Egresso do curso de Administração da Unisinos, Juliano Laran mudou-se aos Estados Unidos há doze anos para dar seguimento à vida acadêmica no curso de doutorado em Miami, na Flórida. Recentemente, foi reconhecido pela Journal of Consumer Research como um dos autores que mais publicou artigos na revista na última década, o principal periódico da área de comportamento do consumidor e marketing. Esta trata-se de uma conquista que nenhum brasileiro conseguiu até o momento.
O atual professor da Universidade de Miami iniciou carreira na Unisinos, no final da década de 90. Hoje, acumula em seu currículo cerca de 20 publicações na área. Para ele, receber tal reconhecimento deste periódico foi fantástico, e evidenciou a recompensa pelo esforço constante. “Demonstra que, na maior parte do mundo, as pessoas analisam a tua performance para avaliar o teu trabalho. Se a pessoa trabalha bastante, vai ser bem-vista e reconhecida. Isso está acima do país de sua nacionalidade. Tirando o idioma, que se pode aprender, nós não apresentamos desvantagem em como somos vistos aqui fora. Qualquer um pode obter sucesso, desde que se esforce até o seu limite para chegar lá”, esclarece.
Confira a entrevista feita com ele:
O que tu guardas da universidade? E do Brasil?
Eu guardo o companheirismo dos meus amigos, a vida que era mais leve, mais focada em se divertir e aprender. Hoje em dia, há muito mais responsabilidades além destas! Do Brasil, eu guardo a amizade que as pessoas têm umas com as outras, mesmo quando não se conhecem tão bem. E também acho que o pessoal gosta de trabalhar muito por lá. Se trabalha um monte no Brasil, apesar de, às vezes, isso não ser tão reconhecido.
Quando surgiu a oportunidade de lecionar em Miami?
Eu fiz meu doutorado na Universidade da Florida, então a Universidade de Miami viu a minha contratação como uma oportunidade de ter, no seu corpo docente, alguém que já gostava dessa parte do país e que tem raízes latinas, que é um público forte deles. Eles também estavam procurando alguém focado em pesquisa com prestígio em outros países, então foi uma situação ideal para as duas partes.
Qual o foco das tuas pesquisas sobre o comportamento do consumidor?
Eu foco em autocontrole do consumidor, ou seja, fatores que levam as pessoas a comer comidas calóricas vs. saudáveis, comprar coisas caras, ou tentar economizar o dinheiro, coisas assim.
Quais as principais conclusões a que chegaste sobre o comportamento do consumidor?
A principal conclusão é que uma grande parte dos comportamentos de um consumidor é determinada de forma inconsciente. As pessoas compram coisas sem saber exatamente o motivo pelo qual estão comprando, e o motivo é que, muitas vezes, são coisas a que foram expostas e que acabam influenciando o que elas fazem, sem ter consciência disso.
Quando surgiu a vontade de estudar o tema? E por que esse interesse?
Eu sempre gostei de Marketing e de Psicologia. Então foi a área certa, pois reúne as duas. Meu interesse começou já na Unisinos, em 1998, quando comecei a trabalhar em pesquisa com alguns professores da área de marketing.
Quais são as principais diferenças e semelhanças de moradia, ensino, pesquisas entre os dois países?
Eu identifico mais diferenças. Os alunos aqui são mais dependentes dos professores, querem que tudo seja explicado nos mínimos detalhes e só fazem as coisas que estão no papel. No Brasil, eu sempre vi os alunos como mais independentes. Um ponto muito positivo nos Estados Unidos são os recursos que eles investem em pesquisas. Professores de universidades de ponta, como a Universidade de Miami, recebem ajuda financeira significativa, além de recursos humanos para fazerem suas pesquisas. Aqui também os professores dão menos aula do que no Brasil, pois assim podem dedicar mais tempo à pesquisa. Então, de um modo geral, a pesquisa vem em primeiro lugar, e depois o restante. No Brasil, há um foco maior nos alunos, em dar aula, e depois o restante. São dois modelos diferentes, com certeza.
