Foi realizado no dia 18 de outubro, no Auditório da Biblioteca Unisinos, no campus de São Leopoldo, o encontro “Diálogos e debates sobre acessibilidade: construindo o caminho da inclusão”, em que foram discutidas possibilidades para tornar a sociedade mais inclusiva.
A realização do evento foi possível graças à Formação Docente da Universidade, pensado juntamente com a Escola Politécnica, em parceria com a Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas Portadoras de Deficiência e de Altas Habilidades no Rio Grande do Sul (Faders) e o Núcleo de Atenção ao Estudante (NAE) da Unisinos.
Seis palestrantes falaram sobre as diversas dificuldades que pessoas com deficiência passam no dia a dia, e também propuseram algumas soluções possíveis para essas situações. A mediação ficou por conta de Adriane Brill Thum, professora da Unisinos nos cursos de Arquitetura e Urbanismo, Engenharias e Gestão Ambiental, além de Biologia e Geologia. Ela faz parte também do Núcleo de Inovação, Avaliação e Formação (NIAF), com atuação na Formação Docente. Segundo ela, o tema se refere a uma responsabilidade que é de todos, apesar do baixo interesse em tratá-lo. “As leis existem, mas, na prática, elas devem eliminar barreiras e dar autonomia. Essa é uma demanda real e urgente”, pondera.
90% de boa vontade e 10% de estrutura
Marco Antônio Lang é diretor-presidente da Faders e possui uma deficiência motora. Ele contou algumas histórias que abriram o olhar do público sobre o tema, como, por exemplo, o fato das pessoas dizerem que algum ambiente é “parcialmente adaptado” para pessoas com mobilidade reduzida. De acordo com ele, esse é o caso em que se atenta para questões superficiais e não para as demandas básicas.
Marco contou que durante um evento em que necessitava dormir em um hotel, ele precisou se hospedar em uma cidade vizinha, pois a que sediava o evento simplesmente não possuía um quarto adequado para sua locomoção. “Sendo realista, na formação das leis, sempre há 90% de boa vontade e 10% de estrutura. Apenas cumprir a lei é pouco. Eu gostaria que essa noite servisse de inspiração para vocês buscarem mais conhecimento,” desabafou.
A acessibilidade está no dia a dia
Jaqueline Rosa, coordenadora de acessibilidade da Faders, trouxe a visão dos direitos fundamentais, como o de ir e vir, que, apesar de ser um direito fundamental, é muito negligenciado no caso das pessoas com deficiência. Segundo ela, a atuação da Escola Politécnica, que pensa na estrutura da cidade, é muito importante nesse sentido.
Jaqueline citou alguns passos que as pessoas podem tomar na busca de uma acessibilidade plena: além da acessibilidade programática, que é o planejamento das leis, é preciso pensar na metodológica (métodos e técnicas para eliminar barreiras), instrumental (tecnologias assistivas, como materiais escolares adaptados) e, principalmente, a comunicacional (como a presença de intérpretes de libras, por exemplo, que estavam presentes no evento), e a atitudinal (atitude de se colocar no lugar do outro).
Turismo e lazer inclusivo
Você já ouviu falar no conceito de “banho assistido”? É o que Cláudia Alfama, profissional de educação física responsável pelo Paradesporto e Rede Praia Acessível, área de atuação da Faders, proporciona. Ela aproxima, com o projeto, as pessoas que não possuem a autonomia física das pessoas sem deficiência, como ocorre no aproveitamento de um dia na praia ou na piscina. Para isso, são concedidas cadeiras especiais, com rodas grandes e material resistente à água, a várias cidades do Estado. O resultado foi um número expressivo: em 2023, 408 usuários já puderam se refrescar com o uso da “cadeira anfíbia”, como é chamada tecnicamente.
Os representantes da Faders contaram que outros projetos de acessibilidade também são feitos pela equipe de Paradesporto, como a atuação nos principais pontos turísticos de Porto Alegre. “Qual turista não quer aproveitar ao máximo a sua viagem? Quem não vai querer ir à Orla ou na Redenção com sua família? Os cartões-postais da cidade não são acessíveis”, observou Cláudia.
Você está aproveitando alguma praia gaúcha e ficou interessado em ajudar? Você pode ser voluntário em algum projeto, mesmo que por apenas um dia. Siga o Instagram @fadersinclusao para ficar por dentro e manter o contato.
A cultura surda na acessibilidade
Patrícia Rodrigues, responsável pelo setor de Eventos Técnicos e Instrutora de Libras da Faders, deu uma mini oficina de Libras. Ela, que é surda, desmistificou algumas crenças, como o fato de as pessoas acharem que ela não tem voz. Na verdade, tem sim, só não costuma usar por ela não ser completamente oralizada. “As pessoas fogem de mim, por não saberem se comunicar comigo”, revela Patrícia.
Em outros casos, surdos oralizados conseguem falar sem a necessidade de utilizarem a Língua de Sinais para se comunicarem com os ouvintes. Esse é o caso de Aisha, personagem da série Sex Education, da Netflix. O papel é interpretado por Alexandra James, surda oralizada na vida real. A Faders tem alguns materiais sobre Libras que você pode acessar aqui.
Acessibilidade arquitetônica
André Huyer, arquiteto e urbanista aposentado que trabalhou no Ministério Público (MP), trouxe uma visão mais otimista sobre o tema: apresentou algumas soluções às quais se dedicou ao longo de sua atuação no MP. Ele afirma que a acessibilidade é uma tarefa multidisciplinar. “É um conceito que deveria ser essencial para todos os arquitetos”, sublinha. Exemplo disso é a definição de “casa para toda a vida”, pensada pela arquitetura com foco no envelhecimento das pessoas, que vão desenvolvendo dificuldades de mobilidade à medida que a idade avança.
André também exibiu exemplos, como calçadas com piso tátil com cor destacada (para pessoas com dificuldade visual), praças com placas em braile indicando informações sobre plantas e árvores e banheiros químicos acessíveis. “O limão pode se tornar uma limonada, só depende da vontade e criatividade dos técnicos”, comenta.
A equipe do NAE explanou sobre a inclusão e acessibilidade na Unisinos. Segundo Ruan Carlos Sansone, integrante do Núcleo, é realizado um trabalho intenso, desde entrevistas de seleção até análise de caso a caso de alunos que necessitam de adaptações no ambiente universitário. “É importante falar sobre acessibilidade não só no mês de maio, que é o período oficial de conscientização. Ficamos felizes com a realização desse evento agora em outubro”, completou.
Vamos juntos construir um ambiente mais inclusivo, começando em nossa Universidade?