinamento que guardo de cada um”.
Eveline Medeiros – Júpiter
“Júpiter é envolvido por uma espécie de luz espiritual que mantém relação com a essência de seus habitantes. A luz grosseira de vosso Sol não foi feita para eles. A humanidade não é a mesma; suas necessidades mudaram. Nosso globo não é atormentado como o vosso; lá, a Natureza não teve suas grandes crises; é a morada dos bem-aventurados. Sua principal ocupação é encorajar os Espíritos que habitam os mundos inferiores a perseverarem no bom caminho. Não havendo entre eles infortúnio a aliviar, vão procurá-los onde existe sofrimento; são os Espíritos bons que vos sustentam e vos atraem ao bom caminho”.
Samuel Rosa – Lipstick
“Até que ponto nos sujeitamos a realizar intervenções em nosso corpo em busca de uma beleza esteriotipada?
Diariamente somos bombardeados por imagens padronizadas do corpo humano. Seja ao ligar a TV ou folhear uma revista, as barrigas “tanquinho”, peitos siliconados e bocas By Angelina Jolie estão sempre lá. A série Lipstick busca representar estes padrões de beleza impostos/idealizados pela sociedade, ironizados através do recorte, colagem e costura de imagens de partes do corpo humano, fazendo assim, menos aos processos cirúrgicos a que muitas pessoas se submetem em busca de uma beleza muitas vezes surreal”.