“A primeira sensação ao entrar no prédio é indescritível, um frio na barriga e um arrepio na espinha”, relata a estudante de Direito Bianka Adamatti, que passou uma semana em Auschwitz, na Polônia. O depoimento sobre o período no exterior vem carregado, não apenas por recordações, mas pelo peso da própria história da humanidade. “Ainda hoje, existem resquícios de tudo o que lá aconteceu, como uma cuba, onde foram feitas experiências com água.”
Descrito pelos adjetivos denso, escuro e amedrontador, o prédio a que se refere Bianka recebe o nome Bloco 10 e corresponde ao espaço outrora destinado a experimentos médicos nazistas. O local, geralmente inacessível ao público externo, foi aberto à visitação, entre junho e julho deste ano, para que o grupo de 20 estudantes, professores, representantes de ONGs e museólogos do curso International Summer Academy conhecesse as particularidades da Segunda Guerra Mundial.
“No campo anexo a Auschwitz, chamado de Birkenau, visitamos um barracão em que soldados da SS [Schutzstaffel, tropa de proteção do líder nazista Adolf Hitler] aplicaram injeções de fenol no coração de mães e bebês, e o local ainda cheira ao composto orgânico, mesmo depois de 70 anos.”
Bianka Adamatti, estudante de Direito
As atividades foram oferecidas pelo Centro Internacional de Educação sobre Auschwitz e Holocausto, no lugar onde, sete décadas atrás, havia um campo de concentração. A área, hoje transformada em museu, abriga vestígios de um passado nada agradável. “No campo anexo a Auschwitz, chamado de Birkenau, visitamos um barracão em que soldados da SS [Schutzstaffel, tropa de proteção do líder nazista Adolf Hitler] aplicaram injeções de fenol no coração de mães e bebês, e o local ainda cheira ao composto orgânico, mesmo depois de 70 anos”, comenta a estudante.
No departamento de restauração de peças, Bianka encontrou sapatos, toalhas, desenhos, escovas de cabelo e outros utensílios dos prisioneiros envolvidos em um dos mais devastadores conflitos entre nações já ocorridos. Fora das instalações do museu, a graduanda esteve na cidade de Cracóvia, “que possuía uma comunidade judaica bastante representativa antes do holocausto”. Na maior parte do tempo, contudo, dedicou-se a aulas de especialistas no assunto, como professores universitários de sociologia e história.
Holocausto nunca mais
Bianka estuda o holocausto há 10 anos e recomenda experiências como a que teve na Polônia. “Tudo o que um dia foi imaginado por meio das palavras lidas se torna real”, considera. A aluna, que esteve em Auschwitz pela primeira vez em janeiro de 2012, desenvolve um projeto junto ao Núcleo de Direitos Humanos da Unisinos, coordenado pelos professores Vicente Barretto e Fernanda Bragato.
Amparada pela vivência internacional, Bianka vem trabalhando na produção de artigos científicos e na preparação de palestras para crianças e adolescentes, cujo título, ela adianta, “será #holocaustonuncamais”. “Contarei minha experiência em Auschwitz e abordarei a importância da memória para que episódios extremos de racismo não voltem a acontecer, pois, em cada ato de discriminação, o holocausto ainda está presente.”
Além de material de estudo (livros, revistas, apostilas), a estudante traz para o Brasil contatos para futuras parcerias acadêmicas e profissionais, de pelo menos 11 países diferentes – Noruega, Polônia, Itália, Coreia do Sul, Dinamarca, Romênia, Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, Suécia e Israel. Traz ainda a esperança de retornar àquela nação para sempre marcada pela cólera da guerra.
“Apesar da carga de sofrimento que o local carrega, espero a próxima chance para poder voltar, pois as pessoas que lá trabalham são fantásticas, sempre com um sorriso no rosto e um cumprimento agradável.” Quem sabe assim, com o calor da acolhida, a névoa do passado torne-se apenas um frio lembrete à humanidade da história jamais a se repetir, e que mais pessoas possam, assim como Bianka, afirmar: “Só tenho a agradecer por essa oportunidade”.